Foi ontem divulgado um relatório da Standard & Poor’s (S&P), segundo o qual a persistência do elevado défice externo de Portugal constitui uma ameaça ao rating atribuído ao País enquanto emitente de dívida nos mercados internacionais.
Não se trata de uma ameaça iminente – convém recordar que o rating atribuído pela S&P foi revisto em baixa (para AA-) ainda em 2005.
Mas é um aviso sério, pois a persistência de um défice externo muito elevado contribui para o agravamento da dívida – Estado, Famílias, Empresas - a credores externos, tornando cada vez mais pesado o serviço dessa dívida.
No caso português esta situação está a ganhar contornos “esquisitos”.
Apesar (i) de todos os esforços e acções, diariamente publicitados, para melhorar a competitividade da economia, (ii) dos anúncios de que se assiste a uma recuperação – ou até de que a crise já terá terminado, (iii) das medidas de contenção orçamental tão ventiladas, a verdade é que o défice externo se mantém a um nível extremamente elevado.
Há aqui qualquer coisa que não bate certo.
Este ano, o défice da balança corrente, não obstante o bom desempenho das exportações de bens e serviços, deverá voltar a situar-se próximo de 9% do PIB, sendo financiado por entradas de capital em pouco mais de 1,0% do PIB, sendo o restante financiado por mais dívida ao exterior.
Apenas em 2003, aquando da gestão Ferreira Leite, que usou mesmo os “travões” não se limitando a proclamar que o fazia, este défice veio para a casa dos 3% do PIB, tendo voltado a subir logo depois, em 2004 e 2005.
Como referi no POST que aqui dediquei em especial ao défice na rubrica dos Rendimentos, em Agosto último, a evolução desse défice é o reflexo desta espiral de endividamento que parece não ter fim.
É nesta rubrica que se registam os juros pagos pela dívida ao exterior, e nos últimos 3 anos (2003-2005) a progressão do saldo negativo foi impressionante: -2059 milhões; -2375 milhões; -3161 milhões.
E até Setembro deste ano o défice dos Rendimentos excede já largamente o valor total apurado em 2005, cifrando-se em -3418 milhões, sendo provável que no final do ano mais do que duplique o valor contabilizado em 2003, ou até quase duplique o de 2004.
É a esta luz que se justifica reflectir sobre as implicações financeiras de projectos como o da OTA.
Pouco importa que o projecto OTA seja financiado mais ou menos por capitais públicos ou privados, para este efeito. Em qualquer caso, são capitais que não existem no País, pelo que será necessário recorrer ao financiamento externo.
A grande questão é que a OTA durante longos anos – se é que alguma vez – não irá gerar recursos para cobrir o serviço da dívida externa que vai ter de ser contraída.
E serão alguns milhares de milhões de Euros (4 a 5 mil milhões?) aumentando este défice já hoje “sufocante”.
Por este andar, apesar dos avisos, a S&P acabará mesmo por baixar, mais uma vez, o rating da República. Quantas vezes mais, até que sejamos capazes de perceber?
E essa decisão terá como efeito agravar mais ainda o serviço da dívida, subindo os spreads sobre as taxas de juro.
Poderemos chamar a isto uma “espiral de sufoco”?
Talvez, mas pelos vistos pouca preocupação suscita no”establishment”. Até ver.
3 comentários:
Pegando aqui no comentário do camarada Pinho Cardão, se os membros do governo e outros políticos (gostei desta...) percebessem alguma coisa disto então saberiam que não deveria haver qualquer investimento em comunicações nos próximas décadas, seja ele OTA, TGV, SCUTS, caminhos de cabra, etc...que não seja reactivo.
Agora, o relatório da S&P não é uma encíclica papal, os tipos da S&P não passam de auditores que, de quando em vez, têm que levar nas orelhas. A acreditar naquilo que veio transcrito na imprensa, há conclusões abusivas que deveriam ser questionadas de forma clara pelo governo uma vez que essas conclusões podem sair caras. Défice externo escandalosamente elevado tem os EUA, a quem a S&P não arrebita cabelo porque senão estava fora do mercado amanhã de manhã.
Resumindo, a S&P tem razão em parte, mas só em parte. Logo o governo devia contestar para que, para a próxima, só abrem a boca quando tiverem toda a razão.
Li com imenso agrado, pela seriedade que revela, o texto da autoria do Dr. Tavares Moreira a propósito do nosso defecit externo. Com S&P, ou sem ele, com mais ou menos credibilidade desta sociedade - deixemos de parte os States com o seu dólar que goza de privilégios impares como meio internacional de pagamentos - o que é certo é que qualquer cidadão por menor que seja a sua cultura sobre a matéria em causa - percebe que a realizar-se o investimento relativo à Ota, coloca o país numa situação de endividamente externo grave. Gostava de advinhar qual seria a classificação que a S&P nos daria então? Mesmo que a conjuntura evolua a nosso favor, até por mérito nosso, o que sinceramente não acredito, é bom não esquecer que o retorno é muito dilatado no tempo e numa visão global da balança, enfrentamos perspectivas dificeis de contornar, como é o caso do desiquilíbrio crónico da balança de bens. Não me venham com o aumento das exportações!
Talvez haja por aí um Santo Aníbal!
"Portugal foi o País que menos cresceu desde a introdução da moeda unica- o Euro" disse, hoje, um comissário europeu!
E segundo as suas declarações a situação actual não indica qualquer tipo de recuperação!
Santo Anibal nos valha! Só que não esperemos milagres!
Como noutro post disse, o nosso problema está na Educação! É que para os nossos profs, Educação ou Ensino, corporativamente, melhorar as condições dos seus estatutos e condições de promoção, significa melhoria do Ensino!
Enquanto formos por aí, nada a fazer...admitindo mesmo que, muito "poors", sejam as analises da P&S!
E queremos uma OTA, quando não há nOTA que nos salve!
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