Decidi dar um passeio pela comunicação social espanhola da última semana.
O motivo era o TGV, já que Espanha tem um plano muito ambicioso para a alta velocidade: criar uma rede com 10.000 Km até 2020 (em Espanha o TGV designa-se por AVE que quer dizer Alta Velocidade Espanhola).
Sucede que por lá a crise também obrigou a muitos cortes e vários adiamentos.
À medida que fui avançando nas pesquisas e nas leituras, encontrei algumas notícias que muito nos podem interessar.
A norte, no País Basco, as notícias da crise provocaram a reacção do Parlamento Basco já que estarão em causa as ligações de alta velocidade a Bilbao e Santander.
Um pouco a sul, na Cantábria, a bronca estalou devido a já anunciada paralização das obras em Palência.
As ligações da alta velocidade à Galiza previstas para 2015 não podem continuar a ser garantidas segundo fontes do próprio Ministério do Fomento.
Pelas bandas de Castilla Y Léon, Burgos vai ser afectada com a atraso na construção da alta velocidade.
No extremo oposto da Península o sonho da província de Almeria em ter alta velocidade também vai ter que esperar.
Ali ao lado, pelas bandas de Valência os protestos já se fazem ouvir.
E para os que queriam a alta velocidade em Múrcia a data de 2012 já se tornou uma miragem.
E em plena Andaluzia, Granada vai ficar à espera do comboio.
A ligação de Sevilha a Cadiz deixou de ser uma certeza imediata.
Nem a Catalunha escapa com o adiamento da ligação a Tarragona.
E em Badajoz, o Presidente da Câmara já fala num atraso de pelo menos três anos.
Por toda a Espanha sucedem-se os adiamentos dos projectos de alta velocidade, na maior parte dos casos sem nova data marcada.
Mas em Portugal não há dúvidas sobre as prioridades de Espanha!
Cabe então perguntar, porque é que teve que ser o governo português a garantir que, do lado espanhol, se mantêm os prazos de construção do TGV Madrid-Lisboa ?
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segunda-feira, 24 de maio de 2010
Para português ver...
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5 comentários:
Vitor, com tanta gritaria na imprensa espanhola o nosso Governo ficou confuso, pegou no telefone e parece que ao telefone lhe deram a garantia de que não senhor, aqui para este ponto cardeal o TGV vinha a grande velocidade...Foi ao telefone, por isso é que não ouviste!
Tenho afixado repetidamente nas caixas de comentários às notícias as seguintes críticas à Comunicação Social e aos Srs. Jornalistas:
«Portugal é um país rectangular com problemas bicudos discutidos em mesas redondas por bestas quadradas, e em que a comunicação social e comentadores dão, a uma linha férrea de bitola europeia, o nome de um comboio francês... Continuem assim que vão bem...»
«Srs. Jornalistas, é altura de tomarem nas mãos as rédeas da verdade. Isto até é um assunto muito simples: parem, parem, de escrever TGV! O que avança não é o TGV (isso é comboio!), é a Rede de linhas férreas de bitola europeia. Lá que Sócrates e os Srs. deputados não saibam expressar-se, é uma coisa... Escrevam por exemplo: Bitola Europeia avança entre Portugal e Espanha, por ex.. Nos acordos ibéricos sobre a alta velocidade o que aparece é a expressão “Rede de Bitola Europeia”. A palavra TGV não aparece uma única vez! Grato pela vossa compreensão e desculpem a veemência da chamada de atenção.»
«Agradecia que os Senhores Jornalistas escrevessem português, e não continuassem a insistir no disparate de dar, a uma linha férrea (é só isso, uma linha férrea!), o nome de um comboio produzido em França. Os Srs. Jornalistas são teimosos, mas a minha teimosia em pôr-vos a falar e escrever correctamente há-de vencer sobre a vossa!»
«A LEMAV (Linha Europeia Mista para Alta Velocidade) (e não TGV, que é o que os ignorantes chamam a isto) nunca será rentável se não se ligar o Poceirão aos portos de Setúbal e Sines também por linha de bitola europeia, mas que não tem de ser para alta velocidade. Fará sentido ser mista, como é óbvio. Mas não precisarão de ser de alta velocidade.»
