A Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES iniciou hoje os seus
trabalhos, ouvindo o Governador do Banco de Portugal, a primeira das 121
personalidades a ser recebida.
Ou me engano muito, ou esta Comissão vai ultrapassar em inutilidade todas
as anteriores que, salvo caso excepcional, terminaram sempre com conclusões
contraditórias, o Relatório da maioria de Governo e o Contra-Relatório, ou
equiparado, da Oposição.
Acredito que nesta vai ser pior e três Relatórios diferentes
porventura não bastarão. Porque, sob a
mesma capa e função, a do apuramento da verdade, os objectivos políticos das diferentes forças políticas são diferenciados.
Isto é, a função é derivável, de acordo com os propósitos últimos de cada um
dos partidos. E, em todos eles, a ponderação dos actos dos gestores da família Espírito
Santo constituirá apenas a segunda ou terceira derivada.
Porque para o PCP e o Bloco a função está em anatematizar e condenar mais uma vez o Sistema
financeiro, a Banca e o Governo, para o PS é responsabilizar o governo e descredibilizar o
Governador do BP, para o PSD e CDS defender o governo e o Governador.
Ou me engano muito, ou no meio da confusão das solenes proclamações que
as dezenas de encenadores partidários não dispensam para justificar as
perguntas, e das exposições, declarações,
contradições, precisões e imprecisões,
silêncios, esquecimentos ou lembranças oportunas dos 121 actores convidados,
confusão ainda multiplicada pelos
infindáveis comentários mediáticos que
se apressam a explicar-nos o que todos ouvimos no palco, ou arrisco-me a dizer
que neste circo assim montado nem se vai dar conta dos artistas principais,
ofuscados que ficamos todos com tanto brilho, tanta luz e ilusória transparência
dos encenadores e artistas secundários.
Mas, no fim, se o houver, pelo menos 3 Relatórios expressarão umas tantas medidas correctivas tão inócuas quanto a supervisão já é do BCE, e exprimirão a sua satisfação pela peça e pela performance. A festa, afinal era deles, os verdeiros donos do palco e da representação.
3 comentários:
"A forma mais rápida de ajavardar um assunto, estragar uma investigação e cobrir os funcionários do estado de uma manta de fumo onde o culpado de tudo vou ser eu." Esta podia ser a entrada de Wikipedia para "Comissão de Inquérito Paralamentar". Espera-se, porque o assunto é banca, intervenções brilhantes do representante do PS para assuntos bancários, o grande João Galamba, frases como "emprestar ao estado não é preciso dinheiro porque não há alocação de capital" serão ditas sem que os demais deputados se esbardalhem a rir no chão do respeitável parlamento. Desta forma, os nossos netos podem ler nas actas do parlamento como o país deles progrediu desde o tempo em que havia um banco de portugal anedótico, uma CMVM perfeitametne inútil e um parlamento que parecia um carrocel.
Então, "emprestar ao estado não é preciso dinheiro porque não há alocação de capital"...
Ah, grande Galamba!
Estimado António,
Concordo que é altamente improvável que desta CPI resulte um relatório subscrito, pelo menos, pelos partidos que têm governado o pais.
Também penso que as CPI servem sobretudo para exibição televisiva dos intervenientes no inquérito.
Já tenho dúvidas se, numa implícita defesa dos Espírito Santo, não se venham a juntar os argumentos do PS aos do PSD e CDS, uma vez que Ricardo Salgado nunca discriminou nenhum deles,
e há muita gente de qualquer dos lados refém dessas ligações antigas.
Por outro lado, parece-me menos pertinente, e não me movo nem nunca me movi por influências partidárias, de que seja relevante anatematizar ou condenar o sistema financeiro uma vez que o sistema financeiro se desprestigiou de forma inultrapassavelmente exuberante.
Quanto ao Banco de Portugal, o menos que se pode dizer é que o governador imitou o argumento do PGR Pinto Monteiro quando há quatro anos atrás se condiderou tão impotente como a Raínha de Inglaterra. Se era assim, por que razão se manteve no cargo? O mais inábil, mas consciente e honesto, dos condutores de camião recusa-se a seguir viagem se reconhece que os travões da viatura estão a precisar de calços.
Quanto ao vice-governador Pedro Neves, pasmei, ao ouvi-lo durante algum tempo, impreparado, inseguro, engasgado. E percebi porque é que a supervisão também falhou. Falhou porque a chefia da supervisão esteve entregue durante oito anos a uma personalidade, porventura tecnicamente altamente competente, mas pusilânime.
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