Acordámos hoje com a grande emoção da decisão dos cidadãos
britânicos de sair da União Europeia, 52% versus 48%. Vieram logo as notícias
em catadupa, os mercados a descer a pique, ai ai o valor da libra, o Banco
central inglês a dizer que “fará o que for preciso” (onde é que já ouvimos
isto?) para amparar este movimento brusco, até que tudo se acalme. Já chovem as
garantias aos imigrantes, afinal tão importantes na economia,
imagine-se.
Já todos aprendemos por esta altura que, em política, são
muito raros os movimentos telúricos capazes de mudar de imediato o estado das coisas tal como convêm ou, se quiserem, tal como
sabemos lidar com eles.
Quando se tratou de referendar a então chamada Constituição
europeia, condição sem a qual tudo se desmoronaria, os desmancha prazeres dos
holandeses votaram não. Aconteceu alguma coisa de terrível? Mudou o discurso
europeu?
Quando a Grécia, pressionada para sair do Euro, ou da UE, ou
do que fosse, promoveu um referendum “sim ou não” às medidas de austeridade
imprescindíveis para continuar a ser financiada, votou “não”. À grande comoção
do “e agora?” seguiu-se o trabalho de bastidor
de modo a compor tudo, a Grécia aceitou a agenda, ao menos formalmente, a
Europa achou que os tinha metido na ordem, e nunca mais se falou do assunto. E,
já agora, recomeçaram as negociações para a Turquia entrar na UE, tinha graça
que a Turquia entrasse e a Grécia saisse, não tinha? Já viram o mapa da região?
O Reino Unido estava na UE ou não? Estava, formalmente. Mas,
na prática,negociou um estatuto de “excepção” ou seja, estava assim assim, para
o que desse jeito caso a caso, e a Europa que pensasse duas vezes com
exigências futuras porque, senão, lá se partia o fiozinho. Passada esta emoção,
a engrenagem funcionará, os acordos já estavam feitos, o RU ficava, saindo e
agora sairá, ficando. Entretanto, todos terão tempo para ajustar o que tiver
que ser ajustado, no interesse de todos. Não sabemos como? Mas já antes não sabíamos, o que é hoje
um país sozinho, uma Ilha, a dar-se ao luxo de destruir as suas pontes?
Chegados aqui, incluindo o tão falado acordo transatlântico
que obrigará a Europa a engolir boa parte do seu esmero regulamentar que o RU
tanto contesta, afinal o que está a Europa a defender, o que mudaria se o RU
tivesse votado 52% sim e 48% não?
Manda a prudência que não se façam perguntas quando não se
está preparado para as respostas, parece que Cameron não sabia disso, mas quem
lhe suceder tratará de proteger o RU da resposta. E a EU também.
12 comentários:
Interessante e lúcido comentário o seu, cara Suzana. O "Rule Britannia" não vai começar a tocar da noite para o dia. As coisas seguirão à sua velocidade normal, ao seu ritmo, e um novo equilibrio será criado. A Inglaterra não vai afundar-se no mar.
A minha previsão: o RU sai, mas fica com um estatuto especial, ou seja, passa de membro da UE com estatuto especial a não membro da UE com estatuto especial. quantificando, passa de membro a 51% para não membro com estatuto de membro a 49%. Vai apenas tentar reduzir um pouco as suas contribuições e entrada de imigrantes ilegais.
Vamos ver o que sobra de RU no fim....
Eu sou um apoiante destes referendos. Até acho que Portugal devia referendar se ficaria ou não na Republica Portuguesa.
Dixit canis ossi: eris durum sed non festino!
Magnífico!
Pois seja bem reaparecida, cara Suzana! Vejo que essas férias sabáticas lhe aumentaram, se possível, a clarividência e o sentido de humor. A partir de agora, a plateia exige um post diário. Para compensar os que tem perdido...
Pois é isso, caros Zuricher e Alberto Sampaio, esperemos que haja a sabedoria e a sensatez para não deixar que se afundem os outros.
Caro João Pires da Cruz, nada de mais ideias, por agora chega-nos este susto :)
Caro Bartolomeu, é quase tão enigmático como os resultados dos referendos e as conclusões que nos permite tirar! Como tem passado?
Caro Pinho Cardão, pois aqui estou com o gosto de sempre, já tinha imensas saudades, um abraço e obrigada.
Felizmente, bem, cara Dra. Suzana. Em regime de eremitério, observando o mundo cá do alto e rindo-me (quanto possível) da insensatez humana.
O enigma-não-enigma, resolve-se usando da mesma paciência do cão, face á dureza do osso...temos tempo... e o tempo dir-nos-á que a razão não é propriedade privada.
Caro Bartolomeu, ainda bem que está em forma, o posto de observação deve ser inspirador, quando se está no meio da balbúrdia é muito difícil ver com alguma clareza o que deve preocupar-nos e o que apenas é atirado para nos entreter, nem sempre o tempo vem a tempo de esclarecer. Cumprimentos amigos.
Suzana, seja bem aparecida e com um óptimo texto.
Para os responsáveis europeus o resultado não surpreendeu, o que surpreende é que mostrem ter ficado muito surpreendidos.
Agora, uns sentidos, outros zangados, querem que o divórcio seja rápido, como se não existissem muitas coisas que é necessário negociar. Será um divórcio a bem ou a mal? O tempo dirá, não adianta especular. Mas o caso não parece simples.
Margarida, como acontece na generalidade dos divórcios, há culpas de parte a parte, muitas vezes só se pensa bem nas razões quando já está tudo estragado, ou quase quase quase... Neste caso, não há divórcio amigável porque está muita coisa em causa bem difícil de dividir ou de viver sem elas, quem sabe se os desavindos não vão optar por manter uma...união de facto?
Cara Suzana Toscano,
Ora aqui está uma boa notícia, a do seu retorno. Até fiquei preocupado com a sua ausência, mais do que com a futura ausência do RU das reuniões do Conselho.
Cumprimentos (e se me permite um grande abraço), IMdR
Obrigada, caro Ilustre Mandatário do Réu, é um enorme gosto voltar ao 4r :)))
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