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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Redondismo e Esquivacionismo, dignos sucessores do Crescimentismo?


  1. Tenho acompanhado, com particular curiosidade e alguma melancolia, o sucessivo arrear de algumas das grandes bandeiras do Crescimentismo.
  2. A famosa ideia da reestruturação da dívida pública, externa e interna – ideia revestida de especial audácia, na medida em que um assunto que deveria logicamente envolver credores e devedores seria decidido apenas pelos devedores, a seu bel-prazer, e que teve o seu apogeu aquando da divulgação do formidável Manifesto dos "74+" - recebeu ordem de recolha ao “freezer”, sine die, por parte do líder do principal partido da oposição.
  3. A promessa de repor na íntegra, em 2016, os níveis salariais da função pública, cujo “hair-cut” constituiu uma das maiores violências do Governo “ultra-liberal” ainda em funções, acaba de cair, substituída pela necessidade de repensar o assunto por parte da mesma individualidade antes citada.
  4. Parece que ainda “mexe” a ideia de baixar a taxa do IVA para a restauração, dos actuais 23% para 13%, mas a convicção com que tal ideia é apresentada começa a aparentar fragilidades, não nos devendo admirar que daqui por pouco tempo venha a ter a mesma sorte das duas situações anteriores.
  5. As gloriosas promessas do Crescimentismo vêm sendo substituídas por um Programa Económico de concepção e estrutura arredondadas, em que os objectivos de crescimento e desenvolvimento continuam a merecer primazia, obviamente, mas em que não existe detalhe programático face á necessidade de não enfrentar a evidência da inviabilidade.
  6. Assim, subjacente ao Redondismo dos objectivos, deparamos com uma subtil capacidade dos políticos quase ex-Crescimentistas para se esquivarem a apresentar medidas concretas e efectivas, o que se compreende, aliás, em presença dos enormes constrangimentos macro-económicos e financeiros a que as decisões de política económica não conseguirão fugir por muito e bom tempo…
  7. Estamos a assistir a uma curiosa metamorfose política – com que um discurso de fundo, de tons suaves,  que vai preparando o cenário para uma perfeita continuidade de políticas, mas que é acompanhado de um discurso de superfície muito ruidoso, em que a política “neo-liberal” do actual Governo continua ser zurzida como origem de todos os males…
  8. É uma operação muito inteligente, de se lhe tirar o chapéu, que tem a particular virtude de engodar quase toda a comunicação social, a qual vai aplaudindo calorosamente os “novos” valores, sem perceber (ou fingindo que não percebe) a complexa operação em curso…
  9. Vivam, pois, o Redondismo e o Esquivacionismo!

10 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Eu continuo apoiante daquele senhor dinamarques da troika para primeiro ministro e do senhor etiope para presidente da república e do senhor indiano para substituir o Joaquim. Embora, dentro do espírito que por aí corre, não se percebe o que andou a troika a fazer este tempo todo.

Bartolomeu disse...

A troika?! A curtir o belo sol, a provar o maravilhoso vinho e a excelente gastronomia portuguesa; a limpar os pés nuns quantos capachos que se puseram a jeito, a mandar uns bitaite, a exigir uns cortes de salários e pensões e a aumentar uns quantos impostos. Em suma, fizeram imenso; recuperaram a nossa economia, criaram empresas e postos de trabalho, tornaram o pais mais rico e capaz de reslover por si a di´vida externa pública, a controlar o déficit a baixo dos 0,5% e a manter o pib sempre a crescer. Em minha opinião, o governo, em sinal de agradecimento, deveria substituir a estátua equestre do Rei D. José I no Terreiro do Paço, pela dos III cavaleiros... do apocalípse. Assim, já António Costa teria um motivo que justificasse a criação de um reforço à taxa de 1€... uma taxinha de mais 0,50€ que daria acesso à Praça.

Tavares Moreira disse...

