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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Caso BES: um erro (ainda) evitável...

1. Estão ao rubro, desenvolvem-se em catadupa, os comentários de políticos e de habituais “opinion-makers”, orais e escritos, sobre este episódio de “Costa Concordia” financeiro: esses comentários apresentam algumas características comuns, nomeadamente serem extraordinariamente esclarecedores e oferecerem soluções óptimas embora fora do tempo útil para as aplicar...

2. Não vou por isso acrescentar o que quer que seja a esses comentários, até porque entendo que já não existe espaço para novas opiniões, o espaço opinativo encontra-se saturado: seja o que for que se diga já alguém antes disse algo exactamente igual ou muito semelhante.

3. Faço uma excepção para referir que já tive oportunidade, em público, de emitir um juízo bastante positivo à forma como o Gov do BdeP actuou neste pavoroso sinistro e, à medida que os dias passam e as informações sobre as características do sinistro se vão acumulando, só encontro razões para reforçar essa avaliação.

4. Neste breve apontamento interessa-me antes focar um ponto que reputo de grande importância prática e ao qual não me parece que esteja a ser dada a atenção devida – a cotação em bolsa dos títulos representativos da propriedade do ex-BES agora denominado “bad bank” (very bad, acrescentarei).

5. Foi anunciado o cancelamento da cotação das acções, o que com o devido respeito me parece um erro a não ser que tal cancelamento se mantenha apenas por um período transitório, necessariamente curto, para permitir organizar outra solução de mercado.

6. A cotação em bolsa dos títulos representativos do capital do “bad bank” constituiria para os muitos investidores que se encontram na triste posição de “pagarem pelo pecador” - especialmente os pequenos accionistas que nunca tiveram qualquer espécie de influência na gestão - um lenitivo, permitindo-lhes transformar em liquidez uma parte ou a totalidade do investimento que vierem a deter na nova entidade...

7. Se, por hipótese, o dito “bad bank” vier a ser transformado num Fundo de Investimento, o que talvez seja uma solução prática, então as unidades de participação nesse Fundo deveriam ser admitidas á cotação o mais rapidamente possível...

8. ...recordo que as obrigações subordinadas que foram emitidas pelo ex-BES, agora “alocadas” ao “bad-bank”, continuam cotadas em bolsa e, há 2 ou 3 dias, cotavam a 20% do seu valor nominal o que traduz uma expectativa do mercado em relação à possibilidade de recuperação dos investimentos no mesmo “bad-bank”.

9. Soluções predominantemente burocráticas e opacas, sobretudo nas actuais circunstâncias em que o mercado parece estar a digerir com muita dificuldade a solução encontrada, é tudo o que menos se recomenda...

23 comentários:

Bartolomeu disse...

A analogia da crise financeira que se está a desenrolar no nosso país (ocasionada pela fraudulenta gestão do BES e do GES), ao acidente ocorrido com o navio de cruzeiro italiano “Costa Concordia”, não está mal estabelecida. No entanto, se comparado ao naufrágio do navio inglês "Tollan", que colidiu no Tejo, numa manhã de nevoeiro, com o navio sueco "Barranduna", tendo-se o primeiro afundado no espaço de 5 minutos, parece-me que se estaria num plano comparativo mais certo. Isto porque, como se sabe, no espaço de 5 dias, também o BES se afundou, passando de um banco sólido e confiável, a um banco em vias de falência, com os acionistas e os depositantes a sair em debandada, tal e qual os ratos, quando os navios se afundam. Mas, há ainda uma outra analogia muito coincidente entre o caso "Tollan" e o caso BES/GES. É que no primeiro, uma certa carga denominada por "cápsulas", nunca chegou a ser reclamada...
Existem grandes mistérios neste mundo, os quais, suspeito, nem guardados nos segredos dos deuses se encontram...

João Pires da Cruz disse...

Nos USA ter-se-ia distribuído a carteira pelos outros bancos e encerrado tudo, com acionistas e empregados a ver navios. Aqui, em virtude de regulamentação para lá do imbecil, temos tão poucos bancos que essa solução não seria possível. A cotação de um fundo de maus activos , sendo algo completamente contrário à nossa tradição onde tudo é brsnquinho até ao dia em que se descobre a fraude, não me chocava. Mas isto parece-me mais que um simples bad bank. Isto é um "não apareças" outra vez. Tanto que os depósitos da familia for lá colocados.

