"O destino dos governos minoritários é, normalmente, acabarem por ser derrubados por uma moção de censura, votada por sectores diversos da oposição". Esta frase dita pelo Professor Freitas do Amaral teve grande repercursão nos media. O distinto professor limitou-se, porém, a verbalizar uma evidência, que aliás a história recente do Portugal democrático confirma.
Porque esta instabilidade essencial aos governos minoritários é uma evidência, torna-se muito inquietante que continuemos a gerir o futuro do País como se a realidade política fosse radicalmente diferente da que é. Nada pode explicar que um governo fraco, cujos membros vão deixando cair, aqui e ali, confissões de impotência perante as dificuldades, considere que mantém condições para continuar a conduzir os destinos do País. Como se percebe mal que alguns dirigentes da oposição esperem pelo apodrecimento total da situação, para colherem os frutos. Quem, em boa consciência ou no seu perfeito juízo, prefere colher frutos assim? Só quem se deixou cegar pelo poder a tal ponto que não vislumbra que é verdadeiro suícidio aceitar exercê-lo quando o caos se instalou.
Entendo bem que a perspectiva de novas eleições não contribua para melhorar a situação económica e social. Mas já não percebo como é que lideranças partidárias não colocam em nome do interesse nacional aquela alternativa a eleições que é tão óbvia como evidente é a fragilidade deste governo: um acordo alargado entre os partidos gerador do apoio maioritário a um Executivo plural na sua composição,constituído numa base programática consensual sobre medidas essenciais para superar a crise.
Difícil de obter esse acordo no actual quadro parlamentar? Não, se os dirigentes partidários pensarem mais no País e menos em si próprios ou nos grupos que chefiam.
20 comentários:
Deixe que lhe diga, caro Dr. José Mário, que essa história do "superior interesse nacional" é uma falácia, uma mentira que serve unicamente aqueles que o caro Dr. designa, cegos pelo poder.
Nos ultimos anos, o poder em Portugal, tem proporcionado as maiores vantagens a quem o detem, e a quem lhe está perto. Por isso, tanta gente se arregimenta sempre que ha lugar a eleições. É vê-los a aparecer do nada e a chegarem-se aos candidatos, o mesmo a vários, por forma aumentar o leque de possibilidades. Afinal, a coisa funciona como na roleta, pelo sim, pelo não, apostam nos pretos e nos vermelhos, nos pares e nos ímpares, em algum ha-de sair...
Mas, diz o caro Dr. José Mário que está toda a gente à espera que o governo se espalhe ao comprido, e que os seus membros, vão semeando confissões de impotência...
Oh caro Dr. José Mário, sejamos justos, eu não me lembro de outro governo desde a democracia que tenha sofrido de tanta pressão por parte da oposição e que ao mesmo tempo tenha enfrentado com a dureza deste, a crise económica mundial. Agora... será que o PSD, se fosse governo, seria capaz de fazer melhor?
A avaliar pela abstenção na votação da moção de sensura, parece-me que não tem alternativa.
Ahhh a cooperação e a estabilidade, hmmm, pois... deve ser por isso...
Caro JMFAlmeida
O Sr de La Palisse meia hora antes de morrer estava vivo.
Cumprimentos
joão
«verbalizar uma evidência»
Ou o «óbvio», citando Ferreira Fernandes, Dn de hoje, noutra perspectiva.
Ou o elementar:
«o PSD, se fosse governo, seria capaz de fazer melhor?»
Pouco tendo eu a ver com o espaço 'laranja', estivesse o PSD no governo com uma programa de acção semelhante ao que está em curso, havia de ser bonito, vermos o PS no seu papel de defensor do Estado social que sabemos - uma tempestade perfeita (socialista).
Quanto ao "superior interesse nacional", aqui fica esta pequena constatação quântica - interesse nacional X consciência colectiva:
“O código cósmico” (a física quântica como linguagem da natureza)
«Se é que existe uma tal consciência colectiva, não faço a menor ideia de como comprovar a sua existência. Aqueles que apelam para uma consciência colectiva como «a vontade do povo» fazem-no geralmente para servir os seus interesses ou as suas opiniões políticas ou sociais»
Heinz R. Pagels, Gradiva (Lisboa)
Que fazer?