Caro Pires da Cruz,

Então em tempos de sadia recuperação das teses de nacionalismo económico, bem ilustrado no excelente Manifesto em defesa (tardia, infelizmente) da PT, e na indignação face ao avanço do capital estrangeiro, o ilustre Comentador comete a ousadia de vir propor a atribuição dos mais altos cargos da Ré-pública a não residentes?
Isso só é tolerável, por estes dias, no futebol!

Caro Bartolomeu,

Só espero que não apliquem impostos (taxas, na nomenclatura Crescimentista) nos acessos ao FUSO, ao Aqui Há Peixe, ao Dom Feijão e estabelecimentos similares...
No resto, deixe tributar à vontade, desde que fiquem salvaguardados os mais dignos valores do Redondismo e do Esquivacionismo!

João Pires da Cruz disse...

Mas eles são ocupados por não residentes, caro Tavares Moreira. A não ser que se considere residente quem paire cândido no espaço aéreo nacional.

Bartolomeu disse...

Caro Dr. Tavares Moreira, penso que os templos gastronómicos não são abrangidos. Os feiticeiros das taxas são espertos não dão azo a que o feitiço funcione a seu desfavor...

Tavares Moreira disse...

Caro Pires da Cruz,

Essa expressão de "pairar cândido no espaço aéreo", em referência a figuras do Estado, merece figurar nos compêndios das frases célebres...
Já agora espero que essas personalidades se encontrem devidamente municiadas de para-quedas, quando não ainda poderemos assistir a episódios absolutamente lamentáveis...

Caro Bartolomeu,

Já fico um pouco aliviado com esse esclarecimento, até porque já encomendei a uma cerzideira de renome a operação de cosedura dos bolsos...protegendo-me destes taxistas da 25ª Hora!

Diogo disse...

Caro Tavares Moreira,

Gostaria que desse uma resposta a este senhor:

Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:

[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]

Carlos Sério disse...

Querem forçar os pobres portugueses a acreditar que não pode haver baixa de impostos sobre o trabalho (sobre o capital haverá uma baixa, o IRC desce de 23% para 21%) porque não haverá receita capaz de substituir aquela perda de receita. No fundo o que o “establishment”, isto é “a estrutura do poder financeiro, económico, político e mediático”, nos pretende convencer é que não há alternativa à austeridade, não existe outro caminho alternativo mesmo quando se constata hoje, que as medidas de austeridade impostas redundaram num retundo falhanço. Não diminuiu a dívida pública como era suposto, não diminuiu o défice como era suposto, não diminuiu o desemprego como era suposto, não houve crescimento do PIB como era suposto. Um rotundo falhanço portanto.

Onde está afinal o tal “milagre económico” anunciado há meses pelo ministro da economia Pires de Lima?

Na verdade, ainda que alguns líderes europeus e o próprio presidente do BCE perante esta realidade se vejam forçados a reconhecer um tal falhanço, encontram-se contudo incapazes de reconhecer como errados os princípios em que se fundamentam as políticas de austeridade e que se resumem a – redução de salários, pensões (quer por aumento do horário de trabalho, mais precariedade no emprego, flexibilidade das leis laborais ou redução directa pura e simples, de salários e pensões) e cortes sociais – as chamadas “reformas estruturais”. Pelo contrário continuam a insistir na necessidade do aprofundamento destas “reformas”.

Cegos em seu credo neoliberal, não compreendem que estão mergulhados num círculo vicioso do qual são incapazes de sair. Os cortes e a redução de salários provocam a redução da Procura e assim, inevitavelmente, um menor crescimento económico, mais desemprego, menores receitas dos impostos e mais despesas do estado. E por mais benefícios que concedam às empresas (menores salários, despedimentos mais fáceis e menos impostos), nunca conseguirão um consistente e sustentável crescimento económico. O maior e mais eficaz estímulo ao crescimento económico será seguramente o aumento significativo do rendimento das famílias isto é um aumento dos salários. Precisamente o oposto às políticas que vêem sendo aplicadas.