Bartolomeu disse...

Essa de terem colocado os depósitos da família no "bad bank, até aos netos, também me parece uma ideia de caca.
Imagine-se que eu era filho de um Salgado mas que até me tinha incompatibilizado com o papá e tinha criado a minha própria empresa e que até tinha sucesso como empresário mas... tinha conta no banco do papá, que também era dos titios e tinha sido do vôvô. Vinham agora uns bakanos cilindrar-me o guito ad-eternum?! Neste sacana deste país não perde a atualidade o provérbio que diz: ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão!

Tiro ao Alvo disse...

Também me pareceu um exagero congelar as contas de toda a família Espírito Santo, até à última geração. Será que as contas dos filhos fora do casamento também foram congeladas?
Por mim, não aceitaria que um meu neto fosse castigado pelos meus pecados. Isso seria uma injustiça.
Não há dúvida, somos um país do "oito ou oitenta".

João Pires da Cruz disse...

Um regulador bancário deveria ser uma atividade muito simples. Tão simples que quaisquer 20 funcionários a faria( ops!)

Vejamos, a obrigação de um regulador é a proteção do sistema. Todo o sistema. O que significa que deveria garantir que cada um tivesse uma percepção própria do risco. O que é que acontece? Garante que todos têm a mesma percepção. Devia garantir que perante a falência de um os outros assumem a carteira para proteção dos depositantes. Então inventa regras complicadíssimas que parecem saídas de uma adolescente maluca que torna tao cara a atividade bancária que os bancos se fundem para aguentar e cada vez há menos bancos; quando vai tem que ser salvo. Deveria fazer com que cada um faça escolhas diversificadas na utilização do dinheiro. Então dá prêmios a quem meter o dinheiro no estado português, essa fortaleza sem risco, obrigando mesmo os bancos maos solidoa , como as caixas de crédito agrícola, a enterrar lá quase metade só activo.
Na verdade, toda a regulação bancária parece ter sido inventada pelo meu filho mais novo. Há uns anos, porque agora já tem 12 anos, não faria nada disto. Procurar lógica naquilo que o banco de Portugal faz é im exercício vão. Porque é verdade, deveria ser muito simples. Mas hoje em que os banqueiros se tornam pobres e os reguladores ricos as coisas são feitas assim. Congelando os depósitos dos netos.

Nuno Cruces disse...

A decisão de congelar as contas de pessoas fora do agregado familiar dos administradores é discutível.

Resta saber se os netos não são eles próprios donos duma parte da ESI, o que os coloca ao nível dos restantes accionistas de referência.

Quanto aos avôs indignados, podem abrir contas aos netos no Novo Banco e transferir para lá algum do dinheiro que têm nas Ilhas Caimão.

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Direi apenas que entre o Costa Concordia e o Tollan (em sentido figurado neste caso), que venha o diabo e escolha...

Caro JP Cruz,

Nos USA é tudo bem mais simples, rápido e eficiente, na resolução deste tipo de sinistros por mais calamitosos que sejam (como este tem sido).
Quando tivermos oportunidade, contar-lhes-ei um extarordinário episódio de pedido de protecção dos credores (Chapter 11)apresentado no início dos anos 90 por um dos maiores bancos de investimento americanos da altura, a Drexell Burnham Lambert, onde pontificava um guru financeiro, Michael Milken...
Para avaliar o gigantismo desse processo preventivo da falência da Drexell, posso dizer-lhe que quando o processo de chamamento dos credores á demanda, o Tribunal competente de New York teve de emitir 189.000 (!!!) notificações, para todos os continentes onde sesituavam os credores...
Pois bem, abstendo-me agora dos detalhes, que ficam para uma futura conversa à mesa de almoço, posso dizrer-lhe que ao fim de 2 anos estava tudo resolvido e os credores devidamente compensados!
E o Juiz a quem o processo foi distribuído, Pollack de seu nome, tinha no início do processo a bela idade de 84 anos!
Em Portugal e caso tivesse ocorrido na mesma altura, um processo desses ainda hoje não estaria encerrado e, eventualemnet, não haveria dinheiro para niguém...

