Quantas e quantas vezes nos revoltamos com o que nos acontece? Quem nunca sofreu o desânimo perante a injustiça ou o fracasso, apesar da dedicação e do empenho? Às vezes parece que quanto menos as pessoas se esforçam mais lhes vem parar às mãos e que, quanto mais procuram e tentam, muitas vezes abdicando do impulso egoísta, mais lhe foge o sossego ou a felicidade por entre os dedos…
O sentimento de injustiça, ou de impotência, vem quase sempre acompanhado daquela revolta surda contra alguém, que devia estar a olhar por nós, a zelar por vermos confirmado o caminho que escolhemos, e mais apetece é virar as costas e passar a ser meio selvagem, a dar largas ao egoísmo e à insensatez. Lembramo-nos do "carpe diem", do "mais vale um a mão que dois a voar", ou de mil outras sentenças que convidam a desistir de olhar mais longe e mais incerto.
Ofereceram-me há dias um livro que guardei para ler com tempo, e que hoje resolvi folhear mas que acabei por ler quase de uma vez. Trata-se da “A Palavra no Tempo II”, que são as homilias do Padre João Resina, feitas entre 2001/2004, na Igreja da Cruz Quebrada.
Sobre este tema, aqui fica a reflexão do autor:
“(…)É absurdo supor que todo o sofrimento é castigo do pecado. Há justos que sofrem muito, e há grandes pecadores a quem tudo corre bem. Porque é que Deus permite isto? Não sabemos, porque Ele nunca o revelou e é temerário querer adivinhar os seus desígnios. Uma coisa é certa: o homem verdadeiramente grande é aquele que mantém a rectidão, tanto no triunfo como na derrota, na felicidade como na infelicidade, na plenitude como no sofrimento. Esse homem não pergunta por que é que lhe acontece o mal ou o bem, sabe que dá glória a Deus se seguir, sempre a direito, o seu caminho. (…) Qual a origem do mal, Jesus não achou importante explicar. (…) Mas que saibam que o mal não pode ser vencido pelo ódio nem pela força, só pode ser vencido pelo amor.” (Homilia do 27º Domingo do Tempo Comum).
Estas homilias têm a força de quem se interroga e de quem acredita, num exercício inteligente de exigência permanente, feito com a simplicidade de quem quer ser entendido.
Ofereceram-me há dias um livro que guardei para ler com tempo, e que hoje resolvi folhear mas que acabei por ler quase de uma vez. Trata-se da “A Palavra no Tempo II”, que são as homilias do Padre João Resina, feitas entre 2001/2004, na Igreja da Cruz Quebrada.
Sobre este tema, aqui fica a reflexão do autor:
“(…)É absurdo supor que todo o sofrimento é castigo do pecado. Há justos que sofrem muito, e há grandes pecadores a quem tudo corre bem. Porque é que Deus permite isto? Não sabemos, porque Ele nunca o revelou e é temerário querer adivinhar os seus desígnios. Uma coisa é certa: o homem verdadeiramente grande é aquele que mantém a rectidão, tanto no triunfo como na derrota, na felicidade como na infelicidade, na plenitude como no sofrimento. Esse homem não pergunta por que é que lhe acontece o mal ou o bem, sabe que dá glória a Deus se seguir, sempre a direito, o seu caminho. (…) Qual a origem do mal, Jesus não achou importante explicar. (…) Mas que saibam que o mal não pode ser vencido pelo ódio nem pela força, só pode ser vencido pelo amor.” (Homilia do 27º Domingo do Tempo Comum).
Estas homilias têm a força de quem se interroga e de quem acredita, num exercício inteligente de exigência permanente, feito com a simplicidade de quem quer ser entendido.
Um livro diferente, perturbador e ao mesmo tempo apaziguador, a não perder.
4 comentários:
Penso cara Suzana, que não existe efeito sem causa. Daí, será provávelmente a busca da causa, por vezes, sem conclusão, que nos faz desesperar, quando nos encontramos impotentes perante determinados acasos. Acho que todos nascemos com uma característica... desmistificar o impossível. Essa característica impele-nos sempre mais alem, e como desde nascença, agimos por comparação e reflexo, reunem-se sem que sejamos conscientes disso, várias condições e condicionantes para que, por um lado se busque a excelência, por outro nos martirizemos por a não conseguirmos alcançar. Também concordo com a sua afirmação conclusiva, também concordo que é necessário um espírito corajoso, que se interrogue, que exerça o exercíio da exigência permanente.
Como dizia Pacheco Pereira, o conhecimento atinge-se atraves da experiÊncia e da interrogação constante.
Caminhemos então, mantendo os olhos, o espírito e o coração abertos.
Belos pensamentos, cara Suzana, que nos interpelam duramente e que terão conduzido Dostoievsky, entre outros, numa busca incessante de Deus atravès da tragédia humana.
A vida humana, sem Deus e sem uma visão escatológica é mesmo uma tragédia.
Não faz sentido, não há justiça nem injustiça, nem há mal nem bem, tudo é indiferente e relativo.
Sem Deus, o assassino cruel e a sua vítima indefesa e sofredora, colocam-se no mesmo plano - quantas vezes o assassino cruel é abundantemente recompensado pelos homens e a vítima vilipendiada?
Por mim, de há muito que prossigo essa busca, enquanto vou prestando + e + valor ao lema "Sic transit gloria mundi".
Suzana
É bom pararmos um bocadinho para ouvirmos e sentirmos palavras tão cheias de luz e de esperança como as do Padre João Resina.
A vida não faz sentido sem Deus, no sofrimento e na alegria. No sofrimento como na alegria só a pessoa e Deus partilham a verdade da dimensão dos sentimentos. Esta partilha é uma força muito reconfortante para avançar. No sofrimento porque há uma possibilidade de compreensão e na alegria porque há uma possibilidade de agradecimento. Nada acontece por acaso. A esperança tão necessária para dar sentido à vida encontra o seu alimento em Deus.
Acredito que o bem é muito mais forte que o mal, apesar da maldade que grassa na humanidade. É a certeza da existência do bem que nos faz crescer na vida.
No sofrimento como na alegria se agirmos com "rectidão" fazemos o bem. O importante é mesmo estarmos bem com a vida.
Concordo, caro Bartolomeu, é essa tensão permanente entre a busca da perfeição e constatação das insuficiências que permite um aperfeiçoamento contante ou, pelo menos, evita a degradação. Acho que era Nietzche que dizia que a vida é uma ponte muito estreita sobre um rio: não se pode voltar para trás, não se pode parar e, se se olhar para baixo corre-se o risco de cair no abismo. Era mais ou menos isto, cito conforme me lembro.
Caros Margarida e Tavares Moreira,o difícil é manter essa força e essa determinação quando a Fé não existe, ou está silenciosa. Estas homilias são especialmente fortes porque não excluem os que deixaram de invocar Deus, embora O incluam sempre nos textos. Qualquer pessoa, de qualquer religião, ou sem ela, encontra aqui um acolhimento simples, tolerante, profundamente humano. E tão exigente para quem acredita como para quem vive espiritualmente mais só...
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