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sábado, 15 de maio de 2010

Superioridade e tolerância

À medida que os dias passam aumenta a minha incompreensão sobre a conduta humana e a intolerância demonstrada face ao que poderia chamar “biodiversidade” ética e cultural. Há os que se sentem superiores, os que querem ser superiores e os detentores de uma moral irrepreensível. Depois há os outros. Os primeiros fazem todos os possíveis para se imporem, ou melhor, fazem todos os possíveis para “proporem” ideias, que os outros deverão aceitar, claro. E assim conseguem provar que são “tolerantes”.
Garzón acaba de ser suspenso, porque extravasou as suas competências ao tentar investigar os crimes do franquismo. Afinal, há crimes que não podem ser investigados. Os juízes que tomaram a decisão deverão tê-lo feito em leis que “protegem” criminosos ou que impede os sequiosos da justiça de a praticar.
A outra notícia tem a ver com as fotografias de uma professora de 25 anos, bela e sensual, que pousou para a revista Playboy. Foi para as bandas de Mirandela, mas podia ser para as bandas de Fátima, ou seja foi para as bandas de Portugal. Consequências? Acabou por ser “arquivada” por ordem do presidente da câmara, até junho, porque a partir daí vai para a rua sem poder receber, através de recibos verdes, menos de 500 euros por mês. As reações, para as bandas de Mirandela, que é a mesma coisa para as bandas de Portugal, não deixaram de se fazer sentir com a tradicional moralidade à cabeça. Uma vergonha. Uma professora naqueles propósitos. Um atentado à moral e aos bons costumes dos meninos e das meninas, dos pais dos meninos e das mães das meninas. Irrepreensíveis em termos de superioridade moral vieram a terreiro a denunciar o comportamento impudico de uma professora que entendeu mostrar a sua beleza. E que beleza, diga-se em abono da verdade. Mamas torneadas encimadas por rosadas aréolas, verdadeiras rotundas a proteger deliciosos mamilos, fonte de inspiração para esculturas ou quadros em que o amor, a volúpia, a vida, a caridade, a criação divina e até o sofrimento poderiam ser retratados.
De manhã, li uma entrevista de António Arnaut. Dentro das muitas afirmações, uma chamou-me a atenção: “alguns magistrados são de moralidade duvidosa o que condiciona as suas decisões”. Arrepiei-me, e lembrei-me de uma decisão judicial sobre a não condenação de um corrupto. Um dia destes quem se vai ver à nora serão os não corruptos.
A última crónica de Saldanha Sánchez denuncia os meandros tortuosos de influências e benesses ao mais alto nível, e assim se justifica a nossa situação mais do que escabrosa.
Impor a “moralidade” de uns sobre outros é uma certeza que nos cerca e que se traduz por formas de “tolerância” muito sui generis...
Dispenso-as!

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro professor, permita-me um comentário relativo ao juiz Garzón. Não está em causa uma questão política. Suponho mesmo ser de direito e à qual eu, pessoalmente, atribuo certa gravidade pelo que está envolvido. O resultado foi voltar a ter-se a Falange manifestando-se nas ruas.

A transição Espanhola é exemplar e uma lição para o mundo. Mas não pode ver-se este ou aquele factos isoladamente. Tudo seguiu um rumo, tudo esteve e está interligado. O resultado foi que hoje em dia e há muitos anos já, tão pouco tempo passado após o fim do processo de transição e estando vivos muitos dos seus protagonistas, tanto do antes como do durante, a sociedade Espanhola conviva com o Franquismo de forma pacífica e amena. Foi um episódio histórico mais igual a tantos outros e assim é considerado e vivido pela sociedade Espanhola. Vários factores contribuiram para esse passar das coisas sem feridas, sem rancores e ressentimentos de parte a parte. A lei de 1977, que amnistiou os culpados ou eventuais culpados de crimes políticos levados a cabo durante o consulado de Franco foi essencial para acalmar vários sectores militares que teriam obstaculizado ainda mais a transição e continua a ser pilar importante da forma como tudo se continua a passar no Reino de Espanha no que à convivência com o passado se refere. A lei da amnistia foi importante em 1977 e continua a ser importante e a vigorar hoje em dia. Governo nenhum se atreveu a questiona-la até hoje (nem o actual que tem tido topete para muitas coisas) e tenho dúvidas de que se tal tivesse ocorrido Sua Magestade não tivesse usado todos os meios ao seu dispôr para repôr o status quo.

A Lei da Memória Histórica, já por si, arriscou avivar memórias e criar rancores sem necessidade absolutamente nenhuma. O que o juiz Garzón fez foi efectivar esse avivamento. O resultado? A Falange nas ruas, como se não houvesse já suficientes problemas a que atalhar.

