O que se faz a um general que saia derrotado de todas as batalhas que trava, ou um gestor que falha todos os objectivos a que se propôs, ou um treinador que seja afastado da corrida ao título, da taça de Portugal e da Liga, e, também, das competições europeias?
Resposta: demite-se.
Este argumento tem sido – e bem – repetidamente invocado por Pedro Passos Coelho. A lógica impõe, de seguida, a seguinte questão:
O que se espera que faça um primeiro-ministro que não cumpre nenhuma das principais bandeiras eleitorais, que desrespeita reiteradamente as instituições democráticas, que utiliza despoticamente os recursos e o poder do estado, que sistematicamente falta com a palavra ao povo que é suposto representar?
Resposta: vitimiza-se, apelo ao medo, lança a discórdia entre diferentes grupos sociais, e cria um novo objectivo absolutamente estratégico e imprescindível para o progresso da pátria, no caso vertente: a sobrevivência do Estado de Providência.
Pouco importa que tal desiderato tenha sido inviabilizado pelo desvario financeiro dos últimos anos; o que interessa é possuir uma “narrativa” que explore a credulidade de um povo à mingua de esperança. Para reforçar a “narrativa” metamorfoseia-se o discurso da determinação e da força numa elegia lamentativa que faz da oposição anátema e do governo vítima. De tão delirante, seria de esperar uma expressiva rejeição da estratégia eleitoral socialista por parte do eleitorado; mas não é isso que predizem as sondagens.
Será, então, que o povo aderiu en masse às promessas quiméricas de José Sócrates? Não me parece! Aliás, o sucesso inequívoco do Banco Alimentar (BA) revela que as pessoas sentem o estado cada vez menos capaz de “intermediar” a sua solidariedade, pelo que preferem fazê-lo directamente ou através de instituições de credibilidade imaculada. O feliz resultado do BA denega, assim, a aderência popular ao logro socialista, algo que, acredito, irá ressoar alto no momento do voto; ao contrário do que vaticinam as sondagens. Até porque, actualmente, existem boas razões para sobrelevar os resultados das sondagens; não por manipulação, mas pela maldição de que enferma a utilização de métodos numéricos a qualquer disciplina social: a impossibilidade de testar a fiabilidade dos modelos em ambiente laboratorial, isto é, expurgados dos complexos efeitos da história.
Os modelos de que resultam as sondagens assentam em correlações históricas, cuja representatividade depende da constância do regime. Qualquer alteração da estrutura social implica falência do modelo, independentemente da sua capacidade preditiva anterior. (Este fenómeno explica o estrondoso falhanço dos modelos económicos na antecipação da crise financeira internacional.) Ora, qualquer observador atento se apercebe que o comportamento político individual está a mudar, em Portugal, como no resto do mundo; para o confirmar, atente-se no que se tem passado nas eleições mais recentes ocorridas nos países desenvolvidos. Daí ser plausível admitir que os resultados das sondagens sejam espúrios.
Se assim for, sobra o juízo analítico de cada qual na tentativa de antecipação do desfecho da contenda de 5 de Junho. Por considerar que o principal objectivo político da maioria dos portugueses é afastar J. Sócrates e que a única forma efectiva de o concretizar é o voto no PSD, eis o meu palpite (de algibeira):
PSD: 41%
PS: 29%
CDS: 10%
Alea jacta est
11 comentários:
Original a analogia entre um primeiro ministro e um treinador de futebol... Mas, infelizmente, as sondagens, por mais imperfeitas que possam ser, parecem reflectir uma crença irracional nessa espécie de primeiro ministro que nos desgoverna alegremente há 6 anos...
Excelente análise, caro Brandão de Brito. E conclusão ajustada. Não serão os 41%, mas estou em crer que o povo português não é assim tão néscio, longe disso, como as actuais sondagens pretendem indicar.
Caro Brandão de Brito, gostava muito de partilhar o seu optimismo quanto aos mais de 40% para o PSD e, sobretudo, menos de 30% (eu por acaso acho que tudo quanto seja acima de 20% é despropositado) para o PS. Mas infelizmente não consigo ser assim tão optimista como o caro blogger bem como, parece-me, o caro Pinho Cardão.
