Assim que cheguei à Provedoria do Ambiente e da Qualidade de Vida Urbana de Coimbra, em 2006, fui confrontado com vários casos, alguns muito curiosos, como, por exemplo, a queixa de um cidadão a exigir que a Câmara Municipal de Coimbra pagasse as despesas que tinha com a lavagem da sua viatura. A história é muito simples, o senhor colocava o carro num parque de estacionamento pago, que tinha várias árvores, só que estas eram condomínios de bandos de pássaros que, naturalmente, não saíam do seu poiso para fazerem as suas necessidades. Como eram muitos, o resultado era mais do que visível, as viaturas, que ficavam sob as copas, mudavam de cor, para um branco acinzentado. Como o senhor pagava o seu lugar, achava-se no direito de alguém se responsabilizar com as despesas da lavagem. Perante esta situação, as soluções propostas foram: não colocar o carro no parque ou, então, cortar as árvores, o que seria criminoso e iria interferir com os direitos da passarada. Mesmo assim, poderia contra-argumentar com a falta de aviso da situação, facto que teria de aceitar, por isso, sugeri que deveria ser sinalizado o problema com a criação de um novo sinal de trânsito - sinal de perigo -, uma árvore cheia de pássaros a lançarem guano sobre um carro.
Tive, em tempos, a oportunidade de ler um artigo sobre novos sinais de trânsito. Alguns eram originais e muito divertidos, mas não me recordo nada semelhante ao que propus. Como os sinais de trânsito são uma forma de linguagem, e há quem se entretenha a estudar neologismos, um “ofício de caçar, colecionar e classificar palavras novas, como um entomologista caça, coleciona e classifica coleópteros”, de acordo com Agualusa, em “Milagrário Pessoal”, não me parece nada despiciendo a criação deste tipo de neologismo simbólico.
Agora ando a pensar noutro tipo de sinal de trânsito, um sinal de informação, retângulo azul vertical com pombas a defecarem sobre objetos, monumentos, viaturas, chão, e o aparecimento de espuma pela ação de água, dando a ideia de limpeza graças aos dejetos desta aves, chamadas, nalguns sítios, de “ratos voadores”.
É do conhecimento geral que a explosão de pombas, nalgumas cidades, constituem um problema para a conservação de monumentos, os quais sofrem graves consequências. Têm sido utilizadas várias estratégias para evitar a deterioração, desde dispositivos que provocam choques elétricos, redes de proteção, espículas, contraceptivos misturados com a comida, venenos, enfim, muita coisa sem grandes resultados, porque estas aves alimentam-se urbanamente com a ajuda da população. É o que faz a falta de predadores.
Agora ando a pensar noutro tipo de sinal de trânsito, um sinal de informação, retângulo azul vertical com pombas a defecarem sobre objetos, monumentos, viaturas, chão, e o aparecimento de espuma pela ação de água, dando a ideia de limpeza graças aos dejetos desta aves, chamadas, nalguns sítios, de “ratos voadores”.
É do conhecimento geral que a explosão de pombas, nalgumas cidades, constituem um problema para a conservação de monumentos, os quais sofrem graves consequências. Têm sido utilizadas várias estratégias para evitar a deterioração, desde dispositivos que provocam choques elétricos, redes de proteção, espículas, contraceptivos misturados com a comida, venenos, enfim, muita coisa sem grandes resultados, porque estas aves alimentam-se urbanamente com a ajuda da população. É o que faz a falta de predadores.
Fala-se hoje de “desígnio biológico”, um conceito decorrente das novas biotecnologias. O seguinte exemplo ilustra bem a ideia. A adição de uma bactéria especial às pombas, que “lhes faz tanto mal como os iogurtes aos seres humanos”, ou seja, nada de especial, provoca, a nível intestinal, a formação de um produto detergente, rico em lípases, com baixo pH, capaz de atacar a gordura e a sujidade. Sendo assim, ao lançarem guano sobre os monumentos, bastará uma chuvada ou usar mangueiras com água para limpar a sujidade. Há quem idealize a construção de pombais junto de habitações e quem sabe se um dia destes não aparecem, nos semáforos, romenos, ou outros, com gaiolas cheias de pombas, “intestinalmente modificadas”, a defecarem sobre as viaturas ou os para-brisas, aproveitando a sua ação detergente para os lavar. Já estou a imaginar o tal parque de estacionamento, o dos pássaros que falei no início deste texto, com um dispositivo electrónico a lançar água à saída, lavando as viaturas. Um parque de estacionamento com lavagem biológica! Presumo que o cidadão em questão não iria alanzoar mais e até ficaria feliz por ver o seu carro sujo de fezes de aves. Pois não! Teria uma lavagem à borla.
As “pombas de ouro” - designação interessante -, levantam alguns problemas não totalmente resolvidos, que extravasam o objetivo desta crónica. Espero que esta forma de modificar o fruto dos intestinos das pombas não seja considerado uma manifestação diabólica, porque, fazendo fé num ditado chileno, deverão ser os únicos animais resistentes à possessão pelo demónio. Será devido ao facto do Espírito Santo ser representado sob a forma de uma pomba?
As “pombas de ouro” - designação interessante -, levantam alguns problemas não totalmente resolvidos, que extravasam o objetivo desta crónica. Espero que esta forma de modificar o fruto dos intestinos das pombas não seja considerado uma manifestação diabólica, porque, fazendo fé num ditado chileno, deverão ser os únicos animais resistentes à possessão pelo demónio. Será devido ao facto do Espírito Santo ser representado sob a forma de uma pomba?
1 comentário:
Caro Professor Massano Cardoso:
De facto parece que o habitat privilegiado das pombas é o espaço urbano em geral, tantas são as que vejo poisadas nas saliências dos prédios, nas estátuas, nas esplanadas a cirandar à nossa volta picando tudo o que vai caindo com total desfaçatez, como a dizer que aquele espaço também lhes pertence.
Confesso que sorri imenso com o humor que irradia deste texto, principalmente na parte criativa do sinal de aviso! Apesar de evidente (depois de imaginado, claro!) que seria a forma mais conveniente de evitar reclamações dos munícipes, quem é que se ia lembrar de uma coisa assim!?
Pois eu, às vezes, no Terreiro do Paço, debaixo das arcadas, também sou vítima do tal guano (desconhecia o termo), mas nunca me ocorreu reclamar à Câmara de Lisboa o pagamento da lavandaria!. E reclamar dos pequenos dejectos das avezinhas, porquê, se levo constantemente no lombo com os dejectos do governo!? Ora, vamos deixar as pombinhas em paz…
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