No dia 12 do corrente, nas instalações da Reuters em Londres, Tony Blair lançou um violento ataque ao comportamento dos “media” ingleses, comparando-os a “animais ferozes” e acusando-os de serem actualmente grande obstáculo à tomada “de medidas correctas para o País”.
Estas declarações são surpreendentes, pois provêm de uma pessoa que, ao longo de 10 anos, cultivou uma relação de grande proximidade com os “media” e que deveu a sua ascensão política, em boa parte, à perícia com que geriu as relações com os mesmos “media”.
Quem tenha visto o filme “A Rainha” terá reparado na destreza com que Blair, então no início da sua carreira de 1º Ministro, jogava com os “media”.
É visível a mágoa de Blair por deixar o poder, nas infelizes circunstâncias em que essa saída ocorre, traído por “amigos” e companheiros de partido – tem-se multiplicado em iniciativas e declarações que claramente atestam essa mágoa.
Mas nem isso torna esta declaração menos surpreendente.
Há uma passagem de sinceridade nesta sua duríssima intervenção: quando ele próprio reconhece a responsabilidade do New Labour na situação actual, por “cortejar” e “bajular" excessivamente os jornalistas nos primeiros tempos da sua governação.
Ao ler a notícia desta declaração de Blair, recordei-me de um dos factos que me impressionou mais negativamente durante os três anos em que exerci actividade parlamentar (2002-2004): precisamente a permanente bajulação a que muitos Deputados – com clara “vantagem” para os do PS neste domínio – se entregavam na sua relação com os jornalistas que trabalham na A.R.
Era vê-los num corridinho permanente à volta dos jornalistas, com ou sem abraços, fazendo por vezes as mais incríveis piruetas para captar a atenção dos profissionais da imprensa.
Aquele espectáculo deixava-me perplexo, interrogando-me se aqueles agentes políticos não tinham a noção de que o tipo de comportamento adoptado conduz inevitavelmente à perda total de respeito pelos próprios políticos, tornando a sua actividade muito mais vulnerável às críticas dos tais “animais ferozes”.
Blair percebeu agora isso, mas muito tarde para ele…
3 comentários:
Duvido que venha a servir de lição...
Talvez Sócrates faça o mesmo daqui a 6 anos, quando as câmaras estiverem viradas para António Costa. Isto é, se o António Costa não mostrar o que realmente vale.
Triste Cãmara de LIsboa...
Olhe que não, olhe que não...Esse comportamento simbiótico entre as duas espécies que assistia na Assembleia da República leva a que, por exemplo, se faça um silêncio tumular sobre as gritantes irregularidades que a Judiciária encontrou no financiamento do CDS. Se alguém chama "deserto" à margem sul é um caso nacional mas perante os indícios (quase provas) de corrupção a nível nacional...nada!
Afinal, também os crocodilos deixam que algumas aves andem dentro da boca deles para lhes limpar os dentes...
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