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terça-feira, 28 de novembro de 2006

“Hermafroditismo linguístico”…

A luta pela igualdade entre os sexos tem vindo a revestir-se de novas formas, não muito exuberantes, mas, sem sombra de dúvidas, cada vez mais eficazes. De facto, é um imperativo e uma necessidade que não haja qualquer tipo de discriminação. No entanto, assistimos com frequência inusitada a alguns comportamentos que dificultam o discurso, quer o escrito, quer o falado, nomeadamente, a tendência para o emprego das palavras no feminino. É de bom-tom, falar em cidadãos e cidadãs, em portugueses e portuguesas, ter cuidado em não referenciar Homem como sinónimo de masculino e feminino, e, muito provavelmente, ainda acabaremos por dizer Pátria e Mátria, Deus-Pai e Deus-Mãe…
Agora, na Alemanha, foi publicada uma nova versão da Bíblia, considerada “politicamente correcta”. O objectivo prende-se com a necessidade de utilizar uma “linguagem mais justa”. Deste modo, e a título de exemplo, as palavras iniciais da oração ao “Pai-nosso” passam a ser “Teus filhos e filhas, Deus que é nossa Mãe e nosso Pai nos Céus, santificado seja o Vosso nome…”
Os teólogos reconhecem o carácter assexuado de Deus, embora alguns contestem esta nova formulação em que ao lado do género masculino tem que surgir, também, o género feminino.
Aquando da minha passagem pela Assembleia da República fui confrontado com esta nova realidade a ponto de ser “repreendido” por algumas colegas que me alertaram para o carácter demasiado “masculinizante” (linguisticamente falando!) das minhas intervenções. Lá tive que fazer um esforço para não discriminar o género feminino usando as palavras mais adequadas ou, então, as mais neutras possíveis. Não foi fácil! E, a este propósito, recordo-me da discussão na especialidade da proposta de lei de bases da educação. Muitos artigos referenciavam "crianças de ambos os sexos". O objectivo dos proponentes, por influência do lóbi feminista, era, precisamente, reforçar a necessidade da igualdade entre os sexos. Só que neste caso concreto, a palavra crianças não se confunde especificamente apenas com meninos ou meninas. Serve para ambos! Ao permitir que ficasse contemplada no texto legal, a expressão, "crianças de ambos os sexos", poderíamos restringir o alcance da lei a um grupo muito restrito de hermafroditas verdadeiros! Lembro-me dos sorrisos, despertados por esta observação. Deste modo, com a “anuência” das senhoras deputadas (de todos os partidos), acabámos por aceitar apenas crianças…
Voltando à Bíblia alemã, traduzida por 40 mulheres e dez homens, parece que se esqueceram de feminizar certas palavras! Assim, Satanás, Diabo, Demónio e Mal continuam a ser palavras “masculinas”. E ainda se queixam de discriminação…

6 comentários:

Suzana Toscano disse...

40 mulheres e 10 homens a traduzir e a fazer o "lifting" para o dito "politicamente correcto" só podia deixar sem correspondência essas figuras masculinas!Quem parte e reparte...:)

Tonibler disse...

Creio em Deus epiceno....


Já agora, a Eva ainda é mulher?

BigX disse...

Assim de repente, ocorreu-me um pequeno episódio passado num jantar de família: em amena cavaqueira, e após vários comentários feministas e as respectivas respostas dos "machos", impõe-se a voz de um dos homens presentes, 89 anos de experiência e um eterno olhar maroto: "Os homens são os melhores em tudo o que fazem: na cozinha, na costura, na condução, no desporto, na arte, na ciência, na política... quem está no topo de todas as áreas são homens..." - o coro de protestos das senhoras foi abafado logo de seguida "...mas quem manda nos homens, são as mulheres."

SC disse...

E está certo, biblicamente...
A mulher é só a tentação, A SERPENTE, que também, espero, não "masculinem"!...
O diabo só pode ser masculino.
Paradoxo: E a verdade é que damos especial apreço às endiabradas!!!

Massano Cardoso disse...

E o diabo de saias?
Esqueceu-se!...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Professor Massano Cardoso,

Não é incorrecto – sendo, por isso, correcto – tratar os senhores por senhores e as senhoras por senhoras; é até simpático, uma forma de dirigir-se e de agradar não só a uns, como a outros.
Mas parece que este desejo de separar permanentemente os dois sexos, ficando na dúvida qual vem em primeiro lugar, se destina a ganhos; ganhos, por exemplo, em termos de resultados pedagógicos (meninos e meninas, na escola primária, senhores e senhoras, na universidade, etc.).
Parece-me, porém, que é propositada esta diferenciação – sem ter a ver com a justeza, directamente, das pessoas serem tratadas segundo o seu sexo – no intuito de segmentar o apoio; o apoio para a venda de produto ou serviço, mas sobretudo o apoio para a venda de votos políticos e apoios nas sondagens.
Porque isso dá votos, segmentar é melhor: segmenta-se com homossexuais, segmenta-se com idosos, segmenta-se com pessoas com deficiência, segmenta-se com operários e camponeses; porque não se havia de segmentar com as mulheres, se isso dá lucro?