Que os sindicatos queiram contestar as medidas do Governo e defender os direitos adquiridos dos professores, ninguém lhes poderá levar a mal. Que o tenham feito escolhendo como alvo os exames e os mais de 100 mil alunos que os vão realizar, parece-me eticamente reprovável. O problema é que os sindicatos também não gostam dos exames, sempre estiveram contra a sua realização porque contrariam o modelo educativo que sempre defenderam.
Neste aspecto, a actual greve não é pela defesa dos interesses dos professores, é, antes de mais, contra os exames. Assim, a contabilização do sucesso ou insucesso da greve vai ser feita pelo número de alunos que fizeram exames e o dos que não fizeram, mesmo que todos os outros professores e educadores tenham feito greve.
Mas há um outro propósito nesta greve: acumular capital de queixa para o que vem a seguir, ou seja, a negociação das alterações ao estatuto da carreira docente. A polémica em torno da legitimidade dos serviços mínimos alimenta esse capital de queixa e potencia o descontentamento dos professores (que se veem obrigados a ficar fechados numa sala, em cada escola, à espera de poderem ser chamados para qualquer serviço de exames). Nesta matéria por cada dez juristas a favor das medidas do Governo arranjam-se facilmente dez contra, qualquer deles com interpretações atendíveis.
Seria bom que o Governo não se iludisse com a presença "esmagadora" dos professores aos exames. A "esmagadora" maioria tem revelado sentido de responsabilidade e brio profissional, mas isso não ilude o descontentamento crescente que se está a gerar. Acima de tudo, não gostam de ser o alvo privilegiado das políticas de saneamento da despesa pública, como se fossem os únicos beneficiados.
2 comentários:
Concordo plenamente com que escreveu, o que até é raro.
Os sindicatos estão a ir por um mau caminho.
No entanto, o Ministério da Educação e o Governo não vão por caminho melhor.
Será um caminho para a qualidade ou para a mediocridade?
Alguém se preocupa com isso?
Gostei do que aqui li e que releva a faceta de político corajoso e inteligente que lhe reconheço. Mas o último parágrafo, senhor professor, não está ao seu nível, porque o senhor bem sabe que não é verdade que sejam os professores "o alvo privilegiado das políticas de saneamento da despesa pública"!
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