Meu caro Bartolomeu, o interesse nacional pode ser uma falácia para quem detém o poder como diz (e não é assim generalizadamente), mas não tem que ser assim para nós, cidadãos, para quem o Estado e as suas instituições não estão condenados a ser o cantão dos que põem acima dele os seus interesses pessoais.
Não escrevi que o PSD no governo faria melhor ou pior. O que eu opinei foi coisa diferente a partir da evidência dita por Freitas do Amaral sobre a fraqueza intrinseca dos governos minoritários. Pretendi só transmitir que se as lideranças dos partidos quiserem assentar numa plataforma de medidas essenciais, é possível no actual quadro parlamentar constituir um governo heterógeneo mas com outras condições de estabilidade. Pressupondo que para o País seria bom haver estabilidade.
Meu caro Joao Jardine
É verdade. Mas como vê, existem La Palisses muito apreciados entre os nossos media.
Meu caro Bmonteiro
Também não tenho provas da existência de uma consciência colectiva. Mas sei que somadas, muitas boas consciências e muitos bons espíritos, podem fazer com que muita coisa mude para melhor. Primeiro passo: querer.
Caro Dr. José Mário, acreditar que no nosso país pode existir um governo simultaneamente heterogéneo e estável e... que governe, é em minha opinião o mesmo que um pastor se lembrar de misturar um lobo ao seu rebanho, ou um agricultor juntar uma raposa ao galinheiro.
Se na actual conjuntura, e a preocupação do Presidente da República em defender a estabilidade governativa, é o que é...
Caro Paulo,
Penso que nāo será dificil formular um conjunto de medidas fundamentals que reunam consenso de uma maioria Parlamentar. Já o foi em 1983 muma situacao de emergencia onde prevaleceu o interesse nacional.
Caro José Mário,com essa lógica arrisca-se a ser acusado de contribuir para a "esquizofrenia da instabilidade" que foi hoje invocada por um lider partidário da oposição...Parece que o mote teve sucesso.
A esquizofrenia, é evidente, cara Drª Suzana, e a mais aguda, evidencia-se na classe politica. Já quanto à instabilidade, parece-me que nunca foi tão estável, fazendo fé nas palavras de Passos Coelha, na entrevista da noite passada a Judite de Sousa. No momento em que Passos Coelho afirmou que o PSD tomaria uma atitude, se a actuação do governo em algum momento a justificasse, pareceu-me escutar, vinda debaixo de uma pedra tumular de Santa Comba do Dão, a voz de um homem dizer «Está tudo muito bem, não poderia estar melhor»
Meu caro Bartolomeu, ao contrário do que o amigo possa pensar não sou ingénuo. Coloco-me todavia numa posição de "dever ser" que era a que eu gostaria que fosse a dos responsáveis partidários e a dos que podem influenciar o futuro deste País. Quanto à viabilidade de um governo heterogéneo e ao seu contributo para ajudar a superar as dificuldades, se recuar uns anos verá que existiu um governo assim.
Meu caro Paulo,
Nenhuma intenção em me furtar à sua questão que não entendi como um desafio para enunciar aqui o que penso deverem ser as bases de um entendimento parlamentar que permita evitar eleições e adoptar medidas adequadas a uma situação que se percebe é de enorme gravidade. O que quis significar foi tão só que o actual quadro parlamentar permite encontrar uma composição de governo assente num conjunto de medidas essenciais que só uma maioria alargada permite aprovar e garatir a sua aplicação. Acredito que os partidos, se deixarem de olhar para o imediato e pensarem no futuro, conseguem chegar a um denominador comum até 2013.
Suzana, é o risco dos desalinhados...
Espanta-me que alguėm pense, sem reserva mental, que a actual situação ė de estabilidade. E mais estranho que quem expõe esse julgamento pense que pode ser levado a sério.
