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segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Ainda não invertemos a insustentável tendência do endividamento externo"

1. Este título é uma citação do discurso do Presidente da República, proferido ontem, em acto comemorativo de mais um aniversário da implantação da República.
É curioso como ainda se admite entre nós, ao mais alto nível, a possibilidade de travar o aumento de endividamento ao exterior…

2. Esta afirmação é particularmente interessante numa altura em que o ritmo de endividamento ao exterior se encontra em forte aceleração.
Segundo os últimos dados das contas com o exterior, referentes ao período Jan-Julho, o défice corrente com o exterior aumentou quase 40% em relação a 2007...e entrando em conta com as transferências de capital da EU, o aumento é de 34%...
Preparamo-nos este ano para um défice externo corrente da ordem de 12 a 13% do PIB, talvez o maior da nossa história recente...

3. É também muito interessante comparar estes dados com os do ano “horribilis” 2004 (S. Lopes) - classificado pelos nossos clarividentes media como “benchmark” de má governação – essa comparação dá um agravamento do endividamento ao exterior em 2008 da ordem de 150%...
E isto, note-se bem, depois de 3 anos de proclamada e não contestada “consolidação orçamental” e de uma política económica que tem sido assumida como de “rigor”…E para mais num ano em que a actividade económica se mostra praticamente estagnada…

4. Limito-me a perguntar, na minha ignorância – desculpável julgo num cidadão que é estranho ao sistema/poder e por isso não tem obrigação de conhecer todos os dados - como é possível falar-se em “…inverter a insustentável tendência de endividamento…” no contexto em que a política económica tem sido conduzida e tendo em conta que utilizamos uma moeda cujo valor externo não podemos gerir…

5 Tal afirmação, cuja bondade “teórica” não se disputa, encontra-se ferida duma impossibilidade prática e, como tal, assume a natureza de voto piedoso...
Como cidadão mal informado, é certo, estou persuadido de que a “insustentável tendência do endividamento ao exterior” vai prosseguir firmemente…até que o mercado nos aplique um “garrote” técnico, sob a forma de custos insuportáveis dos empréstimos obtidos…
Esse “garrote” está em fase embrionária, alguns dos seus efeitos começaram a fazer-se sentir…mas ainda longe do enorme “sufoco” a que nos estamos a candidatar - se não invertermos o tipo de opções económico-políticas que tem sido privilegiado e que o discurso oficial não deixa quaisquer dúvidas que vai continuar!

6. Resta acrescentar que esta passagem do discurso presidencial terá sido das menos comentadas...pudera!

2 comentários:

Ruben Correia disse...

É efectivamente o "gorilla in the room" que ninguém quer ver...Era interessante/urgente colocar esta questão na agenda política da sociedade. Pelo menos teria o condão de desmistificar certas "reduções" que têm sido tão propaladas.
Já agora, seria igualmente interessante algum dos excelentíssimos comentadores disponibilizar um post elucidando sobre os valores em causa.

Tavares Moreira disse...

Não Caro rxc, não, na agenda política nem pensar...isso seria enfrentar a crua realidade de um problema praticamente insolúvel pela actual classe política!
A nossa actual classe política é especialista em iludir os problemas, fugir às realidades difíceis...
É melhor continuar a viver na doce ilusão de que estes problemas um dia terão saída - embora não se saiba qual nem quando - e de que as telhas do Euro ainda nos darão abrigo por mais algum tempo...
Percebe agora o motivo desta passagem do discurso do Presidente não ter sido comentada por ninguém , à excepção do mal informado 4R?