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sábado, 25 de outubro de 2008

Pelo retrovisor

Distintíssimos economistas vêm repetidamente avisando para as consequências gravíssimas desta crise. Apesar do tom catastrofista, prefiro o discurso das cautelas do que a linguagem mansa dos falsos oásis. Já não entendo a ideia, que vejo sistematicamente repetida, de que o futuro é incerto porque nos últimos 20 anos os sistemas financeiros e a economia global não assistiram a qualquer convulsão grave, o que torna os decisores menos preparados para tomar as decisões que se impõem.
Não creio que esta ideia seja inteiramente rigorosa. Não duvido que a actual crise não tem paralelo em intensidade. Mas recordo-me bem dos sinais de alarme que logo no início do novo século soaram, em 2000 com a bolha de preços das empresas tecnológicas e o colapso dos mercados que originou; em 2001 com a fraude da Enron e o abalo telúrico que provocou, acumulando com o crash dos mercados financeiros logo após os acontecimentos de 11 de Setembro. Para além, em 2003, da falência da Worldcom.
A última década do século passado já não tinha sido pacífica. Em 1991, apesar de nada a aproximar da crise do mercado hipotecário deste ano, verificou-se uma terrível crise do mercado imobiliário, logo seguida em 1994 da queda das cotações das obrigações de taxa fixa. Já poucos se lembrarão, mas em 1997 a crise atingiu fortemente os mercados emergentes da Ásia, a tal ponto que levou ao colapso a moeda tailandesa. Em 1998 foi a vez do sistema financeiro russo entrar em default. E nesse mesmo ano deu-se o colapso do Hedge Fund LTCM.
Em todos estes momentos se prognosticou o fim do sistema financeiro e da economia tal como a conhecíamos. E lá foram aparecendo os saudosos das economias planificadas. Felizmente os sistemas conseguiram regenerar-se e o mundo avançou, não vencendo a pobreza, gerando outros problemas, mas tornando alguns menos pobres. Apesar das consequências já sentidas desta crise, e daquelas que não me custa a acreditar acentuarão as dificuldades em especial de países como o nosso, a observação diacrónica do comportamento da economia à escala global permite ter esperança em que a crise será superada mais tarde ou mais cedo.
Haja a inteligência para tomar as medidas certas, em especial numa Europa que tem revelado as maiores dificuldades em encontrar soluções comuns para um problema que é de todos.

4 comentários:

Suzana Toscano disse...

Partilho o seu ponto de vista, ainda hoje estive a lembrar-me de que há um ano, ou nem tanto, os bancos eram notícia por causa dos seus lucros fabulosos, da ordem dos 60% de aumento, grandes empresas nacionais triplicavam os seus proventos e há muito que se falava na crise imobiliária. Tenho dificuldade em perceber este "colapso" subito,por exemplo empresas de automóveis a anunciarem já centenas de milhares de despedimentos quando ainda há bem pouco tempo subiam em flecha os volumes de vendas no mundo.O aumento do preço do petróleo era uma terrível ameaça, agora a descida súbita já anuncia outras tantas desgraças.O que será manipulação da opinião, criação de um clima para que se passe a aceitar o que era inaceitável, ou o que será realmente verdade?

Tonibler disse...

Não são só os saudosos da economia planificada que aparecem. Por exemplo, o Durão Barroso, que deve ser mais saudoso do tempo que a defendia que propriamente da dita, ainda não se calou com a forma como todos nós precisamos dele para combater a crise.
De resto, completamente de acordo. Várias vezes disse que vivíamos momentos únicos, que não se iriam repetir, o que me fez andar de atenção redobrada a tudo o que se passava. No entanto, não é verdade. Não vivemos momentos únicos, eles vão continuar a repetir-se porque as asneiras que se fizeram das outras vezes, que bem enumera, foram exactamente aquelas que agora se preconizam. Mas se, pelo menos, o Sarkozy se calasse...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

José Mário
Excelente exercício de memória! Na verdade, o tom catastrofista que nas últimas semanas se instalou, seja pelas notícias das falências e bancas rotas, das perdas avultadas nas bolsas, do aumento das taxas de juro, das dificuldades de financiamento dos bancos, seja pela repentina imprevisibilidade sobre o futuro, parece fazer crer que nunca o mundo atravessou uma situação tão dramática.
Não partilho desta visão alarmista porque entendo, que como nas outras crises, serão encontradas soluções. No lugar da incerteza, há, sim, lições para retirar sobre as razões do colapso do (actual) sistema financeiro e certezas para cuidar sobre as repercussões graves para a economia real. Tenho esperança que destas lições e destas certezas resultem novas medidas para que no futuro não se repitam os mesmos erros e para que se atenuem os efeitos da crise económica.
Espero, mas sem certezas, que os responsáveis políticos entendam o colapso do sistema financeiro como o resultado de uma crise de valores, em que a ganância de alguns prejudicou e fez perigar o equilíbrio económico e financeiro de milhões.

Joca disse...

Talvez este excelente artigo seja claro o suficiente.


Joca