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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Declínio demográfico e social...

A Revista Única deste fim-de-semana publica um artigo “Portugal, um país em declínio demográfico e social”, que chama a atenção para o impacto da dimensão do desemprego jovem no fenómeno do declínio demográfico.
Para além do debate recorrente que é feito sobre o envelhecimento da população - em que sobressai a redução da natalidade e o aumento da esperança de vida - sobre a sustentabilidade da segurança social - com um cada vez maior número de reformados para um cada vez menor número de activos - ou sobre a capacidade de o sistema de saúde dar resposta ao aumento da esperança de vida, o professor Mário Leston Bandeira (professor do ISCTE que está envolvido num projecto de investigação sobre o envelhecimento em Portugal) chama a atenção para um outro fenómeno, mais recente, que é em seu entender responsável pelo declínio demográfico e social em Portugal.
Segundo o Professor, o nosso declínio demográfico tem a ver com a incapacidade de o país criar empregos e dar oportunidades aos mais jovens. “O nosso declínio demográfico é menos o problema do envelhecimento e mais o problema do desemprego. O que quer dizer que é também declínio social, devido ao elevado desemprego juvenil e à idade com que os jovens conseguem o primeiro emprego.” Com efeito, sem emprego e estabilidade, os jovens são obrigados a adiar a sua independência económica e financeira e a adiar o início de um novo ciclo de vida que passa por casar e constituir uma família. Muitos deles são forçados a construir o seu futuro fora de Portugal, levando consigo a força, a energia e a criatividade que tanta falta faz para rejuvenescermos a nossa sociedade e ganharmos competitividade para a nossa economia. Levam consigo a esperança na qual o país investiu, que outros saberão aproveitar.
Se o desemprego é um grande flagelo, a fuga de jovens para o estrangeiro é uma tragédia nacional. No imediato podemos não sentir os seus efeitos, preocupados que andamos com a crise financeira, mas no médio e longo prazo será muito duro. Ver longe tem sido um défice crónico nacional...

6 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

A Margarida tocou no ponto essencial!

Suzana Toscano disse...

Margarida, a profunda alteração demográfica não é nada que se detecte de um dia para o outro, há quantos anos se ouve falar no decréscimo de natalidade e se indicam os sinais preocupantes que o demonstravam? Há quantos anos se sabia que o número dos que nascem não assegurava, por exemplo, as pensões dos que se iriam reformar? E, no entanto, aqui estamos nós a ler o milésimo estudo que o demonstra e a chorar sobre o leite derramado. Um sinal de pobreza e atraso, como diz, a nossa especialidade é rpocurar remediar o que já aconteceu e, pelo caminho, lamentar o que nao se chegou a fazer.Mas o factoé que as políticas de longo prazo não parecem conquistar votos...

Maria disse...

Existem outros aspectos que favorecem a baixa natalidade. Considerando três balanços mensais médios de um recém-licenciado Português a recibos verdes,

Em 1995
Salário 500euros líquidos
Renda de casa: 100euros
Água, electricidade gás: 25euros
Alimentação: 150euros
Sobram: 225euros

Em 2000
Salário 500euros líquidos
Renda de casa: 300euros
Água, electricidade, gás: 25euros
Alimentação: 150euros (mesmo tipo de alimentação que em 1995, com vegetais, frutas, carne e peixe)
Sobram: 25euros, anda a pé, corta na alimentação e noutros consumos e partilha casa com amigos para poder ter mais "poupanças"

Em 2010
Salário 500euros líquidos (se tiver clientes pagantes)
Renda de casa: 300euros (Só nos bairros periféricos)
Água, electricidade gás: 40euros (grande parte vai para taxas e não para o consumo)
Alimentação: 200euros (se mantiver o carne e o peixe três vezes por semana. Poderá gastar menos tornando-se vegetariano)
Sobram? Faltam -40euros para poder suportar as despesas básicas. Não encontra amigos com quem partilhar casa porque eles estão na mesma situação ou pior. Volta para casa dos pais e tenta arranjar outros meios de sustento ou emigra.

