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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Estabilidade" ou "instabilidade" política: venha o diabo e escolha...

1.Estabilidade” ou "instabilidade" política? A grande discussão está entre nós outra vez lançada, após o anúncio de uma próxima moção de censura ao Governo por parte do BE.
2.Os partidários do regime e os colaboracionistas de vários matizes apressam-se, como lhes compete, a estigmatizar um possível cenário designado de “instabilidade" política – é a sua função, compreensível, defendem os interesses instalados.
3.Os apaniguados dos partidos da Oposição ganham novo alento com o cenário de “instabilidade” pois vêm nele uma possibilidade de conquista do poder central do qual estão arredados há muito tempo – é também compreensível, os partidos políticos aspiram à conquista do poder.
4.E aqueles que vivem preocupados com o chamado País real, como deverão pensar sobre este tema? Deverão preferir a “estabilidade na continuidade” ou pelo contrário apostar num cenário de aparente maior risco, que agora se designa por “instabilidade" política” ?
5.Apenas de passagem, é bom lembrar que este qualificativo “instabilidade" política é de geração relativamente recente, ainda não existia por exemplo quando o ex-Presidente Sampaio decidiu dissolver a AR em 2004 na vigência de um Governo que dispunha de apoio maioritário na AR...
6.Muito em resumo, a “estabilidade” garante-nos a continuidade de uma política que tem como emblemas:
(i)o crescimento contínuo do Estado e dos recursos a este afectos;
(ii) o agravamento das obrigações fiscais de cidadãos e empresas;
(iii) o contínuo aumento da dívida pública, a preços que vão punindo o País duma forma escandalosa, num exercício que já é apenas de sobrevivência, seguindo uma táctica de “tudo por tudo” para adiar o ponto de bloqueio financeiro da economia;
(iv) o controlo de todo o aparelho do Estado e suas ramificações empresariais por apaniguados do regime;
(v) a manutenção de um modelo económico e social em que ao Estado continua a caber um
papel determinante, deixando para os demais sectores, privado e social, uma função
supletiva (vide o caso do ensino);
(vi) a utilização obsessiva do marketing para esconder até ao limite do (im)possível os reais problemas do País;
- Em suma, do lado da “estabilidade” temos a segurança da prossecução, sem grandes
alterações e agitações, de um rumo de decadência e de empobrecimento ...
7.Do lado da “instabilidade” o que temos? Em resumo:
(i)incerteza quanto à possibilidade de formação de uma maioria absoluta de apoio a um novo Governo no quadro parlamentar;
(ii)angustias de manter os escassos canais de financiamento externo disponíveis e que num cenário de “instabilidade” podem ser encerrados;
(iii)dúvidas que a cada passo se ouvem sobre as capacidades de uma nova equipa governativa para enfrentar os gravíssimos problemas que o País enfrenta, sobretudo na área económica e social
- Em suma, as incertezas e contingências próprias de um cenário dependente dos
resultados de novas eleições em período de crise económica e social acentuada...
8.Ironicamente, encontramo-nos num cenário em que o grande trunfo do Governo e dos que o apoiam é a gravíssima situação do País - mas uma situação em boa parte resultante dos erros de política que cometeu e que convictamente prossegue!...
9.Então, como escolher entre “estabilidade” ou “instabilidade” política? Melhor que venha o diabo e escolha...

16 comentários:

Tonibler disse...

"os colaboracionistas de vários matizes", eheheh... excelente designação!

Instabilidade é muito melhor que estabilidade. Durante a instabilidade o políticos andam mais preocupados com a estabilidade e deixam as coisas importantes em paz. Acho que a experiência belga nos pode ensinar muita coisa.

Bartolomeu disse...