Longe de mim, caro Dr. José Mário, adjectiva-lo menos ilustradamente, seja de que forma for.
O meu caro Amigo, merece-me todo o respeito e consideração. E, se mal me expressei, dando-lhe essa imagem, peço-lhe que me desculpe.
Concordo consigo, caro Dr. todas estas nossas opiniões se situam no campo meramente da suposição e esse, para além de vasto, permite-nos idealizar sem limites.
No entanto, democracia, é essencialmente heterogeneidade, disso temos a certeza, o que nos pode perigosamente levar a concluir que democracia é ainda, no momento presente, uma incomensurável mentira que andamos a prégar uns aos outros, alguns com mais insistência e... incidência.
Caro Bartolomeu, não me entenda mal. Não senti que o meu Amigo me tratou com menos consideração. Bem pelo contrário, pareceu-me que o seu segundo comentário se destinava a colocar-me carinhosamente no andor dos anjinhos...
Caro Drº Ferreira de Almeida:
Subscrevo a análise de V.Exa. aqui partilhada.
De facto é uma evidência!. Se me é permitido vou adaptar, por analogia, o princípio de Peter:
-O governo chegou ao patamar mais elevado da sua própria incompetência…
Mas será que, só este governo em particular, é o responsável da situação amorfa e moribunda em que nos encontramos!? Não seremos todos, com esta tendência doentia de endeusarmos num momento e no outro imediato crucificarmos, depois a seguir negarmos a pés juntos que não votamos neles, foi nos outros, os da oposição, esses sim é que sabiam resolver a crise se fossem governo...
Acho por demais evidente que todos somos co-responsáveis, e assim tem sido desde o 25 de Abril, independentemente da área política do governo.
Agora chegamos aqui: mais pobres, azedos e sem ideias!. Nem sequer a “inteligência nacional” previu que as medidas do PECII iriam contribuir para a recessão do País!...Venha o diabo e escolha, diz o mesmo Povo!
Chegou a altura de dizermos basta!. Temos consciência de que até aqui a coisa foi dando e andando, mas já não anda nem dá mais!
Impõe-se, portanto, que a consciência individual seja entendida e tomada como colectiva, as forças políticas mais representativas assumam as suas responsabilidades, que convirjam nos interesses reais do País, e se deixem de protagonismos tolos, e de certeza sem glória…
Já percebi que não acredita nas minhas intenções, caro Dr. José Mário. Mas na verdade, no meu segundo comentário, referi-me explicitamente a "acreditar" e não em "angelicar".
Aliás, devo confessar-lhe que nutro imenso apreço por todoas as pessoas que nos tempos actuais encontram em si mesmas a força anímica para acreditar.
Por favor, não desmoronemos esse pilar que ainda sustenta alguns espíritos, talvez aqueles que serão chamados um dia à nova nau de Noé. É muitíssimo provável que sejam eles os futuros salvadores da pátria... e do mundo, até!
Caro jotaC,
Tem toda a razão. Fujo a falar de culpas e responsabilidade no sentido de pecado. Mas para efeitos de raciocínio, culpados somos todos nós. Não só pelo que fizemos e deixámos fazer, mas também por esta "moral colectiva da desgraça" (expressão que ouvi agora mesmo uma psicóloga utilizar) que nos subtrai a "força anímica" a que se refere Bartolomeu. Isso explica o sucesso do "que parva que eu sou"...
Caro Bartolomeu,
Quem são, quem são eles, os salvadores??
Como... poderá... imaginar... caro... Dr. José... Mário... não... compete... ao... Bartolomeu... opinar... acerca... dessa... matéria.
O... assunto... deverá... ser... debatido... na... na... na... Assembleia...da... da... da... República... que... é... o... orgão... com... competência... para... estudar... essa... matéria... e... dizer... aos... portugueses... quem... será... o... próximo... governo... ... ... heterogéneo.
Peço desculpa... peço desculpa... não... vale... a... pena... insistir.
O... Bartolomeu... já disse... tudo... o... que... tinha... para... dizer... acerca... desta... matéria.
;)
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