Caro Nuno Cruces,

Verifico que tem muito boas fontes de informação...

João Pires da Cruz disse...

Temos que agendar isso...

Diogo disse...

Caro Tavares,

A enorme «crise do BES e do GES e quejandos» não passa de areia atirada aos olhos dos ingénuos. Os bancos criam dinheiro a partir do nada num teclado de computador e fazem-no desaparecer da mesma forma. Um espectáculo mediático (organizado pelo Monopólio Bancário Mundial) para esmifrar (mais) 3.900 milhões de Euros à população portuguesa.

A Banca cria dinheiro «out of thin air» que depois troca pelos bens produzidos pelas pessoas. É o parasitismo perfeito!

E, evidentemente que existe um Monopólio Bancário Mundial. De outra forma seria incompreensível que existisse um BCE que (segundo os próprios estatutos) só pode emprestar aos bancos e empresas financeiras a um juro próximo do zero e está terminantemente proibido de emprestar a Estados, Empresas e Famílias.

Donde, os BES, os BBVAs, os BCPs, etc., não passam de meros balcões de um Banco Maior. E os Ricardos, os Ulrichs e tantos outros, apenas meros gerentes de conta.

***************

http://www.publico.pt/politica/noticia/estado-nao-vai-ser-chamado-a-pagar-eventuais-prejuizos-do-novo-banco-garante-ministra-das-financas-1665758

Jornal Público:

Ministra garante injecção de 3900 milhões e afasta fantasma do BPN

07/08/2014 - 17:23

A unir a oposição no Parlamento esteve a mudança do mundo. Em 15 dias, repetiram as bancadas, o mundo da ministra e do BES alterou-se. "Foi enganada? Não sabia? Sabia e veio enganar os portugueses e os deputados?"

Nuno Cruces disse...

Não tenho qualquer tipo de informação privilegiada, mas recuso-me a acreditar que banqueiros inteligentes e abastados tenham literalmente colocado todos os seus ovos no mesmo cesto.

Acredito que estejam falidos, que venham a perder grande parte dos seus bens. Mas não acredito que não tenham algo de parte, noutro banco, noutra jurisdição.

De resto, repito, não me agrada se essa decisão afectar pessoas fora dos respectivos agregados familiares. Mas se essas pessoas forem elas próprias acionistas qualificados (directa ou indirectamente, através de holdings "familiares"), acho normal. A confusão entre família e negócios é propositada, não acidental.

Tavares Moreira disse...

Caro Nuno Cruces,

Eu não me referi a informação privilegiada, como terá reparado, mas sim a boas fontes de informação, o que é bem diferente como saberá.
Eu também tenho as minhas fontes, procuro conhecer tanto quanto possível os detalhes desta infausta situação mas também não disponho de informação privilegiada.
Quanto às suas inferências, parecem-me realistas e bem pensadas, pelo que não andarei muito longe das suas lucubrações sobre a matéria em apreço...

Pedro disse...

A pena maior...

è tão somente constatar que o facto de enquanto o BES cavàva um gigantesco buraco...nas barbas do BP e da troika...

os Portugueses andarem entretidos a "lavar os dentes com a torneira aberta" e a "comer bifes todos os dias" ...

Bartolomeu disse...

Hãnnnn??? Essa não percebi, Pedro. Qué co cu tem a ver cas calças?!

Pedro disse...

Bartlomeu,

a Jonet, a PT, o ex-BES, as elites mandantes e a alta finança portuguesa talvez possam ajudar a entender a relação entre o buraco e as calças....

Ainda assim, fica um video que pode ajudar a entender esta tragicó-comedia: https://www.youtube.com/watch?v=CIop_UooeRY

,o)

Bartolomeu disse...

Bom mas o caso do BES/GES e, a forma como os portugueses decidiam por sua livre vontade, proceder à sua higiene oral e alimentar-se, não têm a meu ver, qualquer ligação direta. Não foram os negócios do banco e do grupo que deram origem à crise que afeta o nosso país há imenso tempo. Têm sido um conjunto de situações de má gestão dos dinheiros públicos, complementadas com casos de corrupção e crimes financeiros, de endividamento das autarquias e de outros organismos públicos, com a ajuda da crise externa e mais umas quantas circunstâncias internas, como por exemplo,o aumento de impostos.