Não sei se a responsabilidade da escolha, recairá sobre o diabo, mas não tenho dúvidas, caro Dr. Tavares Moreira que, seja ela qual for, os próximos anos em Portugal, serão para os portugueses, diabólicos.
No entanto, até que outra decisão seja tomada (se chegar a ser), continuarão a ser diabólicos os dias dos portugueses.
Se for tomada a decisão de apresentar no parlamento uma moção de sensura ao governo, ou de o governo tomar a iniciativa de apresentar no parlamento uma moção de confiança (isso é que era de valor),que resultem na queda do governo e em novas eleições... só duas situações podem ocorrer; ou ganha Socrates, ou ganha Passos. Ganhando Socrates, continuarão a ser diabólicos os dias dos portugueses. Se ganhar Passos, durante pelo manos 3 anos, continuarão a ser diabólicos os dias dos portugueses...
(pelos vistos, acaba de nascer mais um profeta...)
;)

Anónimo disse...

Fazer política é colocar acima de tudo a defesa das ideias que se pensa serem as melhores para o desenvolvimento do país. Não é ver a nossa terra aforgar-se em incompetências, em corrupção e numa bola de neve de endividamento que nunca mais pára, e ficar à espera do calendário mais apropriado. As pessoas esperam, mas não esperam sempre. Antes, cansam-se, de uns e de outros. Depois desistem.

Carlos Sério disse...

A este PSD de Passos Coelho e Ângelo Correia, não convém uma queda prematura do governo. Como fruta na árvore, o PSD aguarda que ela amadureça a seu gosto. Este PSD espera muito ainda de Sócrates e do seu governo.

O PSD espera assim que Sócrates execute tão amplamente quanto possível o ideário neoliberal de Passos Coelho. Só quando Sócrates e o seu governo não tiver mais para oferecer, só quando se encontrar esgotado o seu programa neoliberal, depois do fruto maduro e antes que cai podre da árvore, se apresentará Passos Coelho a tomar o poder.

Um longo e penoso calvário irá Sócrates ainda percorrer.

Bresson disse...

Stick with the optimists. It's going to be tough enough even if they're right.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Fazendo o jogo do governo e do Pensamento Único Dominante (PUD), a escolha parece ser entre a segurança e o caos.
Acho que é chegado o momento de perguntar para onde é que o PUD quer levar-nos:
Vamos "acabar" como uma praia rafeira de Madrid?
Queremos ser a Florida da Europa?
Queremos ser a Flandres da Europa?
( Os cenários são da autoria do Prof Félix Ribeiro).
Neste enquadramento o dilema estabilidade/instabilidade perde o sentido.
Claro que seria necessário que, se determine e se tenha claro qual o rumo a seguir, coisa que ainda não percebi se, a oposição relevante, sabe.
Quanto ao último episódio desta ópera bufa em que se transformou a polítca nacional, começo a perguntar até que ponto a moção não é algo que se pretenda que mude para que tudo fique na mesma...
Só daqui a alguns anos (talvez) saibemos as respostas
Cumprimentos
joão

Anónimo disse...

Governos sem apoio maioritário no Parlamento são, em qualquer parte do mundo, soluções instáveis. Só em Portugal o chefe do governo afirma que não.

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Como pessoa inteligente e bem informada, prefere a dita "instabilidade" à mais que vista "estabilidade"...
Penso tratar-se de uma escolha racional, tendo em atenção que a "estabilidade", neste caso, é mais ou menos sinónimo de opção por segurança na podridão e afundamento...

Caro Bartolomeu,

O "diabo", na asserção deste Post, não significa o mítico dono do inferno, que se banhava no Letes, mas antes um qualquer "maltrapilho" que se possa desencantar em algum episódio da vida...
O diabo será pois uma criatura em princípio impreparada para fazer qualquer escolha em base racional...
Repare, por exemplo, que o Tonibler, que não é nenhum diabo, rapidamente soube escolher...e bem, na minha persepctiva!
Quanto aos tempos diabólicos que antevê, em qq dos cenários, estamos certamente de acordo!

Caro Flash Gordo,

Inteiramente de acordo com a sua opinião...
O que se noat hoje é que os políticos, de uma forma geral - todos, certamente todos os incumbentes - para além de basicamente ignorantes das matérias por que respondem, não têm convicções, apenas opiniões de circunstância...
Como podem governar, assim tão desprovidos dessas matérias primas essenciais para fazer política a sério?

