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domingo, 13 de março de 2005

Áreas Protegidas - II - O Parque Nacional da Peneda-Gerês

É a joia da coroa.
Criado por decreto-lei em 1971, constitui a única área protegida com estatuto de máxima protecção - o de parque nacional.
Neste parque ocorre tudo o que justifica a criação das áreas protegidas e a necessidade de garantir a sua permanência. As geo-formações notáveis, não somente os espinhaços ou a monumentalidade das graníticas encostas das Serras do Soajo, Amarela, do Gerês e da Peneda, mas também fenómenos como as caldas, nascentes de águas com propriedades quasi milagrosas de que os avós falavam como panaceia para tantas maleitas. A existência de raridades da flora nativa, como o hipericão-do-Gerês (tanto litro de chá bebido nas infantis crises de fígado!), o lírio-do-Gerês ou o feto-do-Gerês ou as valiosissimas manchas de carvalho-negral entre outras, igualmente valiosas, de Quercus. As matas de Palheiros/Albergaria detêm o estauto de reserva biogenética do Conselho da Europa.
A fauna, apesar de admirável, foi empobrecendo ao longo dos tempos. Por ali já existiu o urso e a cabra do Gerês, extintos, salvo erro, nos séculos XVII e XIX respectivamente. A população de corço (emblema do Parque) e de outras espécies da mesma família já conheceu outros números; e o lobo, obrigado a alimentar-se do gado e ameaçado pelas indemnizações que não são pagas aos proprietários, corre aqui o mesmo risco que noutros sítios do País e de Espanha (como se deu nota num bom trabalho publicado na última revista do Expresso). Da águia real espero que se não ouça falar, nos próximos tempos, para anunciar o seu desaparecimento do território...
Mas o Parque não vale só por isto - e já seria muito. Vale também pela humanização. Pelos testemunhos de tempos idos de como o homem foi capaz de dominar, sem destruir, a natureza. Ali se pode ver a geira romana, caminho aberto por entre as duras fragas no vale do Homem, para além de um sem número de momumentos medievos.
São 70.000 hectares de deslumbramento nos concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Bouro e Montalegre.
E os cheiros da Primavera são inolvidáveis!


3 comentários:

sandra costa disse...

Estou a vingar-me mais uma vez, a olhar esta Geira Romana e os seus marcos delidos.
Estou a vingar-me de quantos Césares o mundo tem dado, convencidos de que basta mandar fazer calçadas e pontes, gravar numa coluna a era e o nome, para que a eternidade fique por conta deles.
Miguel Torga, Diário IV

De certeza que Torga tem um poema sobre a Peneda-Gerês mas, neste momento, não posso procurá-lo. Deixo tão-só, por partilha, estas suas palavras que encontrei «mais à mão», agradecendo. E esperando a vez do Douro Internacional. Ainda lá não fui. :(

Afonso Henriques disse...

Temo bem que a pressão que tem sido exercida para acabar com a REN e a RAN, atribuindo a sua gestão às autarquias tenha os seus primeiros resultados ainda este ano.
Infelizmente, o que resta da "Coroa" está em vias de se despedaçar: parques naturais, reservas ecológicas, rios, florestas, até a "Real" Companhia das Lezírias está em vias de ser entregue à especulação imobiliária.
É a conclusão, inevitável, da depredação republicana.

Anónimo disse...

Meu caro Afonso Henriques, não partilho desse pessimismo nem quanto`ao futuro das áreas protegidas nem quanto à REN. Esta última tem sido a "vaca sagrada" do pseudo-ambientalismo e a permanente agitação do fantasma da sua revisão tem servido afinal para manter o status quo, nada favorável à protecção dos verdadeiros valores ambientais. Poderia dar-lhe muitos exemplos de como o actual modelo é a todos os títulos pernicioso. Como é uma falsa questão a ideia de que se está a meter a raposa no galinheiro entregando a gestão da REN aos municípios. Sabe o meu Amigo que os municípios detêm e sempre detiveram o poder real de reconfigurar os limites da REN? E que não há mês que ou por via do reconhecimento do interesse público de empreendimentos e actividades se pode, por simples acto administrativo, ocupar o que por lei não deve ser objecto de ocupação? Pois é. Tudo isto se passa a coberto da lei actual.
Custa-me a perceber porque se defende um modelo verdeiramente irracional tanto no que proibe como no que consente.
Olhe que quase de certeza que o seu Castelo de Guimarães está em cima de solo de REN...