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quinta-feira, 29 de março de 2007

Turismo gastronómico...e não só!...II

No meu post de há dias, Turismo Gastronómico, referi a deliciosa posta transmontana saboreada, ao jantar, em Montalegre. O dia seguinte seria dedicado a um almoço de cabrito.
Da parte da manhã, ainda houve tempo para uma deslocação rápida à vizinha Xinzo de Limia, que nas disputas de fronteiras dos primeiros anos da nacionalidade por duas ou três vezes foi portuguesa. Perto do meio-dia, começou a deslocação para o almoço, em local surpresa. Tomámos a estrada para Braga, passámos a barragem do Alto Rabagão, guinámos para as Alturas do Barroso e começamos a desfrutar, na subida da serra, de uma paisagem estonteante sobre a barragem, que refulgia ao sol do meio-dia. No caminho, e onde menos se poderia esperar, povoações antigas que teimosamente vão perdurando, de gente tão forte como o granito que construiu as suas casas. Chegámos a Vilarinho Seco, já do outro lado da Serra do Barroso. Deve ter sido uma aldeia próspera, como o atestam as fileiras de altas casas de pedra primorosamente aparelhada e a quantidade de eiras, palheiros e canastros que serviam as colheitas. Logo à entrada, um largo e uma bela capela, e logo a seguir uma imponente casa de pedra, com uma inscrição que patenteia os seus 300 anos de idade. Foi essa casa, construída por um grande lavrador da região e onde certamente nasceram e morreram muitos dos seus filhos, netos e bisnetos, que um dos herdeiros adaptou a restaurante para almoços de grupos de fim-de-semana. Para além do rasgo empresarial, é uma meritória iniciativa que mostra que zonas tão interiores não estão condenadas a desaparecer.
A sopa de hortaliça, o cabrito assado em forno de lenha e as variadas sobremesas, do leite-creme às fatias douradas, constituíram um belo momento cultural. Com todos os géneros, o dono o assegurou, produzidos na casa!…
Depois do almoço, tempo para apreciar a bela arquitectura dos espigueiros. Uma enorme pedra cavada, junto a um deles, levou-me a interrogar uma simpática velhota de 80 anos, ali sentada numa pedra.
-Boa tarde, minha senhora!...Benza-o Deus, meu senhor!…
-Oh! Muito obrigado!... Então a senhora está rija?...Cá vou indo…o pior são as pernas… Já tenho oitenta anos, acabados a 20 de Janeiro… Rija como está, ainda vai viver muito!... Não sei, nem vale a pena pensar, a gente só vai daqui quando chegar a nossa hora!… Diga-me, minha senhora, para que é que vai servir esta pedra, assim cavada?
- Para uma salgadeira!... Para uma salgadeira?
Constatei então que, neste tempo das avançadas tecnologias, ainda há quem, nas faldas do Barroso, não prescinda de uma bela salgadeira de pedra e a prefira à melhor arca congeladora!...
Quem sabe ainda o que é uma salgadeira? Contrastante país, este nosso Portugal!...

7 comentários:

RuiVasco disse...

Pois meu caro Pinho Cardão:
Acabadinho de chegar a casa, depois um bom jantar ( ou seria ceia?), com uma lampreia de escabeche como entrada, e outra assada como prato principal,vim até aqui, enquanto quimo e quilo resolvem os seus problemas, procurando eu ajudá-los, com uma garrafita de Água das Pedras que, por acaso, também é daqueles lados do Barroso, mais para nascente, para os lados de Vidago, a caminho de Vila Pouca.
Mas o que me levou a escrever foi mesmo a saudade. A saudade das Alturas, e de Vilarinho Seco, onde paro com regularidade, por prazer visual e muito gozo de saboreio. Pois o meu amigo não referiu o homem, o pai disso tudo, que merece a nossa homenagem. O ideólogo e investidor, o gastrónomo, o ecónomo e até cozinheiro (ajudante), porque a mulher é a chefe dessa bela casa de pedra - a casa do PEDRO! O restaurante do Pedro é umas das 9 maravilhas do Mundo e uma primeiras do Barroso! Não sei bem porquê, ou talvez sim, cheira-me que o JMFAlmeida já por lá andou a saborear, ali naquela zona da carne barrosã!
E aos que por lá passarem desçam a serra na direcção do Barroso e se não forem até Vidago, podem ajudar o quimo e o quilo que no Pedro inciaram, logo ali nas belas paragens de Carvalhelhos e, tambem, terra de ricas águas! Se o cansaço fôr muito a estalagem é agradável, sossegada e de bons preços!
Belos roteiros Caro Pinho Cardão. Há mais de 25 anos que por ali vou, deliciado sempre, e cada vez mais apaixonado pelas riquezas que lá encontro! E as gentes....?!

