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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Retórica da Desculpabilização entra em fase "patética"...

1.“Portugal está a fazer o seu trabalho, a Europa tem ficado aquém”...Esta frase consta de uma declaração pública, feita esta emana por um membro do Governo...lê-se mas já não se acredita, é caso para dizer.
2.E já não se acredita porque esta frase, na sua simplicidade e no seu imenso simbolismo, traduz ou ilustra um estado de espírito que tem animado os nossos governantes desde há uns anos a esta parte e que, em resumo, se pode caracterizar nos seguintes pontos:
(i)fuga sistemática às responsabilidades;
(ii)horror à verdade;
(iii)criação sucessiva de falsas expectativas e uso e abuso de explicações “esfarrapadas” quando, a jusante, essas expectativas acabam goradas;
(iv)procura incessante de culpados externos (mercados, agências de rating, especuladores, americanos que conjuram contra o Euro e, por fim, a Europa...) para aquilo que é obviamente nossa responsabilidade em primeiro lugar;
(v)não assumir nunca a humildade de reconhecer os erros cometidos como se fosse razoável esperar que os cidadãos devam acreditar na infalibilidade dos governantes...
(vi)procurar dissimular os factos comprovativos dos insucessos das políticas...
(vii) etc,etc,etc...
3.O que é que a Europa deveria fazer, para “não ficar aquém”? Pagar as nossas dívidas, agora que estamos afogados em dívidas? Agora é que nos lembramos de pedir “socorro” à Europa?
4.Mas será que, quando contraímos essas dívidas pensamos bem no que estávamos a fazer? Porque não pedimos o "aval" dos nossos parceiros europeus na altura em que tratamos de contrair essas dívidas - estávamos distraídos?
5.E quando ratificamos e assinamos o Tratado da União Europeia não nos apercebemos que havia lá uma disposição proibindo o “bail-out” dos países que fossem membros do Euro?
6.Ou assinamos e ratificamos esse Tratado, nomeadamente com as alterações aprovadas em 2004, pensando que seria um documento sem qualquer valor vinculativo, apenas para ter mais uns motivos de festejo e para podermos dizer garbosamente, como tantas vezes ouvi, que pertencíamos ao pelotão da frente do Euro?
7.Também esta semana, outro membro do Governo (feminino,aqui há pelo menos pluralismo), afirmou que “o desemprego é consequência da crise económica e não do insucesso das políticas”...
8.Como instrumento de “decoupling” completo e total entre as políticas e os seus resultados, esta frase merece ser emoldurada e colocada em todas as repartições públicas...
9.Por tudo isto, o título deste Post: a Retórica da Desculpabilização entrou, decididamente, numa fase "patética"...que mais nos restará ouvir?

11 comentários:

Bartolomeu disse...

Relativamente ao ponto 4 deste post, caro Dr. Tavares Moreira, penso que HOJE, todos os portugueses saberão que aquando da contracção de tão grande dívida, não estávamos distraídos e, sabíamos perfeitamente que tínhamos um BPN para pagar, reformas milionárias, edministrações e derrapagens de empresas públicas e seus pópós e viagens, fundações e trinta-por-uma-linha.
Agora... hoje os portugueses, encontram-se em estado catatónico com períodos mais frequentes de passividade, que de excitação.
Talvez a nossa memória esteja no processo de defesa que o caro Professor Massano Cardoso tão bem expos no seu post "Esquecimento"...

Anónimo disse...

Caro Tavares Moreira,

Nem os mais fervorosos militares da comunicação socialista escapam ao ridículo quando percebem o que têm pela frente. Quando se lhes coloca um microfone à frente, ficam tão deslumbrados com o seu papel que até confundem "pedidos de dinheiro emprestado em espiral" com "emissão de dívida", como se o problema fosse um caso de semântica e não de matemática. E o mais preocupante é que nós vemos e revemos as declarações e ficamos cada vez mais convencidos que eles acreditam mesmo no que estão a dizer. E isso é que é o mais preocupante. Se reparar bem nas imagens que vão surgir nos próximos dias, quando eles falam do apoio que esperam da da Europa e do BCE, parece que estão a falar do Pai Natal que não apareceu a horas na chaminé. E o Pai Natal por vezes é especulador.

Eduardo Freitas disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Realmente o que vamos ouvindo por parte dos nossos governantes (?) ultrapassa, em muito, os limites do imaginável. Confesso ter esgotado o meu léxico adjectivaante pelo que já só me resta a interrogação: Negação, mentira ou simplesmente ignorância?

Anónimo disse...

Ouvi a declaração do secretário de estado, confesso, sem que me causasse qualquer impressão.
Ouvi também a senhora ministra do trabalho no momento que Tavares Moreira refere.
Acabo de ouvir o PM a dizer que o problema do País é não fazer as obras polémicas, não é fazê~las. Sem qualquer comoção.
Está visto. Fiquei imune, para usar o termo bondoso do post, à patetice.

Tavares Moreira disse...

