Até há pouco tempo, em união de facto na defesa de um projecto comum simbolizado num candidato presidencial comum, a esquerda da esquerda decidiu romper o enlace com a direita da esquerda e usar da máxima violência doméstica. Publicamente, e em plena sessão parlamentar. Não satisfeita, a esquerda da esquerda anunciou já o golpe fatal e decisivo para daqui a um mês.
Acontece que a esquerda da esquerda também diz que o golpe não é contra a esquerda, mesmo que da direita, mas sim contra a direita tout court, pelo que a direita da esquerda deixa de ser da esquerda e passa a ser simplesmente direita.
O que não deve agradar muito à direita, que sempre lutou contra essa esquerda que agora lhe vê impingida como direita. Para evitar confusões, lá vai a direita ser obrigada a distinguir a esquerda da direita, o centro da direita e a direita da direita.
Todavia, sempre se tem dito que a direita é capaz de alianças, ao passo que na esquerda elas são impossíveis. Pelo que, das duas uma: ou se verifica a tese, e lá teremos todas as direitas a defender a esquerda das direitas do golpe da esquerda das esquerdas, ou não não se verifica, e temos o centro da direita e a direita da direita em aliança com a esquerda das esquerdas, tudo à esquerda para derrubar um governo da direita, embora da esquerda ou, noutra versão, da esquerda, embora da direita.
Enfim, um verdadeiro beco sem saída.
Resta é saber se os protagonistas dele vão sair pela direita alta ou pela esquerda baixa.
Ou, o mais provável, se continuam todos no palco, em trágica representação.
6 comentários:
Em trágica representação, conclui muito bem, Pinho Cardão.
és muito confuso Pinho..
numa altura em que esses conceitos são rídiculos... esquerda direita !!!??
Não é hora de meter esses preconceitos no lixo?
O que interessa são as boas ideias ...não quem as apresenta.
Só porque determinada ideia vem de a ou b vai ser recusada porque vem do lado errado?? Podemo-nos dar a esse luxo ?
You can paint shit blue, but it still stinks
Se me permite, caro Dr. Pinho Cardão, filosofarei um pouco;
O mundo é constituido por diversos palcos. Nuns, representam-se comédias, noutros... dramas, noutros epopeias mais ou menos trágicas, noutros ainda... respresentam-se peças insólitas. Insólitas, na medida em que não se regem por um guião e porque os encenadores são múltiplos e por conseguinte, os actores, representam a seu bel-prazer... de improviso.
A propósito do que posta, ocorre-me um tema musical já com uns bons anos, mas que me recordo de ter sido um êxito. Interpretado por Françoise Hardy: "Toutes les garçons e les filles de mon'age".
(todos os rapazes e raparigas da minha idade, passeiam-se pelas ruas aos pares. Todos os rapazes e raparigas da minha idade, sabem bem o que é ser feliz)
http://www.youtube.com/watch?v=IOd_5ZRPmFs
Caro Pinho Cardão, realmente não deixa de ser intrigante o alarido e os rios de tinta que tem feito correr a iniciativa anunciada pelo BE de apresentação de uma moção de censura “contra todos”. Também é muito curioso que o partido que foi aliado para as presidenciais seja agora arvorado pelo PS em temível “esquerda radical”, invectivando-se o PSD a decidir sobre o seu sentido de voto sem mais delongas, tal é o perigo da ameaça e da irresponsabilidade que agora demonstra o ex-aliado. No meio de tanta gritaria, é caso para alguma perplexidade, se é a moção é contra todos, quem ganharia com isso?
Lembro-me dos jogos da bisca que costumava jogar com os meus irmãos. Quando as cartas que tinhamos na mão nos perpectivava um jogo fraco, a estratégia devia ser a de obrigar os felizes possuidores do trunfo a jogá-lo antes de tempo, “secando” a sua vantagem. Era o que se chamava atirar “palha”, cartas e naipes que não pontuavam em si mesmos, mas que obrigavam o adversário a acompanhar as jogadas até se verem obrigados a libertar, sem honra nem glória, o valioso trufo que guardavam para usar quando pudesse tirar dele todo o proveito.
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