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quarta-feira, 6 de junho de 2007

“Cremes e loções de uvas”....

O papel medicinal do vinho é conhecido desde há muito tempo.
De acordo com a lenda, o vinho foi produzido por acaso e a primeira pessoa que o bebeu, a concubina do lendário rei persa, Jamshheed, acabou por curar-se da tristeza quando pretendeu suicidar-se com o estranho liquido de um jarro onde o rei guardava as uvas que tanto gostava.
Desde então, são inúmeras as descrições acerca do seu papel benéfico com as suas fantasias e inovações.
Os recentes achados do papel protector cardiovascular dos fenóis, e do prolongamento da vida devido ao resveratrol, têm tido um eco fora do comum, muito bem aproveitado pelos industriais do sector. Mas é preciso calma, senão, ainda corremos, um dia destes, o risco de ver à venda vinhos nas farmácias ou equiparar as velhas tascas a unidades de prestação de cuidados de saúde.
Agora, surgiu mais uma. As uvas estão a ser aproveitadas para protecção cutânea através da produção de cremes e loções. Diga-se, em abono da verdade, que não é novidade esta utilização. De facto, o primeiro registo escrito do uso medicinal do vinho é proveniente do Antigo Egipto. Tem mais de 4.000 anos e foi encontrado na cidade de Nippur. Os unguentos eram misturados com vinho e utilizados nas doenças da pele. Também Homero ilustra o valor do uso local e sistémico no tratamento dos ferimentos de guerra.
Agora, a beleza vai começar a andar de braço dado com cremes de uvas. Os preços são exorbitantes, porque fazer produtos de beleza com as castas que estão na base dos vinhos mais famosos e dispendiosos do mundo é um privilégio apenas para alguns.
As razões são as mesmas utilizadas para o uso oral do vinho, ou seja, têm antioxidantes e protegem a pele da velhice. Claro que alguns já começaram de manhã a tratar da sua saúde com cremes, sabões e loções de barbear à base de uvas e continuam pelo dia fora, acabando com a ingestão de bons tintos à noite. Jovens e belos (as) à custa das uvas.
Agora que leio isto, recordo-me do tempo em que se fazia vinho em casa. Uma festa inesquecível. Toda aquela azáfama das vindimas e da produção do vinho com os seus odores e cantilenas encantavam-me. Mas o que eu gostava mais de ver era os homens em calções improvisados, em cuecas, ou calças arregaçadas a pisarem as uvas. Quando descansavam, a parte branca das coxas musculadas contrastava com o a cor de vinho das pernas mergulhadas durante horas nas dornas a qual resistia durante muito tempo a qualquer tipo de limpeza. Do mesmo modo, as mãos e as unhas das mulheres denunciavam a luta de dias de contacto com as uvas.
Aqueles homens e mulheres deveriam ter as pernas e as mãos mais belas e jovens do mundo. Mas não me parece que tenham beneficiado das “terapêuticas sazonais”, tipo termas vínicas, a que foram sujeitos durante anos a fio.
O que é certo é estarmos perante mais uma interessante área de negócio. Por isso, não fiquemos admirados se um dia destes ao comprar uma garrafita de vinho não sejamos brindados com um creme, loção ou qualquer coisa semelhante à base de uvas que esteve na confecção daquele vinho, salientando as propriedades terapêuticas de ambos...

3 comentários:

Suzana Toscano disse...

Acho que há para todos os gostos, Massano cardoso, desde as uvas aos banhos de chocolate, estamos à espera que abra um spa inovador com banhos de ...leite de burra!, a Cleópatra passava a ter concorrência!

Massano Cardoso disse...

Vai ser difícil. As burras estão em extinção…
Mas podiam criar spa de tinto. Claro que havia o risco de ficar ao fim de algum tempo transformado em spa de vinagre. Mas quem sabe senão terá virtudes terapêuticas ainda superiores ao do vinho?

Suzana Toscano disse...

"Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma!"