Caro Bartolomeu,

Relativamente ao ponto 4 do Post, respeitando certamente a sua opinião, tenho sinceramente muitas dúvidas que esta gente soubesse exactamente o que estava a fazer quando se lançaram numa escalada de endividamento sem qualquer nexo nem controlo, nomeadamente nestes últimos 6 anos (a fase que apelido de FATAL)!
O grande problema é que esta gente, apesar da brutal evidência que se abateu sobre o País, continua a não ter a menor noção do que são os requisistos mais primários da política económica em ambiente de moeda única e provavelmente nunca irão perceber...
Estão a adoptar as medidas de austeridade - se é que assim se podem chamar - apenas porque bateram na parede, por mais nenhuma razão...
Por isso é que ao mesmo tempo que as adoptam, terrivelmente contrafeitos, se queixam amargamente da Europa, para dar a impressão aos incautos (que ainda os há e haverá) "que isto está a ser feito por causa da Europa"!!!

Caro Flash Gordo,

Essa imagem do Pai Natal atrasado na hora de chegada até tem piada, sim senhor!
Eles não acreditam nem deixam de acreditar, tanto quanto me é dado entender, o que me parece é que neste momento se estão comportando como "baratas tontas" em busca aflitiva (já a entrar no plano da comicidade trágica como se constata pelos dois exemplos que referi), de novas fórmulas da Retórica da Desculpabilização!

Caro Eduardo F,

O mais provável é que as 3 componentes que refere se encontram misturadas no trágico Blend que caracteriza o comportamente destas criaturas!

Caro Ferreira de Almeida,

Sem comoção, de acordo, posto que este tipo de declarações até deveria propiciar mais o riso que qualquer outra reacção...
O problema é a tragédia que se está abatendo sobre tanta gente que não tem responsabilidade no assunto e está pagando uma factura elevadíssima!
Talvez por isso a reacção mais adequada talvez deva ser, nesta fase, a náusea - mas como antecamara para a indignação, em crescendo, que será certamente a fase subsequente!

Bmonteiro disse...

«Portugal está a fazer o seu trabalho, a Europa tem ficado aquém»
Não tarda, Portugal estará, uma vez mais, a dar lições ao mundo.
Ainda que orgulhosamente só, mas na vanguarda. Uma lição para os vindouros e um espanto para os estrangeiros.

Tonibler disse...

Por acaso não é verdade, tem feito muito pelo país, o BCE tem cedido fundos aos bancos europeus cá sediados, às empresas europeias fundadas em território português, aos cientistas portugueses, etc...

O que não têm feito é dado dinheiro à municipalidade chamada "estado da república portuguesa", mas essa é uma história repetida por todos os autarcas, penso que da Europa inteira, o governo da república portuguesa é só mais um conjunto de autarcas a protestar. Só mesmo os políticos portugueses é que ainda não perceberam que o país já não existe e que o governo já é uma mera municipalidade com problemas de tesouraria. Mas não são todas assim?

Claro que ainda há um espernear de quem ainda tenta roubar mais uns trocos, mas o destino parece-me já irremediavelmente traçado e, pior, muito próximo de estar finalizado, como a atitude do BCE, por exemplo, mostra bem.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Quando saiu o primeiro "aviso" o célebre artigo do Der Spiegel estive para comentar como se segue, não o fiz porque não seria entendido;acho que, agora, está na hora.
Conta-se (não sei se como anedota) aquela estória do italiano que soube que a namorada do irmão enganava-o (ao irmão).
Dividido entre dizer e não dizer, encontrou a solução italiana: convidado para casa do irmão, entrou com o sobretudo no braço e, depois de cumprimentar, "pendurou" (ao sobretudo) na cabeça do seu irmão.
Conta a história que compreendeu logo e não ficou "chatiado" com o mensageiro.
Andam-nos a pendurar os sobretudos mas, parece que não queremos entender.
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro BMonteiro,

Boa síntese, a sua...se me permite, alterava apenas o tempo da oferta de lições ao Mundo.
Parece poder concluir-se, pela frase citada neste Post, que pelo menos à Europa já estamos dando lições...
E o mais extraordinário é que a Europa mostra dificuldade ou reloutância em aprender...enfim somos uns Mestres incompreendidos!

Caro Tonibler,

Estamos perante mais um comentário típico da sua lavra!
Ironia caustica, caricaturação perfeita de uma realidade que os media de serviço (quase todos) se esforçam, a bem da Nação, por disfarçar...
Enfim, Tonibler no seu melhor!

Caro João,

Essa de transformar a cabeça do irmão em cabide para que, sem necessidade de palavras, ele percebesse o que ia lá por casa é simplesmente notável!
Mas olhe que se fizessem o mesmo à rapaziada cá do burgo, seriam capazes de capturar o sobretudo, interpretando o gesto como se de uma oferta generosa se tratasse...
Não será essa a origem da falta de entendimento que refere?
Ou seja não se trata de uma falta de entendimento mas de um entendimento radicalmente distinto daquele que os ifalianos perfilhariam...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira
Quando escrevo já é público as declarações de JCTrichet expressamente sobre Portugal.
O seu comentário não podia ser mais a propósito, não tenhamos dúvida,têm mesmo um entendimento muito diferente......Trichet que o diga...
Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro João,

Não será que Trichet está a incorrer num acto de má educação, pondo em dúvida a justeza e suficiência das medidas adoptadas pelos governantes lusos bem como a reconhecida infalibilidade destes?
Trichet arrisca-se a fazer companhia a Alexandre Soares dos Santos nalgum estabelecimento correccional, quiçá em Vila do Conde, no velho convento de Sta Clara...