É a quinta diligência que realizo hoje. Em quatro delas (duas junto de entidades privadas), os meus interlocutores borrifaram-se para o meu nome e só quiseram saber do meu número de contribuinte.
A isto está cada vez mais reduzida a minha identidade: a um PIN.
Sou o PIN que me atribuíram.
A minha cidadania, essa sinto-a cada vez mais dependente da minha condição de contribuinte. Em quase todos os atos do meu quotidiano, vejo-me obrigado a pensar no interesse do fisco, nalguns casos mesmo antes de pensar nos meus interesses.
Já agora aproveito o desabafo para perguntar se alguém por aí me sugere um significado para o enigmático n.º 5 do art.º 35.º da Constituição que diz que "é proibida a atribuição de um número nacional único aos cidadãos".
Antecipadamente grato.
4 comentários:
Tudo começou com a criação do CU, caro Dr. José Mário, onde se concentram em letrinhas para visão de águia ou de condor, todas as PIN'adelas que identificam o cidadão. Espero que esteja para breve a utilização da tecnologia de leitura da iris... só para ter alguma coisa para onde espreitar...
Meu caro Ferreira de Almeida, se há uns tantos cidadãos, poucos, cuja obrigação declarada é pagar impostos e uns tantos (muitos, todos os restantes) cujo direito constitucional é recebê-los, e se existe um governo que os estende e até lhes dá uma coloração verde para disfarçar o vermelho do esbulho, torna-se perfeitamente natural que assim seja. É o retrato exacto do país.
Por exemplo, na Suécia, o número de referência é o da Segurança Social. Lá, o que conta é o que o Estado redistribui; cá, o que conta é o que o Estado arrecada.
José Mário
Estamos todos transformados em PIN informáticos. Quando a máquina não identifica o PIN a resposta pronta é que a máquina tem razão, ainda que esteja avariada. É assim, já me tenho confrontado com situações caricatas.
Hummm, pergunta difícil, caro Zé Mário, um dia destes se não soubermos de cor o PIN apanhamos uma multa...! Ou uma coima, como dizem as notificações quase diárias da AT.
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