É pena e uma lástima que o juiz Garzón, homem de tantos e tantos méritos e a quem Espanha tanto deve, tenha ficado tão inchado com ser visto como juiz-estrela que, por sua auto-recriação, tenha achado que podia pôr em causa um dos pilares da transição política Espanhola e que ainda hoje é importante para a convivência social no Reino. Importante para uma convivência sem atritos, sem abrir feridas que a ninguém aproveita reabrir. É pena, uma grande pena, que um homem de tão grandes méritos não tenha conseguido, por fim, pôr as suas funções e o país à frente das suas querelas pessoais, posições, ódios, opiniões e posicionamentos politicos e sociais. Pena maior e mais grave por estarmos a falar dum juiz e não dum político. E dum grande juiz.

Catarina disse...

Li esta sua crónica, caro Professor, com bastante interesse, como aliás acontece sempre. Hoje, até li algumas que escreveu em 2006.
Concordo com o caro Prof. quando se refere à situação mais do que escabrosa em que Portugal se encontra e as razões pelas quais o país anda pelas ruas da amargura, segundo se lê nos jornais e noutros órgãos de comunicação. Compreendo o complexo de superioridade de alguns e os casos de tolerância de outros, embora o termo tolerante nem sempre tenha uma conotação de “aceitação devido à nossa superioridade” em qualquer coisa.
Relativamente ao caso da professora, não duvido que tenha umas “mamas torneadas ... e deliciosos mamilos”, que estas sejam uma fonte de inspiração para escultores e pintores, que façam salivar (e não só) os homens e talvez algumas mulheres (não sou entendida nesta matéria, sou mais apreciadora de torsos masculinos bem delineados... : ) )e que acabem por ser uma grande fonte de rendimento – muitíssimo superior a um vencimento de docente - embora também levante a hipótese da rapariga (palavra que deverá ser interpretada em português europeu) em questão ser suficientemente altruista e querer compartilhar a sua beleza nua e crua de uma forma mais abrangente, em revista, e que nem lhe tivesse passado pela cabeça qualquer ganho monetário. Vai de certo ter os seus 15 minutos de fama ou até mais, talvez surja a sua oportunidade de entrar para o cinema e ser uma grande actriz. Inclusivamente, não tenho base para duvidar das suas (da professora) competências a nível de relações humanas, nem tão pouco da sua grande habilidade de exercer as suas funções neste local privilegiado de preparação a que damos o nome de escola.
Porém... vejo uma conflitualidade entre o cargo de docente e menina de Playboy. As razões são demasiado óbvias e torna-se absolutamente desnecessário aqui mencioná-las... este comentário já vai longo. E não se trata de moralidade irrepreensível da minha parte, nem de hipocrisia, nem puritanismo.
P. S. Estou curiosa: os pais ou familiares dessa rapariga andarão à procura de algum buraquinho onde se possam enfiar?
P.S. 2 – Acho melhor que os não-corruptos comecem a ser mais assertivos e lutem pelos seus direitos porque pelo andar da carruagem os corruptos conseguem escapar-se pelas frestas da justiça.

Catarina disse...

Caro Zuricher
Parece que hoje madrugámos os dois! : )

Bartolomeu disse...

Compreendi agora porquê, sendo eu um melómano, nunca fui capaz de tocar qualquer instrumento... musical.
Esta era uma dúvida que me martelava o espírito, pois ao longo da minha juventude, adquiri diversos instrumentos musicais, dos mais simples de executar e, de nenhum deles consegui que soasse um conjunto harmonioso de notas... musicais.
Compreendi agora que a génese do problema se encontra no início de tudo. Vem dos bancos de escola, do tempo em que tive a disciplina de educação musical e a professora que a ministrava era uma senhora franzina, com ar de fuínha e uma vozinha irritante que constantemente ameaçava os putos, com faltas por mau comportamento na aula.
Tivesse eu tido uma professora como a Sô Dona Bruna de Torre de Dona Chama, e estou certo que hoje estaria a actuar nos maiores palcos do mundo, sentado em frente a um enorme piano de cauda, tocando Wagner, Chopin, Handel, Béla Bartók, Mozart, etc.
Sim, claro que viría a Portugal... sempre que a Dona Chamasse... do alto da sua Torre.... A Bruna...
Bom, agora tenho de ir à minha aula privada de canto...
Já agora e por falar em Bruna...
http://www.youtube.com/watch?v=wvduwxjwC24&feature=related
"todo mundo tem tem mãe, mas pouca gente sabe quem é o pai"

Anónimo disse...

Cara Catarina... Eu não estava bem, bem, bem, madrugando... ;)