Pinho Cardão disse...

Caro Rui Vasco:
Pois faltou o nome do "chefe", iria falar dele noutra altura...o post já ia longo...
Ainda bem que o meu amigo colmatou brilhantemente a falha!...E agradeço por ter confirmado, com a sua alta sabedoria da coisa, a minha modesta descrição!...
Terminou falando das gentes...Mas que riqueza de gente, essa com quem se fala e dá gosto falar!...O diálogo que transcrevi dá um leve cheirinho de uma linguagem diferente e sentida. Aquele "benza-o Deus" de resposta à minha saudação de boas tardes tocou-me no fundo, desabituado que estava da expressão.E levou-me a expontaneamente dizer-lhe:muito obrigado!...

BigX disse...

Caro Pinho Cardão:

Cá venho eu recorrer mais uma vez ao seu vasto conhecimento gastronómico do nosso país: É que aproveitei alguns dias de férias para vir até ao Algarve, e gostaria de, pelo menos um dia, degustar outras coisas que não fish and chips, pizza ou chinês...
Estou certo que me saberá dar boas indicações, sejam elas de peixe ou de carne...

Muito obrigado!

BigX disse...

A propósito da salgadeira, nos meus tempos de teenager , e quando ia cantar as Janeiras de porta em porta, tinhamos no nosso repertório uma letra que rezava assim:

Senhora que estais lá dentro
Ó minha rosa encarnada,
Mande a moça à salgadeira
Dê Janeira avantajada

Uma chouriça pra mim
Outra pró meu camarada
Dê-nos tinto do (???)
Ou bolo do tabuleiro

Uma peça de fumeiro
Ou da burra do dinheiro
Se lhe custa dar-nos isso,
As castanhas do caniço
(...)


Normalmente, apenas tinhamos tempo para cantar as Janeiras em 2 ou 3 casas em cada noite, tal era a simaptia das gentes, abrindo as portas das suas (muitas vezes bem humildes) casas, dos fumeiros, das salgadeiras, dos pipos e das masseiras.
Bons tempos!

Pinho Cardão disse...

Caro Zorbian:
As minhas felicitações pelas Janeiras, que também recordo com alguma nostalgia...
Quanto à paparoca algarvia, um arroz de lingueirão, que pode encontrar por exemplo, na Ilha de Faro,ou umas cataplanas sabem sempre bem, assim como uns choquinhos com tinta. Ou um peixe grelhado na brasa, em Alvor, junto à ria.O local está agora muito agradável.
Ou uns petiscos no Paixanito, em Olho de Água, Loulé. Aí, não deixe de provar o xerém, a salada de polvo ou os carapaus alimados.Tem ainda A Carruagem, junto à estação de Loulé, com um jantarinho de grão com ameijoas, por exemplo. Em Vila Real num restaurante de fraco aspecto exterior,o Lota II, havia uma comidinha de chorar por mais. Não vou lá há alguns anos e não sei como está. Em Olhão, no lugar de Belmonte de Cima,Pechão,tem O Lagar, restaurante popular de qualidade, com peixe fresco, choquinhos com tinta, cataplanas...
Se pretender abalançar-se para uma estrela Michelin, tem o Henrique Leis, à saída de Almancil, para jantar. Muito bom...e dias não são dias...
Se me disser onde está, e conhece mal a zona, talvez lhe possa dar umas sugestões...E, sobretudo, aproveite e divirta-se!...

BigX disse...

Caro Dr. Pinho Cardão:

Muito obrigado pelos seus conselhos; estou instalado perto de Olhos d'Água, e amanhã vou ver se encontro o Paixanito. De qualquer das formas, e uma vez que o tempo só me deixa ir vestido prá praia - deveras desconfortável... - irei concerteza dar um passeio até Cacela Velha, Tavira, etc.
Sei que nessa zona as cataplanas também têm fama, pelo que seria ouro sobre azul terminar a visita ao sotavento com uma bela mariscada, de preferência com vista para o mar.

Pinho Cardão disse...

Caro Zorbian: Olhe que não é Olhos de Água, mas Olho de Água,próximo de Loulé, mas em estrada para o interior.