O princípio socialista não é um logro. O problema é o que se faz dele. E definitivamente o problema de Portugal é encontrar uma equação onde se joguem justiça social com desenvolvimento. Será possível? Penso que sim e penso que à medida que mais cabeças se vão abrindo ao conhecimento mais a percepção que o modelo actual é desajustado e de ancien regime. Ontem um cidadão jovem informado dizia a Louçã: a vossa mensagem é ajustada e a vossa defesa dos mais carenciados e incapazes de defrontarem um sociedade desigual é de louvar, mas verdadeiramente quando perseguem a iniciativa, o mérito, o mais gasto do Estado perseguem a bondade dos vossos argumentos?
Quando será que teremos um partido político que se ajuste aos tempos presentes, criando um Estado tendencialmente social não assente na corrupção nem no assalto aos dinheiros públicos e que devolva aos agentes económicos o seu percurso e potencial de vida?
Meus caros,
Quanto aos resultados das eleições, aceito a crítica de temeridade perante palpite tão afastado das sondagens; mas creio convictamente na eventual perda de poder preditivo das sondagens.
A aspiração de um estado efectivamente promotor da justiça social é quase utopia. Quanto maior for a intervenção "social" ou "solidária" do estado, maior serão as clientelas resultantes e a corrupção...é assim em todo o lado (com excepção da excepção universal nestes domínios: a Escandinávia). Perante esta limitação, a actuação do estado deve cingir-se, em minha opinião, à assistência aos mais desfavorecidos e aos permanentemente excluídos.
Caro Brandão Brito,
Perda de poder preditivo das sondagens?? Um dia explica-me onde é que encontrou algum, tirando o velho "à falta de melhor previsão para amanhã, o resultado de hoje serve"...
Tirando isso, concordo com a sua previsão, tinha feito uma parecida num post de Tavares Moreira há umas semanas.
Em meu entender a sua lógica não tem qualquer lógica nem segue um qualquer padrão lógico nem segue a lógica clubista. Estão os votantes fartos de Sócrates,das suas mentiras? penso que não. Ele é um ditador muito convincente e persistente à exaustão, sabe manipular como ninguém. Eu comparo-o a um qualquer pregador dessas igrejas que por cá proliferam, ou a um cão que se agarra a vítima e a não larga. Ele sabe branquear como ninguém.
Tem como adversário um anjinho...que só dá tiros nos pés e sem um discurso mobilizador, porque também ele não tem ideias para o país.
Eu pessoalmente não me revejo em nenhum deles e vá o diabo e escolha.
Temo que Sócrates tenha novamemte o poder e não prevejo que nestas circunstancias o Passos Coelho se demita.(lógica clubista)
Já sei não se demite porque o país precisa , patriotismo....Iol Iol iol
Boooommm, patriótico, patriótico era dar-lhe um tiro apesar de isto poder - eventualmente - ser entendido como um apelo à violência.
Mas quer dizer, considerando que a criatura é responsável pelo pior crescimento económico dos últimos 90 anos, pela pior dívida pública dos últimos 160 anos, pela pior taxa de desemprego também dos últimos 90 anos, so on and so forth, temos de admitir que há uma certa legitimidade para se recorrer a instrumentos menos pacíficos.
Depois logo se via quem é que ocuparia o cargo de PM, mas pelo menos ficaríamos com a certeza de que não era aquele.
Cara Anthrax,
Não lhe chegavam as balas, para proceder à necessária limpeza "patriótica".
Caro Tonibler,
Partilho desse ponto que fez sobre as sondagens; o que tentei for argumentar que mesmo para quem nelas acredita, existem boas razões para desta feita as ignorar.
Cara Margarida,
Obrigado pelo seu comentário, que gostava de comentar. Aquilo a que chama a minha lógica, que me acusa de não ter, não é lógica, mas sim axiomática: os portugueses querem livrar-se de J. Sócrates. Se eu tiver razão, pouco importa se do "outro lado" está um anjinho, ou se dá tiros nos pés (acho que o meio de locomoção dos anjos são as asas); o que importa é que é o agente de concretização da ambição que consitui o meu axioma.
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