Num notável artigo publicado hoje no Público, Helena Matos caracteriza o estado de coisas actual como a moda dos “Estético-daí”, num impiedoso retrato de como se chegou ao domínio do tudo é possível. Há poucos anos, os jovens tinham aquele tique de começar as frases com “é assim:”, como se o que se seguisse não admitisse réplica, e essa moda descambou completamente para o afinal-não-era-e-daí? Tudo numa boa.
Não sei em que momento da história recente é que o sonho da felicidade individual ao alcance de todos, obtido através de sociedades justas, solidárias e livres, deu lugar a esta pasta informe em que tudo é possível a cada momento, para logo se tornar odioso no momento seguinte, para depois ser de novo glorificado… Pelo caminho que caiam os que não se adaptam, que se calem os que não aceitem, que se iludam os que não entendem. O que é mais incrível é que quanto menor é a convicção mais alto se grita, trucidando os que ousam balbuciar alguma dúvida, criando um ruído tal que esmorece a coragem de afrontar, e assim se vai aceitando com um encolher de ombros, ao princípio envergonhados, depois mais ligeiros, por fim sem qualquer emoção, apenas um vazio de sentimentos e de esperança. Confunde-se hoje muito vagamente o que é um engano legítimo ou o que foi uma mentira tentada e falhada e aceitam-se desculpas pelas duas tal como se aceita que não haja desculpas a dar. Tanto faz. As desculpas também não importam, logo virão outras, e outras, já ninguém se lembra a que se devem porque também não se levam a sério as afirmações. As palavras até parecem as mesmas, tolerância, verdade, justiça, respeito, mas depois levanta-se uma pontinha e o que elas revelam é imposição insidiosa, mentiras flutuantes, arbitrariedade, insolência, tudo muito bem embrulhado em oratórias ocas e confusas. Chamam-lhe relativismo mas eu acho que é por caridade, ou por uma réstea de vergonha de se lhe chamar simplesmente falsidade, porque não se trata de procurar entender os pontos de vista dos outros para se progredir nas opiniões, o que se trata mesmo é de destruir o que quer que seja que pudesse ter algum crédito e gerar confiança e exigência. Num mundo de “ e daís” todos podem tentar a sua sorte, o pior é que também ninguém espera coisa nenhuma de quem ganha.
Não sei em que momento da história recente é que o sonho da felicidade individual ao alcance de todos, obtido através de sociedades justas, solidárias e livres, deu lugar a esta pasta informe em que tudo é possível a cada momento, para logo se tornar odioso no momento seguinte, para depois ser de novo glorificado… Pelo caminho que caiam os que não se adaptam, que se calem os que não aceitem, que se iludam os que não entendem. O que é mais incrível é que quanto menor é a convicção mais alto se grita, trucidando os que ousam balbuciar alguma dúvida, criando um ruído tal que esmorece a coragem de afrontar, e assim se vai aceitando com um encolher de ombros, ao princípio envergonhados, depois mais ligeiros, por fim sem qualquer emoção, apenas um vazio de sentimentos e de esperança. Confunde-se hoje muito vagamente o que é um engano legítimo ou o que foi uma mentira tentada e falhada e aceitam-se desculpas pelas duas tal como se aceita que não haja desculpas a dar. Tanto faz. As desculpas também não importam, logo virão outras, e outras, já ninguém se lembra a que se devem porque também não se levam a sério as afirmações. As palavras até parecem as mesmas, tolerância, verdade, justiça, respeito, mas depois levanta-se uma pontinha e o que elas revelam é imposição insidiosa, mentiras flutuantes, arbitrariedade, insolência, tudo muito bem embrulhado em oratórias ocas e confusas. Chamam-lhe relativismo mas eu acho que é por caridade, ou por uma réstea de vergonha de se lhe chamar simplesmente falsidade, porque não se trata de procurar entender os pontos de vista dos outros para se progredir nas opiniões, o que se trata mesmo é de destruir o que quer que seja que pudesse ter algum crédito e gerar confiança e exigência. Num mundo de “ e daís” todos podem tentar a sua sorte, o pior é que também ninguém espera coisa nenhuma de quem ganha.
Diz o povo que quem não tem vergonha todo o mundo é seu e é bem verdade. E daí?
4 comentários:
Mentir, enganar e manipular são talentos naturais para o psicopata. Quando é demonstrado o seu embuste, não se embaraça; simplesmente muda a sua história ou distorce os factos para que se encaixem de novo.
A característica do psicopata é não demonstrar remorso algum, nem vergonha, quando elabora uma situação que ao resto dos mortais causaria espanto.
Trechos de “O psicopata — Um camaleão na sociedade actual” de Vicente Garrido
Cara Suzana Toscano, e como é possivel nos tempos actuais, tempos em que vivemos o resultado de duas ou três décadas de relativismo, em que tudo deixou de ser absoluto e tudo passou a ser questionavel, como é possivel, sobretudo aos jovens, saber distinguir primeiro que tudo o certo do errado enquanto valores absolutos? Só após a consciência do que é certo e do que é errado se pode ter consciência de que o que é verdade é verdade, o que é mentira é mentira. E alcançar o conceito de pedir desculpa a alguém, saber o que significa tal coisa não enquanto palavras ditas da boca para fora mas sim enquanto expressão de remorso requer um muito mais longo caminho.
Os tempos não estão para valores e normas absolutos. Vivemos hoje em dia, nisso como em tantas coisas mais, o resultado de 20-30 anos de relativismo e politicamente correcto. Talvez por isso vejamos tanta gente tão desnorteada pensando precisamente que tudo está ao alcance dum clic do rato, incluindo a felicidade, para concluir que, dado esse clic afinal a felicidade não chegou e é preciso procurar outro clic e outro, e outro, e outro e ainda mais outro, sem nunca alcançar. Mas será que, tão perdidas as pessoas estão, sabem sequer o que visam alcançar?
Sinais dos tempos.
Mas responsáveis somos nós que mantemos este Homem cobarde e irresponsável.
Tentava eu perceber como um povo como o Alemão manteve aquelas figuras sinistras do regime e eis que nos foi dada uma lição ao vivo e a cores, de como um caldo de acomodação, interesses e esquizofrenia matam toda uma população.
Vou entretanto beber uma última coca-cola, dar com ela um hurra a um grande Português, o Saldanha Sanches, homem com H e pegar no seu estandarte e nas palavras de Ratzinger: «Fazei coisas belas, mas, sobretudo, tornai as vossas vidas lugares de beleza.»
Cara Suzana
como alguém disse, tudo o que é necessário para que o mal triunfe é que os homens bons nada façam. Quem nos governa não chegou lá pela força ou por um golpe de estado violento. Atingiu o poder absoluto pela força dos votos de cada cidadão ou pela ausência dela. Não choremos pois sobre o leite derramado de vergonha pela forma como os outros lá fora nos olham, pelas oportunidade perdidas e pelo o tempo que se desperdiça. Aprendamos qualquer coisa com os erros. Erga-mo-nos do lodo do nosso comodismo, das nossas conveniências, para re-fundar um país mais digno e com valores que não tenhamos vergonha de legar aos nossos filhos!
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