Pedro disse...

...pois, superficialmente, assim parecerá Bartolomeu...

mas cheira-me que os proximos meses e todas as revelações que se seguiram, irão demonstrar "ad nauseam" o quão interligadas com os "BES e afins" que agora implodem!

Lembro-lhe que aqui atrasado se discutia a impossibilidade de efectuar cortes de 4 mil milhoes, exigidos pela toika...

...e neste momento, só o buraco do BES é superior a esse valor!!! (com PT's e AO's pelo meio...)


Mas claro e obvio, os responsaveis pelo estado da nação, serão os putos, entre os quais a minha filha, que "lavam os dentes com torneiras abertas", pois é ?´

A hipocrisia das elites, os interesses instalados e verdadeiramente a desonestidade intelectual dos nossos "pensantes"...que por exemplo subscrevem as Jonet's e fazem venias aos DDT's desta vida...que são os maiores garantes de que isto nunca irá a lado nenhum!

é só isto...clarinho como agua!

Tavares Moreira disse...

Caros Bartolomeu e Pedro,

Oh, Lua que vais tão alta!
Redonda como um tamanco!
É por isso que ao Domingo
o comércio está fechado!

(Jorge Barreto, estudante do 1º ano de Economia, queima das fitas de 1963, Porto)

Bartolomeu disse...

Já anteriormente a 1963, se percebia que no nosso país, a Lua, ia invariavelmente alta e sempre, até aos nossos dias, redonda que nem um tamanco.
Deve ter sido por isso, ou na intenção de lhe alterar a altitude e a forma, que algumas revoluções se desenharam, culminando na de Abril de 74. Contudo, verificamos que a mesma Lua ainda atravessa os nossos céus, de alto... redonda e tamanqueira como sempre. Há coisas que por muitas gritarias e muitas revoluções que se façam, nunca se alteram. Bom Domingo, caro Dr. Tavares Moreira!!!

Bartolomeu disse...

Já anteriormente a 1963, se percebia que no nosso país, a Lua, ia invariavelmente alta e sempre, até aos nossos dias, redonda que nem um tamanco.
Deve ter sido por isso, ou na intenção de lhe alterar a altitude e a forma, que algumas revoluções se desenharam, culminando na de Abril de 74. Contudo, verificamos que a mesma Lua ainda atravessa os nossos céus, de alto... redonda e tamanqueira como sempre. Há coisas que por muitas gritarias e muitas revoluções que se façam, nunca se alteram. Bom Domingo, caro Dr. Tavares Moreira!!!

Bartolomeu disse...

Já anteriormente a 1963, se percebia que no nosso país, a Lua, ia invariavelmente alta e sempre, até aos nossos dias, redonda que nem um tamanco.
Deve ter sido por isso, ou na intenção de lhe alterar a altitude e a forma, que algumas revoluções se desenharam, culminando na de Abril de 74. Contudo, verificamos que a mesma Lua ainda atravessa os nossos céus, de alto... redonda e tamanqueira como sempre. Há coisas que por muitas gritarias e muitas revoluções que se façam, nunca se alteram. Bom Domingo, caro Dr. Tavares Moreira!!!

João Pires da Cruz disse...

Alteram. Por exemplo, imaginaria há 6 meses que o Ricardo Salgado seria expulso por uma entidade quase publica, que um primeiro ministro de Portugal recebesse um telefonema dele e o mandasse às mslvas? Maré Alta, caro Bartolomeu? Msré Alta!

Tavares Moreira disse...

Muito bem observado, caro João Pires da Cruz...
Receio bem que o nosso amigo Bartolomeu, sem prejuízo de continuar credor da nossa maior estima e consideração, ainda continue alinhado pelo meridiano 2005/2011...daí o seu absoluto cepticismo!
Alerta, Bartolomeu, alerta! E haja alguma esperança (não demasiada, que não convém...)!

Bartolomeu disse...

Pois, pois... Alerta! Mas para estar alerta, é preciso estar acordado...
https://www.youtube.com/watch?v=gtp0kdmdRAE