Ferreira de Almeida, na sua nota “Pena de Morte”, descreve a atitude de uma mãe cuja filha foi assassinada. Um comportamento só possível num ser superior. Ao condenar a morte de outros – morte legal – revela sofrer uma dor permanente que a execução do criminoso nunca poderá apagar.
A propósito do sofrimento da perda de um filho em condições trágicas, hoje, no decurso de uma consulta de rotina de medicina do trabalho, examinei um funcionário com um semblante triste, apesar do sorriso com que se me dirigiu. A última consulta tinha sido há dois anos. O passado alcoólico tinha sido ultrapassado, embora continuasse a tomar antidepressivos. Disse-me que tinha feito tentativas para deixar de os tomar, mas não conseguiu. Acenei com a cabeça dizendo-lhe que não se preocupasse. Após o exame, o trabalhador abre a carteira e tira com extremo cuidado uma fotografia e disse: - Foi há sete anos, senhor doutor, cinco aninhos e foi tirada um mês antes, num casamento. - É bonita, não é senhor doutor? Peguei a fotografia e, mais uma vez – a última foi há dois anos – olhei para uma encantadora menina. Pronunciei: – É muito bela! Pegou na fotografia e colocou-a com um desvelo difícil de explicar na sua carteira. Fiquei bloqueado e pensei o que poderia sentir um pai que perde um filho. O simples facto de ter pensado atormentou-me sobremaneira reduzindo a pó os problemas que carregava.
- Então senhor doutor, agora passo a vir de ano a ano, não é? – Não, só a partir dos cinquenta e o senhor está com quarenta e cinco. – Ah! Então só daqui a dois anos! – Sim.
Daqui a dois anos, a cena vai voltar-se a repetir e iremos falar da menina que morreu num acidente há nove anos. Vamos falar, claro, não no pretérito, mas no presente. – É bonita, não é senhor doutor?...
A propósito do sofrimento da perda de um filho em condições trágicas, hoje, no decurso de uma consulta de rotina de medicina do trabalho, examinei um funcionário com um semblante triste, apesar do sorriso com que se me dirigiu. A última consulta tinha sido há dois anos. O passado alcoólico tinha sido ultrapassado, embora continuasse a tomar antidepressivos. Disse-me que tinha feito tentativas para deixar de os tomar, mas não conseguiu. Acenei com a cabeça dizendo-lhe que não se preocupasse. Após o exame, o trabalhador abre a carteira e tira com extremo cuidado uma fotografia e disse: - Foi há sete anos, senhor doutor, cinco aninhos e foi tirada um mês antes, num casamento. - É bonita, não é senhor doutor? Peguei a fotografia e, mais uma vez – a última foi há dois anos – olhei para uma encantadora menina. Pronunciei: – É muito bela! Pegou na fotografia e colocou-a com um desvelo difícil de explicar na sua carteira. Fiquei bloqueado e pensei o que poderia sentir um pai que perde um filho. O simples facto de ter pensado atormentou-me sobremaneira reduzindo a pó os problemas que carregava.
- Então senhor doutor, agora passo a vir de ano a ano, não é? – Não, só a partir dos cinquenta e o senhor está com quarenta e cinco. – Ah! Então só daqui a dois anos! – Sim.
Daqui a dois anos, a cena vai voltar-se a repetir e iremos falar da menina que morreu num acidente há nove anos. Vamos falar, claro, não no pretérito, mas no presente. – É bonita, não é senhor doutor?...
4 comentários:
Diz o povo que, com o tempo,o desgosto sentido com a morte dos pais se transforma em tristeza, a do marido em saudade, mas que a morte de um filho é sempre desgosto.
De quando em vez faz-nos bem ler uma história assim para nos lembrar das coisas importantes da vida.
O seu texto é um retrato do como pode ser belo o espírito humano e, como diz o Jardim das Margaridas, o que pode ser a verdadeira dimensão da vida!
muito bom o post..
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