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segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Autárquicas: porque não uma leitura nacional?

No rescaldo de eleições autárquicas há sempre a distinção entre leituras convenientes e leituras inconvenientes. Extrair conclusões da agregação dos resultados das eleições locais é sempre contestável, especialmente quando em tempo de “vacas magras” quem está no Governo as acha inconvenientes, quem está na oposição as entende como convenientes. Em tempo de “vacas gordas” invertem-se os papéis. A fragilidade desta argumentação decorre em grande parte do facto dessas leituras se centrarem sempre na perspectiva dos ganhadores e perdedores. Se formos um pouco mais além talvez sejam possíveis outras leituras. É isso que tentaremos fazer.

  1. O chamado “benefício da continuidade” sendo real é frequentemente interrompido por autênticas convulsões e mudanças de ciclo fortemente determinadas por factores de ordem nacional. A duração desses ciclos tende a aproximar-se dos dois mandatos (8 anos) o que permite identificar as eleições de 1985, 1993 e 2001 como pontos de viragem para novas maiorias políticas, a saber PSD, PS e PSD, respectivamente. Nas eleições a meio do ciclo a vantagem da continuidade tende a prevalecer.
  2. As eleições de ontem enquadram-se claramente nas características de meio do ciclo, portanto na lógica da continuidade. As próximas autárquicas em 2009, em princípio, poderão ser de mudança de maioria, podendo para isso contribuir a conjuntura nacional, para mais com eleições legislativas quase simultâneas.
  3. Em todos os aspectos o tom das Autárquicas 2005 foi de continuidade quer analisemos os resultados na perspectiva do total de câmaras, quer das grandes cidades ou das capitais de distritos. O PSD manteve a liderança incontestada que já detinha reforçando-a com o saldo de mais uma capital de distrito (perdeu Faro mas conquistou de forma surpreendente Aveiro e Santarém).
  4. O que parece “anormal” nesta articulação entre liderança nacional e local é o facto de o PSD estar na oposição, mas essa história já está mais que explicada pela saída de Barroso e pela queda de Santana Lopes.
  5. Destes resultados podemos ainda extrair o facto de Sócrates estar claramente afastado dos estratos sociais médios urbanos que lhe atribuíram a vitória nas últimas legislativas (o PS dispõe apenas de 6 das 18 capitais de distrito e 3 dos 10 concelhos com maior poder de compra). O risco que o Governo enfrenta não é só de usufruir de um maior ou menor estado de graça, é o de perder irremediavelmente a sua base social de apoio.
  6. O PSD criou uma situação relativamente nova na sua história: dispõe de sustentação social de elevado potencial de mudança e qualificação, estando na oposição. Precisa agora de a consolidar através de um programa político alternativo ao do PS e que não se reduza a um negativo da fotografia socialista. O capital autárquico que consolidou poderá ser de extrema importância para investir nesse programa. Haja criatividade e sentido de futuro.
  7. Um último comentário para as restantes forças políticas. O PCP conseguir estancar a hemorragia que o debilitava progressivamente. Recuperou algumas câmaras e conseguiu segurar as duas capitais de distrito que dispunha, Beja e Setúbal. O CDS-PP perdeu dinâmica e projecto, apenas ganhou visibilidade com Maria José Nogueira Pinto que fez uma excelente campanha e nota-se que não está em condições de sair da “barriga de aluguer”. O BE desiludiu e por mais que negue não consegue disfarçar o seu mal estar perante tão limitado resultado. Francisco Louçã deveria pensar muito seriamente sobre o tipo de discurso populista e moralista que adoptou, ainda que eu considere que o mesmo faz parte da sua natureza.

3 comentários:

Tonibler disse...

As autárquicas são...autárquicas. Resultam de cada uma das 308 eleições onde o foco está ali a 5 km, não a 500. São 308 'pequenas' lutas e, do ponto de vista nacional, ganha aquele que lança os melhores 308.
O ciclo é também gerado pelo ciclo nacional. Se formos a ver bem, o PS lança apenas um 'bom candidato' à conquista de um câmara, João Soares. Tudo o resto são soluções de recurso, se calhar porque os 'bons candidatos' andam ocupados 'noutras coisas'. Em 2001, também os 'bons candidatos' andavam ocupados 'noutras coisas'. Fosse o PSD governo em 2001 e tinham Rio, Santana, Capucho, etc... para lançar nas autárquicas? Fosse agora governo e havia Frasquilho para lançar em Loures?
A continuidade é uma coincidência. A coincidência do PS apanhar as eleições estando no governo. Se o PSD fosse governo, a história teria sido diferente porque mandavam o António Costa para Lisboa, o Sócrates para Almada, etc...enquanto, provavelmente, Rio, Capucho, Carmona estavam em todo lado menos na câmara.

Espero que agora este novo 'fôlego' de independentes possa transformar as câmaras em locais de importância e não pontos de passagem.

Tonibler disse...

Caro djustino,

Se concordassemos em tudo, isto não tinha piada nenhuma...

Cumprimentos

Roberto Iza Valdés disse...
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