Abro o jornal, nem sei para quê, um velho hábito, e leio a notícia de mais uma beatificação, uma portuguesa. Parece que as coisas dos milagres estão a mudar por estas bandas. Beatos e santos a nascerem, não como cogumelos, mas como frutos da santidade. Milagres. Milagres, quanto mais milagres mais beatos e santos, e todos na área da saúde, uma verdadeira mina. Dizem que é por causa da fé. Não sei, às tantas até deve ser, mas não me importo muito, ou talvez importe. A descrição da vida destas pessoas revela atos, comportamentos e atributos notáveis e, por isso, deviam dispensar, para poderem obter os tais graus de santidade atribuídas pela instituição, os tais “milagres”. Mas não. São precisos “provas”. Mas para quê estes tipos de provas? Não bastaria o reconhecimento da obra e a dedicação aos demais para poderem obter o estatuto de beato ou de santo? Não compreendo. Já sei que algumas pessoas ao lerem estas reflexões deverão concluir, como é que ele pode compreender se estas coisas são do âmbito da fé? Está bem, mas eu não tenho nada contra a fé, nem posso ter, nem nunca tive, nem nunca irei ter. O que me aflige é a imposição de certas regras, de testemunhos, de provas que não me dizem grande coisa, pois não, voltamos ao mesmo, ao foro da fé,
Há quem acredite em milagres. O conceito de milagre é muito curioso, alberga tanta coisa fabricada à medida dos interessados e dos interesses. É preciso um para se ser beato e depois um segundo para ser graduado em santo. Chegados aqui, esmorecem os milagres. Mesmo que os titulares dos novos cargos continuem a realizá-los, deixam de ser relatados. Deviam ser noticiados. Devia haver mesmo uma atualização curricular dos milagres de quando em vez, para saber se continuam a fazê-los ou não. Não conheço nenhum que tenha sido despromovido por não continuar a miracular. Uma espécie de recertificação que deveria ser feita de tempos a tempos. Controlo de qualidade. Já estou a imaginar as críticas às minhas palavras. Críticas e epítetos pouco satisfatórios, que não me incomodam, pela simples razão de que não pretendo ofender os que têm fé, mas somente fazer algumas observações quanto aos “processos”, nada mais.
A novel beata, portuguesa, tem um currículo notável como benfeitora e humanista, não precisando de nenhum milagre para ser reconhecida a sua “santidade”. No processo de beatificação, que decorreu num estádio de futebol, outro tipo de templo, chamou-me a atenção a presença de uma relíquia da senhora, uma falange! Mas como é possível? Relíquias? Partes do corpo? O que terá aquele pedaço de osso de importante? A fé necessita de restos de pessoas para se manifestar? A fé precisa de matéria orgânica? Que raio de fenómeno é este? A espiritualidade necessita de matéria para se expressar em toda a sua plenitude? Uma falange? Ainda bem que não restam quaisquer vísceras da senhora, se não acabariam por andar a passear ou cair em qualquer altar. Já agora gostaria de saber onde é que foram buscar a falange! Há aqui qualquer coisa que não bate certo, ou talvez bata, se olharmos para os nossos antepassados, ou para os povos primitivos que sacralizam certos objetos, ou restos humanos, verificamos uma notável identidade.
Nada muda, apenas se transformam usando novas roupagens.
Isto, afinal, nunca mudou, nem vai mudar e continuamos com milagres só na área da saúde, porque onde eram mesmo precisos nem vê-los ou cheirá-los! Era bom, era, mas só com muito trabalho, dedicação, empenho e sacrifício é que se consegue fazer os verdadeiros “milagres”, sem necessidade de recorrer a falanges para manter a “fé” na mudança para um mundo melhor e mais justo.
Há quem acredite em milagres. O conceito de milagre é muito curioso, alberga tanta coisa fabricada à medida dos interessados e dos interesses. É preciso um para se ser beato e depois um segundo para ser graduado em santo. Chegados aqui, esmorecem os milagres. Mesmo que os titulares dos novos cargos continuem a realizá-los, deixam de ser relatados. Deviam ser noticiados. Devia haver mesmo uma atualização curricular dos milagres de quando em vez, para saber se continuam a fazê-los ou não. Não conheço nenhum que tenha sido despromovido por não continuar a miracular. Uma espécie de recertificação que deveria ser feita de tempos a tempos. Controlo de qualidade. Já estou a imaginar as críticas às minhas palavras. Críticas e epítetos pouco satisfatórios, que não me incomodam, pela simples razão de que não pretendo ofender os que têm fé, mas somente fazer algumas observações quanto aos “processos”, nada mais.
A novel beata, portuguesa, tem um currículo notável como benfeitora e humanista, não precisando de nenhum milagre para ser reconhecida a sua “santidade”. No processo de beatificação, que decorreu num estádio de futebol, outro tipo de templo, chamou-me a atenção a presença de uma relíquia da senhora, uma falange! Mas como é possível? Relíquias? Partes do corpo? O que terá aquele pedaço de osso de importante? A fé necessita de restos de pessoas para se manifestar? A fé precisa de matéria orgânica? Que raio de fenómeno é este? A espiritualidade necessita de matéria para se expressar em toda a sua plenitude? Uma falange? Ainda bem que não restam quaisquer vísceras da senhora, se não acabariam por andar a passear ou cair em qualquer altar. Já agora gostaria de saber onde é que foram buscar a falange! Há aqui qualquer coisa que não bate certo, ou talvez bata, se olharmos para os nossos antepassados, ou para os povos primitivos que sacralizam certos objetos, ou restos humanos, verificamos uma notável identidade.
Nada muda, apenas se transformam usando novas roupagens.
Isto, afinal, nunca mudou, nem vai mudar e continuamos com milagres só na área da saúde, porque onde eram mesmo precisos nem vê-los ou cheirá-los! Era bom, era, mas só com muito trabalho, dedicação, empenho e sacrifício é que se consegue fazer os verdadeiros “milagres”, sem necessidade de recorrer a falanges para manter a “fé” na mudança para um mundo melhor e mais justo.
4 comentários:
Bem pensado. Se reclamar ter sido tratado dos calos por meter uma figura do Padre Frederico nas palmilhas, ele será beato?
Um tipo que conheço e se declara agnóstico, perguntou-me um dia; olha lá, pá. Se Deus existe e é omnipotente, então, consegue fazer uma montanha tão grande, que não seja capaz de poder com ela!?
Respondi-lhe; onde?
Realmente, também me intrigou essa relíquia da falange!
Enviar um comentário