O Banco de Portugal actualizou hoje as suas projecções económicas para este ano e, ao contrário do que o Governador Vítor Constâncio tinha admito por mais do que uma vez recentemente, não reviu em alta o crescimento do PIB de 1.2%. É certo que as exportações deverão crescer mais do que se previa (boa notícia), mas o problema é que o investimento continua deprimido – claramente em território negativo – e não se vê um fim para esta situação (má notícia). Nem o já-de-si magro crescimento de 1.4% inscrito pelo Governo no OE’2007 deverá, pois, ser atingido!...
Numa altura em que a Europa revela um dinamismo apreciável face a 2005 (se bem que pairem algumas nuvens no horizonte…), Portugal viu aumentado o fosso de crescimento para a média europeia (maior em 2006 do que em 2005).
O nosso país será, em 2006, o que menos crescerá de entre os 25 que compõem a União Europeia (cresceremos metade da Zona Euro e menos ainda do que a UE-25). O que, naturalmente, fará com que estejamos mais pobres face aos nossos congéneres europeus. E o que acontecerá pelo sexto ano consecutivo…
De entre as razões para esta pobre evolução da nossa economia ressaltam duas: a subida das taxas de juro e a subida da carga fiscal. Ambas deixam, naturalmente, as famílias e as empresas com menos recursos para consumir e investir, respectivamente. E se em relação à subida das taxas de juro é o nosso endividamento que dita leis (Portugal é o segundo país mais endividado da Zona Euro), já quanto ao aumento da carga fiscal, ficam provados os efeitos nefastos da brutal subida de impostos decretada no ano passado, que continuou a ser praticada em 2006, e que se manterá em 2007. Um erro colossal que, como o Banco de Portugal agora confirma, veio afligir ainda mais já de si muito endividadas famílias e empresas. Tudo para, como se viu pelo OE’2007, acomodar sempre e sempre mais despesa.
Enfim, e para abreviar: mais uns (largos) anos em divergência é o que nos espera (não, não deve ser “só” até 2008, como projecta a Comissão Europeia). Não se trata de ser pessimista: já no fim dos anos 90, pelo rumo que tudo então levava, tudo isto era previsível. Pena é que, 7 ou 8 anos depois, pouco, muito pouco tenha sido feito para alterar a situação.
Desgraçadamente, e por mais que custe ao incorrigível optimista (e se calhar pouco irrealista) Ministro da Economia, Manuel Pinho, o fim da crise vem muito, muito longe.
4 comentários:
Apesar da minha ignorancia nestas materias permito-me estas questoes, talvez sem sentido:
- Inflacção: esta previsão não colocará em causa a aprovação do OE07, depois da discussão na especialidade? (os seus reflexos em diversas àreas?)
-acrescido do pormenor do aumento anunciado do salario minimo nacional (já) com reflexos no OE e no orçamento das empresas já aprovados para o proximo ano?
Quanto ao endividamento das familias, ele está já, provavelmente, sem controle, mas alguma coisa se deve tentar...pelo menos reflectir!
Caro Miguel Frasquilho,
Tudo isso estaria certo se não estivessemos a falar de Portugal. Aumento das taxas de juro? De quais? Afinal descobriu-se que os bancos "arredondavam" aquilo que o BCE precisava de uma reunião trimestral. Neste sentido até desceram. Impostos? Está a referir-se aos que se pagam ou aos que não se pagam? Os primeiros, como sabemos todos, não subiram porque não poderiam subir como aliás aqui referiu em vários posts anteriores.
Devo louvar-lhe, no entanto, a confiança que deposita na economia formal, começando logo na credibilidade que dá às previsões do BoP. Já não há muita gente...
O crescimento real da economia, que inclui tudo aquilo que nem o meu caro nem o governo podem admitir, esse é bastante maior que os 1,2% que o BoP mandou cá para fora. Mesmo a economia formal deverá crescer 1.8% este ano e não os 1.2%, para ser coerente com a criação de emprego que se verifica e que, em princípio, a divulgação da próxima quinta-feira deverá revelar. Sugiro-lhe que esteja atento a essa divulgação, muito mais importante que os "canos tortos" do BoP que, em tempo de vasto "investimento" público já não acertavam uma, imagine-se agora.
Agora, repito, louvo-lhe a confiança nas previsões do Banco de Portugal...
Se calhar estamos condenados, minha cara JardimdasMargaridas, porque produzimos pouco. E porque produzimos pouco, criamos pouca riqueza. E porque criamos pouca riqueza o que há para investir e distribuir não é muito. E porque pouco há para investir e consumir, produzimos pouco. E porque produzimos pouco não criamos riqueza. E porque não criamos riqueza pouco há para investir e distribuir, logo, como não investimos. E não investindo...
Enfim, um ciclo vicioso que não há maneira de quebrar.
Continuamos todavia a julgar que é da acção dos governos que depende a dinâmica da economia. Que são os relatórios do Banco de Portugal, as estatísticas de Bruxelas ou as previsões orçamentais do Governo que os carburantes da economia real!
É dessa ilusão que, de resto, se faz a imagem mediática deste governo que temos. Se se criam meia dúzia de empregos foi o governo que os criou (já assim não é quando se perdem...); quando abre uma fábrica ou se moderniza uma unidade, ao governo se deve (não assim quando fecham...).
E ainda não se percebeu que o Estado assume o papel de sumidouro improdutivo de boa parte da pouca riqueza que ainda somos capaz de gerar.
Isto sou a falar que nada percebo de economia, claro está!
A propósito do relatório do BdP, é sabido que o governador sendo embora um membro relevante da família socialista, não é propriamente um "suicidário" na matéria que se aborda naquele relatório .Daí que não queira por em causa o resto de credibilidade de que ainda goza, sobretudo nos meios internacionais. Pelo menos, a sua posição face ao governo,abstração feita à célebre tirada dos 6,83%, não o leva a fazer as figuretas, e quem diz figuretas diz piruetas, como faz o Dr.Manuel Pinho, destacado " vendedor de banha de cobra" da nossa praça. O tal a quem peço humildemente que não me venha falar em crises passadas, quando o investimento tem o comportamento cada vez mais preocupante que acaba de ser confirmado pelo BdP. Coitado do investimento; vai certamente "estar à pega" por ter tido o " descaramento de dsobedecer" ao governo. Se não falássemos de coisas muito sérias , tudo isto dava um excelente tema para uma revista no Parque Mayer.
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