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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Défice de credibilidade ou excesso de loquacidade?

1.O ex-Ministro das Finanças Campos e Cunha, em entrevista a um jornal on-line, lança hoje um duro ataque ao PM, acusando-o de não ter credibilidade, de os mercados não atribuírem qualquer relevância às “boas” notícias que com tanto empenho (e reduzido proveito para os cidadãos, há que reconhecer...) vem proclamando.
2.A questão suscitada por C. e Cunha tem especial oportunidade com o episódio da divulgação das notícias sobre a execução orçamental de Janeiro último, que, apesar de o PM ter transformado num assinalável sucesso e aproveitado para lançar (mais uma) grande operação mediática, parece não terem produzido qualquer impacto nos mercados...ou produzido mesmo um impacto negativo...
3.Esta observação de C. e Cunha vem de encontro a algumas reflexões que tenho feito sobre este tema e que, conduzindo porventura à mesma conclusão, partem de elementos de análise distintos.
4.Com efeito, tenho a percepção de que a alegada “falta de credibilidade” de que fala C. e Cunha não é uma criatura órfã...ela resultará, “prima facie” e na minha perspectiva, de um anormal excesso de loquacidade, uma espécie de “loucura mediática”...
5.Esta “loucura mediática” é uma doença típica dos nossos dias, caracterizada por uma obsessão incontrolável na divulgação de notícias a propósito de tudo e de nada – e de que a maioria dos dirigentes políticos (os governamentais em nível máximo) apresentam sintomas muito avançados...
6.Este anormal excesso de loquacidade – ou esta “loucura mediática” – tem como resultado, entre outros, o inevitável desgaste do valor da mensagem que se pretende passar, cujo impacto junto dos destinatários vai declinando com o tempo até à completa ineficácia...ou pior ainda, a uma rejeição liminar.
7.E o declínio do impacto é mais célere junto de públicos mais esclarecidos, como é o caso dos mercados, que se habituaram a ver neste tipo de mensagens meros propósitos propagandísticos muito frequentemente desmentidos pela realidade superveniente...
8.Tenho pois a percepção de que o excesso de loquacidade ou a tal “loucura mediática”, no caso do PM em particular atingiram um nível tão elevado que não surpreenderá que as suas mensagens tenham um resultado oposto ao pretendido...
9.E é daí que deriva o défice de credibilidade – já quase ninguém (talvez só mesmo os apaniguados mais solidamente instalados...) dará crédito a esta mensagem da “excelente execução orçamental” de Janeiro, pois tem-se a noção de que ou se trata de números pré-fabricados ou de que, mais à frente, outros números virão alterar o “cenário-rosa” que com estes se pretendeu exibir...
10.Estranho muito que não haja ninguém nos meios do poder a aconselhar os responsáveis governamentais, “maxime” o PM, a serem mais prudentes e comedidos na divulgação destas mensagens...só teriam a ganhar com isso...ou será que entendem já não valer a pena, que a “doença” é mesmo incurável?

11 comentários:

Milan Kem-Dera disse...

Políticos com "excesso de loquacidade" – ou “loucura mediática”...

Traduzindo isto por miúdos e em bom português - "os modernos vendedores-da-banha-da-cobra"!

Modernos e bem vestidos. E já não vendem a banha da cobra em frasquinhos, mas sim um povo e um país por inteiro.
Desavergonhadamente em nome de uma falsa "democracia" por eles próprios fabricada, moldada ao seu jeito e para seu usufruto pessoal!

Bartolomeu disse...

Senhor Doutor Tavares Moreira, talvez não tenha notado ainda mas, na verdade, é a loquacidade que mais vende no nosso país.
Não interessa muito a qualidade, ou a veracidade daquilo que é dito, o que importa é a quantidade verborrágica.
E viva a Bastilha!!!
;)))
Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé!!!

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Julgo que acerta em cheio num dos cancros comunicacionais hoje mais devastadores, que destrói a substância das coisas reduzindo-as a mera espuma.

O afã de "boas notícias"(?) que precedeu a divulgação do boletim da síntese orçamental de Janeiro só podia significar uma coisa que, por exemplo, o Prof. Álvaro Santos Pereira explica arrasadoramente no seu Desmitos hoje.