Só um governo que rompa com a “austeridade” e que com coragem reverta pensões e salários dos cortes que sofreram, poderá inverter o ciclo em que mergulhamos e criar condições para sairmos deste círculo vicioso infernal dos cortes que provocam menos receita que por sua vez exige mais cortes e assim por diante, e colocar a economia a crescer sustentadamente.

Pedro Almeida disse...

BOLETIM ECONÓMICO DO BANCO DE PORTUGAL (OUTUBRO DE 2014):

Em maio de 2014, Portugal finalizou o Programa de Assistência Económica e Financeira. A economia portuguesa recuperou o acesso a financiamento nos mercados de dívida internacionais, para o que contribuiu o aprofundamento institucional a nível europeu, uma percepção de risco mais favorável face aos emitentes europeus, bem como os progressos alcançados na correção de algumas fragilidades estruturais que a caracterizavam. Em particular, ao longo dos últimos três anos, observou-se um assinalável esforço de consolidação orçamental, uma melhoria acentuada das contas externas - registando-se um excedente da balança corrente e de capital desde 2012 -, bem como uma desalavancagem gradual e ordenada do setor bancário, consistente com a desalavancagem do setor privado não financeiro. Desde meados de 2013, a economia portuguesa, iniciou uma recuperação económica gradual. (...) A nível setorial, continuou-se a verificar uma reafetação de recursos dos setores não transacionáveis para os transacionáveis, indispensável para a correção dos desequilíbrios macroeconómicos acumulados nas últimas décadas. Neste âmbito, destaca-se a dinâmica positiva das empresas exportadoras - tanto na indústria transformadora como nos serviços de turismo - enquanto a construção manteve a tendência estrutural de redução do valor acrescentado. Assim, no primeiro semestre de 2014, o peso das exportações no PIB ascendia a perto de 40 por cento, cerca de 10 pontos percentuais acima do registado em 2010. Esta evolução da atividade foi acompanhada de uma melhoria nas condições de financiamento das sociedades não financeiras.(...) O conjunto de indicadores do mercado de trabalho é igualmente consistente com o ritmo de recuperação económica e com a respetiva composição setorial. Estes indicadores apontam para a continuação do crescimento do emprego por conta de outrem no setor privado - para o que estarão a contribuir também as políticas ativas de emprego - e para a queda do emprego no setor das administrações públicas

Pedro Almeida disse...

Num quadro de recuperação de componentes da procura interna com elevado conteúdo importado e de desaceleração das exportações de bens e serviços, a capacidade de financiamento externo da economia no primeiro semestre, medida pelo saldo conjunto da balança corrente e de capital, ainda assim apresentou uma relativa estabilidade face ao período homólogo.

(Fim de citação).

Como se vê, só uma visão equívoca pretende fazer crer que não existiram avanços significativos ao longo de todo o processo de ajustamento. Têm existido erros? Certamente! Mas o reconhecimento dos erros não deve impedir o reconhecimento dos avanços já alcançados. Entretanto, é preciso cuidado para que as coisas não voltem para trás, isto é, para uma economia baseada no endividamento e nas importações. Já se viu no que deu esse caminho! É indispensável continuar a apostar-se no tecido empresarial português, com destaque para as pequenas e médias empresas, com especial atenção às que estão focadas nas exportações, bem como o incremento do setor do turismo. É indispensável, ainda, sem deixar de lado políticas sociais indispensáveis, a continuação da consolidação orçamental, tendo-se em atenção a obrigação de se cumprir o Tratado Orçamental. Não se cresce com endividamento, com contas desequilibradas e com balança comercial também ela desequilibrada. Cresce-se com responsabilidade económica e financeira, com contas em ordem, com esforço coletivo, com o encarar os problemas de frente, com seriedade nas contas públicas, ao invés de expedientes de disfarces dos desequilíbrios. É com essa responsabilidade e seriedade que o país pode crescer e beneficiar da confiança dos credores internacionais! António Costa deveria refletir nisso. Temo que seja um François Hollande português.