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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Palavras que parecem esquecidas

Livro de Salmos 15(14),2-3.3-4.5.
Aquele que leva uma vida sem mancha, pratica a justiça e diz a verdade com todo o coração; aquele cuja língua não levanta calúnias e não faz mal ao seu próximo, nem causa prejuízo a ninguém; aquele que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo; aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem se deixa subornar contra o inocente. Quem assim proceder não há-de sucumbir para sempre.

O desejo de permanecer é um dos maiores impulsos que dita o comportamento. O desejo de permanecer no poder, o desejo de permanecer no coração dos que amamos, o desejo de permanecer no círculo de amigos, o desejo de permanecer enquanto parte de uma empresa ou de um ambiente de trabalho, o desejo de permanecer enquanto cidadão, membro de um clube ou de um partido. É o desejo de permanecer que nos move, que nos obriga a melhorar, a trabalhar mais, a ser atentos e generosos ou a lutar contra o que nos pode ameaçar. Permanecer significa continuar lá, estas palavras esquecidas dizem-nos que só se permanece quando se age com nobreza, quando a nossa marca é de valor e não de força ou de destruição. Pode-se possuir muita coisa, pode-se mesmo dominar e impor, mas não é isso que faz vencer a circunstância ou a passagem do tempo. Para existirmos para além de cada momento é preciso lembrar as palavras que às vezes parecem esquecidas.

13 comentários:

Bartolomeu disse...

Grande reflexão, cara Drª. Suzana.
E também, escrever cartas de amor.
Mesmo que nunca cheguem ao destinatério, ou que entretanto pareçam perdidas, empoeiradas numa qualquer caixa de cartão, na beira de um dos caminhos da vida.
Mas as palavras de amor, depois de ditas, ou escritas, permanecerão para sempre, elas, inalteráveis, com uma particularidade... ganharão força e sentido, com o passar dos anos e apoeira dos tempos.
E... são tantas as palavras de amor, quantos os destinatários...
;)

Bresson disse...

To see a world in a grain of sand,
And a heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour

William Blake

Tonibler disse...

Bonitas palavras de diagnóstico da natureza humana. Só para que não se confundam com princípios morais e religiosos a que a referência aos salmos poderia levar.

Suzana Toscano disse...

Caro Tonibler, os princípios morais e religiosos devem dirigir-se à natureza humana e procurar torná-la mais perfeita. Se o diagnóstico é bom e o incitamento também, porque não dar-lhes ouvidos? Isso não implica nenhuma profissão de fé.
Caro Bartolomeu, quem não ficaria impressionado com o belo texto do Prof. Massano Cardoso? Um hino à natureza humana, à sua maravilhosa capacidade de amar mas também à nobreza de reconhecer e respeitar os sentimentos dos outros.
Caro Bresson, que lindo poema, guardar o infinito na palma da mão, reconhecer a eternidade nos raros momentos em que o universo conflui para que se produza um momento de pura felicidade.

Mané disse...

Cara Dr.ª Susana Toscano,
A procura permanente de facto está intrínseca no próprio ser Humano.
O que seria feito do homem sem essa necessidade básica?
Neste momento o grande problema sobre a procura permanente são os diversos caminhos trilhados pelo ser humano que chocam uns com os outros. Sendo por vezes imposições da procura sobre a oferta.
Cordiais cumprimentos,

Anónimo disse...

O desejo de permanecer só é igualado pelo impulso da mudança. Em determinadas circunstâncias, irreprimivel.

jotaC disse...

Cara Dra. Suzana Toscano:
Todos os princípios que contribuam de alguma forma para a perfeição da humanidade são sempre de observar, independentemente da sua origem.
Acho que a natureza humana precisa de ser permanentemente moldada e agitada na sua consciência, no sentido de que não é a inveja, a violência, o ódio, o atropelo do vizinho que a faz melhor.
Convenhamos que é difícil conceber a sociedade sem princípios morais, éticos, e religiosos, desde que estes princípios não sejam impostos pelo medo, nas suas diversas formas...

José Soromenho-Ramos disse...

Permanecer... As pessoas, as coisas, as ideias, que permanecem, são os marcos indispensáveis em relação aos quais de mede a mudança, a evolução, a diferença. Lose the bearings of home and you become a wandering shadow...

Suzana Toscano disse...

Caro Mané, exactamente porque há muitos caminhos, e conflituantes, é que é preciso ter alguma bússola bem firme e, mesmo assim, a escolha nem sempre é óbvia. É como diz, "a pressão da procura sobre a oferta" leva a muitas confusões.
Zé Mário,o impulso da mudança é muito saudável quando não é para fugir mas para procurar, lá está o sentimento de resistir a sucumbir...
Caro jotac, não creio que seja assim tão difícil conceber uma sociedade assim,à medida que se vai cedendo aos bocadinhos, depois aos saltos gigantes, e de repente já ninguém se lembra como era antes desses princípios se terem perdido. Por isso é bom lembrá-los de vez em quando.
Caro Caged Albatross, não é fácil manter as referências,sobretudo avaliá-las, deve ser por isso que o salmo coloca a imortalidade tão fora do nosso alcance, mas a alternativa é realmente tornarmo-nos "wandering shadows".

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Caro Paulo, "permanecer" é a minha tradução de "não sucumbir para sempre" que o salmo indica.E isso é a imortalidade, no sentido religioso,ganhar o céu, se quiser. Por isso nao será um pecado mortal, como diz, não é uma questão de arrogância mas sim de esforço de perfeiçoamento moral até o conseguir. Se houver fé, talvez seja mais fácil, mas a proposta pode ser aproveitada para todos os que querem ser dignos de permanecer na memória dos outros, nos espaços que integram, etc. Pelo menos foi a minha leitura....

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

Sim, mas tambem serve como exemplo, são raros os que conseguem conquistar esse direito a "permanecer", a subsistir como exemplo mesmo depois de terem ido embora.