1.Em artigo publicado na edição de hoje do F. Times, o habitual e arguto colunista Wolfgang Munchau desfere uma crítica arrasadora à intervenção do PM português acerca do plano de ajuda/austeridade acordado com a U.E. e o FMI.
2.Nesse artigo Munchau refere-se à crise da dívida dos 3 países periféricos do Euro, sustentando que essa crise é só por si insusceptível de criar problemas sérios à Zona Euro uma vez que essas dívidas constituem uma parcela muito pequena do PIB da zona - e que mesmo as dívidas públicas totais da Zona representam uma % do PIB inferior à dos USA, do Reino Unido ou do Japão, não sendo por isso um problema sério, pelo menos por ora.
3.A principal questão segundo o articulista é que a Zona Euro se tem mostrado politicamente incapaz de responder de uma forma inequívoca e eficaz aos problemas de dívida até agora detectados, situação que, a não ser resolvida, tem potencial para causar danos significativos.
4.A razão política pela qual esta crise parece ir de mal a pior à medida que o tempo passa, constitui um problema de “acção colectiva por resolver” segundo Munchau que aponta o dedo tanto aos países do norte como ao “primeiro-ministro do sul que pensa apenas no seu quintal”.
5.Com esta referência, Munchau estabelece um contraste entre o governo grego, que terá enfrentado o problema de uma forma adequada e o PM português que, segundo o autor, tem gerido e continua a gerir a crise de uma forma “assustadora”: tendo adiado o pedido de resgate até ao último minuto...
6....e escolhendo uma forma trágico-cómica para anunciar o acordo com a U.E./FMI: “Com o País à beira da ruptura financeira, ele foi gabar-se na TV de ter negociado um acordo em condições melhores do que a Grécia e a Irlanda”...”e acrescentando que o acordo não causaria muita dor”...
7.Referindo logo a seguir que, “Quando os detalhes do acordo se tornaram conhecidos, dois dias depois, percebeu-se que nada disto era verdade: o pacote contem duríssimos cortes na despesa, congelamento de salários e pensões, aumentos de impostos e a previsão de dois anos em recessão”...
8.Mas o comentário mais agreste vem a seguir: “Não é possível gerir uma união monetária com pessoas como Mr. Socrates...”.
9.Quase a concluir opina que “...as elites políticas europeias receiam aceitar uma evidência que os historiadores há muito conhecem: que não é viável uma união monetária sem uma união política...”.
10.Conhecendo-se o impacto que tem este tipo de comentários, lidos por milhões de pessoas mais ou menos interessadas nestes temas, forçoso é concluir que a “nossa” imagem externa se encontra a nível bastante rasteiro...
14 comentários:
A crise actual faz-me ter saudades da intervenção do Fundo (em Portugal) nos anos 80, pela qualidade e sentido de responsabilidade dos intervenientes... e ainda mais pelo provável resultado.
Wolfgang por Wolfgang, prefiro o outro, o Amadeus Mozart. Requiem, por requiem, prefiro também o do compositor:
http://www.youtube.com/watch?v=Zi8vJ_lMxQI
Mas se me perguntar o que prefiro efectivamente, caro Dr. Tavares Moreira, não terei qualquer hesitação, prefiro Bethovan e a sua "serenata ao luar".
http://www.youtube.com/watch?v=uwq8QjO2xes&feature=related
Sei lá... por ser mais romantica talvez, e, no final, sentimos que nos deixa na alma um espírito esperançoso, apesar de alguma taciturnidade. (taciturnidade?... tá bem)
Caro Tavares Moreira
Como lhe comentei faz já alguns posts, José Sócrate ficará para a nossa história política como o último primeiro ministro completamente português.
Passos Coelho a ser, já será primeiro não completamente nacional.
Num momento em que se aproxima, em termos financeiros, políticos e diplomáticos a tempestade perfeita, será (seria) o cúmulo do azar ter de contar, mesmo que na plateia com o actual PM.
O artigo do WM apenas reflecte o puro e genuíno espanto com que olham para a actual situação do país e mais não é que uma variante do célebre artigo do Guardian,sobre a personalidade do PM em funções
Cumprimentos
joão
Caro Caged Albatross,
Não deixando de lamentar a sua situação de "caged", registo que ela se aplica quase na perfeição à situação financeira do País..."caged country"...
Quanto ao seu comentário, acompanho-o no lamento, sem deixar de registar que alguns dos actores dos anteriores programas de ajustamento parecem não ter aprendido a lição, tendo concorrido, em grossa medida, para a situação de emergência que estamos agora a viver - e cujo resultado é, nesta altura, totalmente imprevisível...
Caro Bartolomeu,
Acompanho-o na preferência da Sonata ao Luar, para piano, de L.W. Beethoven...é de facto algo de sublime, sobretudo se ouvida à noite, em silêncio absoluto...
Ouvi-a centenas de vezes, na minha juventude...e sempre com vontade de ouvir mais uma vez...
Quanto ao Wolfgang Munchau, recomendo-lhe, se me permite, que leia os escritos dele, são habitualmente muito interessantes e, sobretudo, vão sempre muito directamente aos assuntos, não se prendem em rodeios.
Caro João Jardine,
Num registo caricatural, o seu comentário não deixa de estar próximo da realidade...
Apenas uma divergência quanto ao "completamente português" que me parece excessivo, pois me parece haver uma mistura de feirante zingaro, especializado em reduções fenomenológicas nos bolsos alheios (os contribuintes, no caso sub judice)...