«Não há e Deus queira que nunca haja TGV nenhum, cuja exploração seria certamente deficitária! TGV é material circulante. O que vai haver é uma linha, e será bom que nela circulem composições de mercadorias que venham de Sines e de Setúbal para o Poceirão. Essa é a grande utilidade da linha no que toca às mercadorias: poder ser ligada aos portos de Setúbal e Sines. Os passageiros deverão continuar até ao Pinhal Novo (nesse sentido, o troço adjudicado deveria ter sido Caia-Pinhal Novo e não Caia-Poceirão: e o Pinhal Novo fica apenas 15 Km distante do Poceirão!), onde poderão fazer transbordo para um dos 23 comboios diários da Fertagus para Lisboa, ou para um dos 11 diários da CP. A travessia directa para Lisboa pode esperar um pouco, e deve ser o LNEC a fazer um estudo comparativo da melhor solução (ponte ou túnel, e em que sítio).»
Para mais informações sobre o que todos chamam, incorrecta e irresponsavelmente de "TGV", convido todos a visitarem o meu blogue: "bravosdopelotao".
Tudo isto é um problema de errada utilização das palavras. Nunca em Portugal se tivesse falado na idiota sigla "TGV", e a coisa não tinha discussão. A menos, claro, que as pessoas continuem a preferir os milhares de camiões TIR que circulam pelas nossas magníficas auto-estradas, ao transpote ferroviário.
Com os meus melhores cumprimentos,
Gabriel Órfão Gonaçalves
jurista
Lembrei-me de mais uma coisa: lembram-se quando o genialíssimo Inocêncio Galvão Telles defendeu, perante um tribunal internacional, o direito de passagem de Portugal sobre a Índia para aceder às suas colónias? Bem, a pressa de Portugal em fazer esta linha estará talvez em importar e exportar mercadorias a preços muito mais baratos do que aqueles a que o faz actualmente. É pelo menos disto que tenho tentado convencer o Engenheiro relativo, nas cartas que lhe mando (V. no meu blogue, referido no comentário supra). E parece-me, olhando para o mapa, que a única maneira de Portugal chegar ao resto da Europa para além de Espanha é... atravessando Espanha. Quanto a mim, estamos atrasados 20 anos, pelo menos, na mudança da bitola (que é o que realmente interessa, não os comboios que nela vão circular, se mais lentos ou mais rápidos), e há muito que Portugal deveria ter dado um murro na mesa em Bruxelas exigindo dos fundos de coesão (não é para isso que eles servem? - para a "coesão") um subsídio prioritário para estas linhas. Só não lhe chamem TGV, está bem?
«Mas em Portugal não há dúvidas sobre as prioridades de Espanha!
Cabe então perguntar, porque é que teve que ser o governo português a garantir que, do lado espanhol, se mantêm os prazos de construção do TGV Madrid-Lisboa?»
Naturalmente porque Espanha está, como sempre esteve, nas tintas para Portugal. Se acho que houve alguma coisa bem feita pelo Ministro Mendonça até hoje foi insistir na construção desta linha (admito que a Aveiro-V.Formoso-Irún também seria uma boa primeira linha para ser feita). Além de que em Espanha houve inúmeros projectos cancelados porque... há inúmeros projectos. A situação não se compara com Portugal.
Neste momento devíamos era estar preocupados com a idiotice da 3ª linha em bitola ibérica a construir ao lado desta (de que pouco se fala, sendo esse o grande disparate, não a linha europeia!), e a construção da 3ª Auto-Estrada entre Lisboa e Porto! O dinheiro que com isso se vai gastar devia servir para o Estado reabrir a SOREFAME! Se acham que a linha Caia-Poceirão é despesismo, esperem até que o Eng. relativo se lembre de importar comboios! Aí é que vai ser a doer. Vá, todos pela reabertura da SOREFAME! Eu aliás já disse que ponho uma bomba no primeiro comboio importado que vier pela nova linha... Não se preocupem, a bomba é pequenina, é só daquelas que faz muito barulho mas não causa danos...
Caro Gabriel Gonçalves:
Bato-lhe palmas! Faço minhas as suas palavras.
A sua ideia deve ser tornada do conhecimento público. Este é, na verdade, um país com défice, mas mais no que toca à massa encefálica.
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