Reparem que não incluo despesas de saúde, dentista, telefone, vestuário, calçado e todos os artigos eletrónicos sem os quais não se vive hoje. Não conheço nenhum casal da minha geração que trabalhando em Portugal com este nível salarial consiga sustentar condignamente os filhos sem a ajuda dos pais ou outros familiares, e sem cortar a fruta, a carne e/ou peixe na alimentação dos filhos.

Uma professora do 1º ciclo disse-me que a maior parte dos seus alunos (em Lisboa) come massa com molho de tomate ou sopa às refeições principais em casa, e leite com pão com manteiga nas intercalares. Isto é, os que comem em casa e que chegam à escola com o pequeno-almoço tomado.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Maria
As contas são claras. Há quem não as queira ver, mas quem delas vive conhece bem os limites que impõem.
Se nas suas contas incluir o aumento da carga fiscal e parafiscal, as dificuldades do retrato económico e social dos jovens são agravadas. É em muitos casos um retrato de pobreza e/ou privação que não permite ter uma vida normal.
O artigo faz uma abordagem interessante à questão do desenvolvimento. Segundo o professor Leston Bandeira "as melhores taxas de natalidade na Europa estão nos países mais desenvolvidos como a França e os países nórdicos. Eles deram a volta ao declínio demográfico com uma série de políticas continuadas de apoio à família, com destaque para as medidas que conciliam o trabalho com a vida familiar. Para se aumentar a natalidade de um país é preciso um grau de desenvolvimento económico e social elevado".
Por cá, com um défice crónico de economia vamos continuar a empobrecer. A ausência de políticas de apoio à família - continuadas e consistentes no tempo - agravará o declínio demográfico e social.

Adriano Volframista disse...

Cara MCAguiar
Supõem-se que os vikings na Gronelândia, morreram porque não quiseram adoptar os hábitos dos esquimós, hábitos que conheciam dado que contactavam regularmente com eles; razões culturais (especialmente religiosas) impediram essa adaptação.
Os que não imigraram, morreram de fome.
Conhecemos os hábitos dos nórdicos e de outros países onde a sustentabilidade se encontra assegurada; mas, por preconceito, por egoísmo geracional, e mais algumas explicações freudianas que não cabem neste pequeno comentário, apimentados por mais alguns ideais "fracturantes" iremos, como os vikings, morrer de fome.
O Prof Leston Bandeira não quiz expressar a conclusão mais brutal: estamos no limiar da insustentabilidade.
Como sucedeu com os avisos económicos há mais de vinte anos que este assunto é estudado, pena é que não tenha tido um "Medina Carreira" para alertar-nos.
Não se preocupe, já praticamos a eutanásia social (as mortes recentes são disso exemplo) mais cedo ou mais tarde, ir-nos-ão aplicar a eutanásia biológica.
Cumprimentos
joão

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro joao
Há muito tempo que sabemos da trajectória demográfica e que esta se tem vindo, há décadas, a consolidar. O que fizemos para a atenuar (já nem falo em contrariar)?
De facto, o declínio demográfico não teve um "avisador" de serviço. Mas não faltaram e não faltam projecções nacionais e internacionais que chamam a atenção para o que está a acontecer e para as consequências.
Quando o governo fez a "reforma" da segurança social, a questão demográfica deveria ter sido discutida e as pessoas alertadas. Mas não, o governo não tinha interesse porque se houvesse muito barulho as alterações às condições de reforma corriam o risco de não passar. Mas a verdade é que ninguém se chegou à frente para o fazer. Nem os partidos, nem a sociedade civil. Nunca houve um debate nacional sobre a demografia. É extraordinário.

Caro (c) P.A.S.
Será defeito ou feitio?

Suzana
Enquanto persistirmos neste défice, quando estamos a tentar corrigir os erros, já outros estão a caminho. Porque é que não há-de haver alternância contando a verdade? Afinal, sem verdade também há. Portanto, ficaríamos mais bem servidos se acabássemos com esta insuficiência política da miopia.