Lerei, certamente, caro Professor.
Deixe-me no entanto, acrescentar duas "versões" para escutar a "Serenata ao Luar", uma...clássica;
http://www.youtube.com/watch?v=kS8eVFq1ZdU&feature=related
a outra, ligeira;
http://www.youtube.com/watch?v=bhbi8GSsqrU&feature=related
digamos que duas formas de se poder desmistificar a ortodoxia de princípios... porém, entendíveis.
;)
Pegando no Caged do Albatross e no Caged Country do Dr. TM, ocorre-me também "Caged Politians" que era o que devia acontecer a alguns dos irresponsáveis que nos andaram a governar... ou se andaram a governar, é conforme a perspectiva.
Caro Dr. Tavares Moreira, caros comentadores,
Longe de mim defender Sócrates, mas convenhamos, compará-lo depreciativamente com a actuação dos Gregos, já é esticar um bocadinho a corda... Quando muito ponham lá o homem em pé de igualdade, pois cozinhar contas, aldrabar meio mundo, e seguir tranquilamente de acordo em acordo assinando a austeridade alheia, é marca do sr. George P.
Isto não quer dizer que Sócrates não tenha uma veiazita grega... um sistema circulatório inteiro, até!
São todos maus de mais.
Já agora, no que a música diz respeito, neste momento o que se me oferece partilhar:
http://www.youtube.com/watch?v=G-kJVmEWWV8
Mozart Requiem - Lacrimosa
Seguir-se-ão Dies Irae ????
http://www.youtube.com/watch?v=iU18mdj1Mtc&feature=related
Caro Bartolomeu,
Cá temos o meu Amigo embalado nas altas cogitações...e eu a ter de puxar pelos neurónios para tentar seguir-lhe o raciocínio!
Bem haja!
Cara Anthrax,
O mais possível de acordo com a adenda que sugere - e não se importe de ser mais explícita, se entender!
Caro AF,
Creio que o articulista foi correcto ao comparar a postura responsável, extremamente ingrata, que tem sido adoptada pelo PM grego, com a absoluta irresponsabilidade demonstrada pelo PM luso!
Convém recordar que o actual PM grego herdou uma situação de contas públicas profundamente defraudadas, não se lhe podendo assacar esse pecado, pois.
Já em Portugal será bom nem abordarmos esse tema por agora pois ainda vai dar tanto que falar...
O ponto era esse e não outro, pelo que recoloco o tema à sua consideração
Estimula-me a forte influência da sua boa-vontade em partilhar conhecimento, caro Professor Tavares Moreira, e a disponibilidade para ler e entender as opiniões alheias, mesmo as daqueles que não se encontram habilitados a emiti-las... como eu.
Caro AF, garanto-lhe que o "dia do Juízo" nunca ocorrerá em Portugal!
Este, para além de um país de brandos costumes, é ainda um país de gente comprometida. E os políticos que o governam, têm perfeita consciência disso.
Por isso, podemos gastar as teclas do PC a delactar situações, a clamar justiça e a jurar vingança, que nada se alterará.
É estranho, no entanto que o país consiga sobreviver, apesar de tantos atentados sofridos. Para justificar esta evidência, só encontro uma justificação: Portugal mantem-se por cumprir.
Mas estas coisas místicas, para quem as toma em linha de conta, só acontecem quando os elementos que a compõem, se conjugam.
Provávelmente, Portugal e os Portugueses, terão de passar por todas estas provações, até que se lhes ilumine o "caminho" pelo qual deverão optar.
Caro Dr. Tavares Moreira,
Mais uma vez, longe de mim defender Sócrates!
Posso-lhe dizer que, apesar de todo o meu cepticismo, provavelmente farei nestas eleições algo que já não faço há longos anos: votar. E, se o fizer, será movido pelo desejo, talvez algo irracional, de penalizar da única forma que me é possível esse (des)indivíduo.
No entanto, o que ainda trava a minha consciência cívica neste momento, é a convicção de que outros, por menos maus que possam ser, representam ainda coisas com as quais eu não posso, honestamente, concordar.
Voltando ao artigo que colocou, reconheço que o Sr. Georgios Papandreou possa ter herdado uma situação má; quem não as herda, nos dias que correm. Em contraponto, José Sócrates é um dos grandes responsáveis pela criação da nossa situação calamitosa. Dou a mão à palmatória, nesse particular.
Caro Bartolomeu,
Em Portugal, para variar, a acontecer algo, será muito diferido no tempo.
Agora, que isto está globalmente explosivo...
Caro Bartolomeu,
Tenho de lhe dizer que estou frontalmente em desacordo com a conclusão final do seu comentário...
Porque lhe reconheço aptidão e, mais do que aptidão, honestidade intelectual - que é um bem preciso e escasso nos tempos que correm - para emitir opinião sobre estas matérias que tranquilamente nos vão ocupando neste Forum 4R...
Caro AF,
Não precisa, obviamente, de dar a mão à palmatória - nem temos palmatória para dar continuidade à sugestão...
O seu esclarecimento é aliás cabal e oxalá encontre motivação para desta vez exercer o seu direito - não precisa de dizer como, isso só a si diz respeito - porque estamos numa situação de verdadeira emergência nacional.
Desta vez os que se abstiverem, realmente não se abstêm...votam consciente ou inconscientemente a favor do aprofundamento da crise!
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