Recentemente, a comunidade científica anunciou que uma combinação de dois medicamentos (que existem há muitos anos) tinha um efeito muito positivo na insuficiência cardíaca, doença que está a alastrar de uma forma preocupante, devido ao facto de as pessoas viverem cada vez mais. Até aqui nada de surpreendente. O facto mais relevante assenta em que a dita combinação actua na população negra e não na população branca.
É do conhecimento científico que certas etnias apresentam maior ou menor susceptibilidade a certas doenças. O homem interage com o seu património genético face ao ambiente em que se encontra. A interacção exprime-se no primeiro face às pressões evolutivas do segundo. Quando se afasta do seu local, ou melhor do ambiente em que foram seleccionados os genes dos seus antepassados, acaba por manifestar patologias diversas.
Esta descoberta levanta novos problemas até agora impensáveis. Ou seja, selecção de terapêuticas em função de características raciais. Assim, face ao um negro com insuficiência cardíaca, o sucesso é muito maior, com a combinação em causa, do que com um branco. Poderão dizer: e depois? O que interessa é que haja melhoras e uma maior sobrevivência.
O que está subjacente, a este fenómeno é, muito provavelmente, alguma diferença genética. Acontece que muitos genes se distribuem independentemente da cor da pele. Significa esta observação que muitas pessoas, umas mais morenas, outras até louras e de olhos azuis poderem ser portadoras de genes “africanos”, sem saberem! Se os genes em questão, não forem os que determinam a cor da pele, é muito provável que muitos brancos possam beneficiar, também, da nova terapêutica. O problema que se pode levantar diz respeito ao facto de nas indicações terapêuticas poder estar expresso a indicação racial e, neste caso, desencadear reacções negativas. Não há qualquer problema em ser portador de genes “africanos”, mesmo que contribuam com alguns riscos, em determinadas circunstâncias. Os de origem “branca”, também não são menos inócuos, em muitas outras. No nosso caso, o que não falta são genes “africanos” espalhados pelo país. Recordo-me de há muitos anos ter lido um trabalho de um historiador português no qual afirmava que não havia um único cidadão nacional que não tivesse sangue de celta, de judeu, de árabe ou de negro. À laia de gozo, também afirmou que apenas sete importantes famílias afirmavam que eram puras. Não disse quais eram. Mas, quanto à eventual “pureza” a natureza encarrega-se sempre de trocar as voltas…
A emergência de terapêuticas raciais é muito perigosa, em todos os aspectos: podem contribuir para um agravamento do racismo, além de prejudicar a saúde de muitos que, sendo “brancos e, mesmo muito branquinhos”, irão recusar uma terapêutica eficaz, já que seria uma forma de admitir antepassados do continente-berço da humanidade. Não há vergonha nenhuma, porque em última análise Adão e Eva eram negros…
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