Caro Cs,

Lá saberá o que diz, lá saberá...
Só lhe lembro que A. Correia não faz parte de qq órgão partidário, que eu saiba...

Caro João,

As suas análises são sempre bem vindas porque muito bem pensadas...
Mas deixe-me dizer-lhe que sermos a Flórida ou a Flandres, nesta altura dos acontecimentos, só mesmo por graça...ou para tentar esquecer a nossa desgraça!

Anónimo disse...

Caro Drº Tavares Moreira,



Permita-me que expresse a minha perplexidade sobre o seu pensamento ou estado de espírito até porque parece-me ser comum a muito boa gente.

O Drº Tavares Moreira faz análises consistentes e plenas de coerência da economia de Portugal assim como da inevitabilidade de alterar o Rumo, e quando chega a altura de darmos um passo em frente, pensamos 10 vezes em dar o passo ao lado?!

Tavares Moreira disse...

Caro Agitador,

Talvez tenha razão, concedo sem dificuldade...
O problema da escolha, nos termos em que o enuncio no Post, parece com efeito um contrasenso. Com efeito, se:
- De um lado temos a certeza da continuidade de uma política cujos resultados, ao cabo de 6 anos (não 6 meses) são aqueles que sabemos, não se podendo esperar nada para melhor;
- Do outro lado temos a incerteza quanto aos resultados de uma nova política que ainda não se conhece...
Pareceria de toda a lógoca não hesitar e, neste caso, preferir o Incerto ao Certo...
Mas, como saberá, há aqui também problemas de Timing que não são nada de somenos e que podem ser determinantes na escolha a fazer neste preciso momento do ano 2011...
Por isso é que eu sugeri o recurso ao diabo para que se incumbisse de tal escolha, não por falta de vontade que a mesma aconteça, entendamo-nos!

Caboclo disse...

"...há aqui também problemas de Timing que não são nada de somenos e que podem ser determinantes na escolha a fazer neste preciso momento do ano 2011...
Por isso é que eu sugeri o recurso ao diabo para que se incumbisse de tal escolha..."

Que desilusão Tavares pensei que tinhas mais clarividência .
Não existe na face da terra nada que nos prejudique mais que o socratismo.
Qualquer solução que o tire do poder imediatamente vale qualquer preço !
Mas sem sombra de duvidas !!!!!
NENHUMA DUVIDA ...ABSOLUTAMENTE NENHUMA !!!!! ANTES PELO CONTRARIO ..CERTEZA ABSOLUTA !!

AGORA VIR PEDIR AO DIABO PARA DECIDIR ????uma coisa tão importante ? tão óbvia ?
O nosso destino nas mãos do Diabo ??é esse o seu desejo ? a escolha dele é obvia !! socratismo para sempre !!

hum !! não sei não ..este pessoal deste blog está esquisito..

Ó ..mudando de assunto !! eu ( e muito mais gente ) quer ver discutido num post a questão da tourada . Qual a posição dos senhores/as sobre este assunto tão grave .

Tavares Moreira disse...

Caro Caboclo,

Se fossemos avaliar o que deniminei por Incerto em função do tipo de reacções como a sua, esse Incerto seria equivalente ao actual Certo presumivelmente agravado!
Felizmente - e repito felizmente - a decisão sobre o momento da escolha pelo Incerto está nas mãos de pessoas com uma capacidade judicativa bem mais organizada!
Lamento exprimir esta opinião, mas creia que é inteiramente franca!

Caboclo disse...

Das suas palavras só é possível depreender uma coisa ..essas pessoas com capacidade de julgar estão a pensar mais no partido do que no País !
Imagino !!Ir para o governo agora ? logo agora que está totalmente falido? Logo agora que é preciso chamar o FMI ? Ficar com a batata escaldante nas mãos ? Ficar para a história como o que vai trazer o fel ?