Quanto a mim, impus-me a não leitura da síntese. Explico por que o fiz aqui tentando contribuir para a diminuição da espuma.

Tavares Moreira disse...

Caro Milan-Kem-Dera,

Exacto, os velhos vendedores da banha-de-cobra!
Mas mesmo assim com duas assinaláveis diferenças:
1ª) Os velhos vendedores da banha-de-cobra eram gente simples que ganhava a sua vida com grande custo em muitos casos e a forma como enganavam as pessoas era quase inocente - os enganos do presente custam-nos os olhos da cara!;
2ª) Os velhos vendedores da banha-de-cobra usavam frequentemente uma giboia sobre os ombros para dar espectáculo e impressionar o pessoal assistente ao espectáculo - os actuais vendilhões nem uma lagartixa são capazes de trajar!

Caro Bartolomeu,

Tenho notado sim, tenho notado! Mas olhe que as coisas estão mudando, veja no que deu a feroz loquacidade nas eleições presidenciais.
E pode estar certo que as actuais sondagens sobre intenções de voto, apesar de não serem muito favoráveis aos incumbentes, assimilam-se bastante às contas públicas: só contam uma parte da verdade...
A loquacidade pode ter vendido meu Caro, mas ou me engano muito ou é chão que deu uvas!

Caro Eduardo F.

Tem razão, a leitura da síntese de execução orçamental divulgada no site da DGO constitui um exercício de auto-flagelação nada recomendável a qq cidadão que se preze e sobretudo a cardíacos e hipertensos...

Bartolomeu disse...

Calculei que o caro Dr. Tavares Moreira, fosse referir como exemplo, o resultado das eleições presidenciais. Mas isso foi a excepção que confirma a regra, Caro Dr.
;)
É certo que o modelo de feira perdeu o efeito, mas a verborreia mais sofisticada, ocupa com (demasiado)sucesso, a outra a mais espaventosa.
Como dizia a minha avózinha « com papas e bolos... se enganam os tolos».

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Ora bem, a sua Avozinha estava cheia de razão: "com papas e bolos...".
Só que agora, nem papas, nem bolos, mesmo os amargos escasseiam...
Por isso lhe digo, meu Caro, que só verborreia, ademais terrivelmente gasta, ignominiosamente repetida, não vai chegar, não...
E provavelmente chegará até bem menos do que se pensa...

Bartolomeu disse...

Caro Dr. Tavares Moreira, penso não ser necessário recorrermos à escatologia, para que aceitemos a indefectível e implacável Lei dos Astros.
Mas, mesmo assim, teimamos em querer ignora-la, instalando-nos confortávelmente no civilizacional conceito, da certeza científica.
;)
Contudo, meu Estimado Amigo, não desprezemos a influência dos astros nos desígnios humanos.
É que... quando a Lua se encontra na sua fase baixa, desenrolam-se na Terra, fenómenos que qualquer ciência, é ainda incapaz de compreender e... explicar.
;)

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Quando o meu amigo envereda por essas altas lucubrações filosóficas e astrológicas- ademais com uma incursão arrojada pelo domínio do escatológico -tenho de confessar o meu estado de humilde perplexidade e dúvida...
Muito sinceramente, não tenho argumentos, não sei o que dizer...
E se ainda por cima refere que qq ciência é ainda incapaz de explicar os fenómenos mencionados, então não há mesmo palavras para exprimir a minha perplexidade...

Bartolomeu disse...

Eis mais um dos motivos que me faz admira-lo, caro Dr. Tavares Moreira; o seu imenso sentido de humor!
;))

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Ao seu sentido de humor como haveria eu de corresponder?
Neste forum de debate aberto, franco e que também pretende ser animado, uns momentos de humor, em reciprocidade, só nos ficam bem, muitas vezes até ajudam a reduzir a pressão dialética...
Embora deva reconhecer que nem todos os nossos estimad(íssim)os comentadodores exibam o mesmo espírito desportivo que o Senhor e eu próprio fazemos questão de projectar, de quando em vez...
...E reagem ao humor com acusações de cinismo e baixeza (imagine-se)!

Bartolomeu disse...

Concordo inteiramente, caro Dr. Tavares Moreira.
E volto a citar a minha avózinha, quando sapientemente dizia: « não ha bela, sem senão!»
;)))