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INE acaba de divulgar os valores das contas nacionais relativos ao 1.º trimestre de 2005. O cenário sombrio que já havíamos esboçado
aqui parece confirmar-se: desaceleração do crescimento económico, quebra na procura interna e estagnação da procura externa. Não me surpreendem os sinais de uma nova fase recessiva, agora agravada pelo aumento dos impostos e pela quebra de confiança dos consumidores. Não quero ser ave agoirenta, mas os dados são ineludíveis. Depois não venham dizer que foi por causa do "discurso da tanga": desta vez não há tanga e os efeitos poderão ser piores.
1 comentário:
Com o devido respeito parece-me que a análise dos dados do INE é um tanto simplista (e a conclusão pouco clara).
É indiscutível que há uma retracção do consumo privado. Mas se é verdade que esta retracção tem efeitos negativos na actividade económica interna, é igualmente indiscutível que o aumento do consumo privado tem um impacto asolutamente desastroso na importação de bens de consumo. E é impossível sustentar eternamente o permanente défice da balança de pagamentos sem o compensar com o afluxo de outras receitas (no passado eram as remessas dos emigrantes).
Por outro lado as exportações dependem entre outros factores da competitividade da oferta nacional de bens e serviços, num contexto cada vez mais competitivo. Sendo inegável a influência dos custos de contexto (ou seja duma forma simplista a ineficiência do Estado), a principal dificuldade da economia portuguesa está na incapacidade em adaptar a oferta ao que os mercados internacionais procuram, tendo em consideração o que os concorrentes podem oferecer. E neste domínio a iniciativa privada não tem mostrado particular dinamismo (havendo naturalmente excepções).
Uma nota para referir que a acção política da Dra. Ferreira Leite foi sem dúvida corajosa e em muitos aspectos orientada no bom sentido. Porém muitas das medidas tomadas não foram suficientemente ao fundo das causas, quer por falta de análise dos sintomas, insificiente elaboração duma terapêutica adequada e sobretudo uma evidente falta de capacidade para a aplicaçar de forma coerente e continuada.
Só assim se compreende que apesar das medidas empregues, 3 anos mais tarde, subsistam (agravados) muitos dos problemas iniciais.
Um pouco como as pessoas que sofrendo de obesidade, após uma dieta drástica, retomam em pouco tempo o peso anterior (ultrapassando-o mesmo na maior parte dos casos).
Todavia o discurso de passa-culpas só serve mesmo objectivos mesquinhos de vitórias partidárias no curto prazo. É indispensável repensar os objectivos económicos de Portugal, numa discussão que abrange não só políticas públicas mas também os actores económicos privados. É que sendo certo que Portugal apresenta uma importante concentração e riqueza, mas os grandes grupos económicos estão insificientemente presentes nos sectores mais claramente orientados para a exportação. A sua concentração em sectores que vivem do consumo interno tem em muitos casos redundado numa situação de rent-seeking (que agrava os custos de contexto). É uma atitude "racional" na óptica dos seus interesses mas que está longe de se traduzir em benefícios para a comunidade.
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