O problema caro Tavares é que quanto mais tarde pior ..para os mais pobres claro..porque as elites nem sentem..e com certeza absoluta os judicativos que refere são das elites ..acertei ? pena

Este blog vai ou não fazer um post onde se debata a tourada ? Gostaríamos muito de saber o que pensam por aqui sobre isso !

Tavares Moreira disse...

Caro Caboclo,

Se a moção de censura, como muito bem observou M. Mendes, constitui uma prenda (supostamente de S. Valentim) do BE aos incumbentes, acha boa ideia subscrever essa iniciativa dos bloquistas?
É este o momento asado para provocar uma mudança, quando a maior parte do trabalho de casa está por realizar?
Sabe, nos meus tempos de juventude, há muito idos, era bem conhecido o seguinte ditado da sabedoria popular: "Quem as fez que as desfaça".
Pois bem, este ditado aplica-se que nem uma luva à situação vigente...

Caboclo disse...

"... acha boa ideia subscrever essa iniciativa dos bloquistas?..."
Sim claro ..voces ainda não perceberam que nenhum trabalho de casa será feito !!
Ninguém vai desfazer nada ...socrates muito menos ..o doido não tem a menor noção de como desfazer seja o que for. Caramba ..pensem nos mais desfavorecidos ..pensem que alguém com responsabilidades tem que pegar o leme quanto antes .
Não interessa o sacrificio que custará . Mas é preciso agarrar o leme agora !! é agora ou nunca !!
Quanto mais tempo demorar mais a divida aumenta ..mais a economia se atrofia ..mais os necessitados vão sofrer mais ..
Mas as elites não sentem nada ..não é ?



E a tourada ? vai sair um post sobre isso?

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Podendo chegar atrasado aqui vão os meus comentários:
É aceite que o modelo económico está esgotado mas essa conclusão não "passou" nem para o discurso político, nem para o PUD (Pensamento Único Dominante).
As medidas tomadas pelo PUD tem como consequência (muito menos óbvia do que se poderia supor) transformarmo-nos numa praia "rafeira" de Madrid. O "rigor" orçamental apenas limita a despesa mas, pelas medidas tomadas, não tem efeito duradouro. Acresce que as medidas são apresentadas como sendo impostas de "fora", para além de irresponsabilizar os autores, cria a terrível conclusão, nos destinatários que, são transitórias e, pior ainda, para se cumprir a metade. O erro que o PUD comete através das políticas que estão a ser tomadas, leva-nos para um inevitável e irreversível emprobecimento, não lhe maço a si com os detalhes e fundamentos desta minha afirmação.
No quadro actual, há que reagir sob pena de desembocarmos numa situação sem possibilidade de emenda.
Temos uma geração de 20-30 anos que se retrata no sucesso dos Deolinda: "Parva que eu sou". Recordar-se-á que, no seu tempo uma parte dessa geração se revia na canção "Os Vampiros". Ambas (canções) têm em comum duas característcicas: retratam parcialmente a realidade e subliminarmente representam o futuro como um bloqueio intransponível, um muro sem brechas.
A nossa bandeira tem a esperança como um dos elementos da nacionalidade, aparentemente, estamos a ignorá-la e, o que mais grave, a negar a mesma às gerações que nos seguem, ora, foi o futuro negado que ajudou a cair o anterior regime e a levar os islandeses a reagirem.
Não sei se devemos ser, por exemplo, a Flórida da Europa, o que eu sei é que, teremos de renegociar todas e repito, todas as nossas dívidas e isso exigirá que se apresente uma estratégia alternativa à actual. Acho que dez anos é mais do que suficiente para se perceber que apenas se cavou um buraco. Num mundo com INTERNET "toda" a gente sabe.
É esse plano alternativo que espero que o PSD e o CDS apresentem. Como espero que o actual PR promova e crie as condições para que esse plano surja, cristalize e seja interiozado pelo eleitado.
O prazo que temos é +/- cinco/sete anos; após isso seguiremos um mau caminho e os deuses que tenham piedade de nós; como lhe disse há alguns posts atrás, a próxima geração vai escolher o asilo em que vamos parar.
Cumprimentos
joão