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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O perigo das aparências...

Quando era pequena lembro-me de os meus Pais nos avisarem, a mim e aos meus irmãos, vezes sem conta, para não apanharmos cogumelos e não os levar à boca. A preocupação era acertada porque naquela época, volta e meia, havia notícias de pessoas que morriam por comerem cogumelos venenosos. Lembro-me de alguns casos, passados, com crianças. É que cerca de 80% dos cogumelos não são comestíveis e de entre estes alguns são venenosos. E há cogumelos comestíveis e venenosos muito parecidos. Somente pessoas que tenham muita experiência ou estudiosos podem dizer quais os cogumelos que podem ser comidos e quais contêm veneno mortal. Recordo-me que naquela época os cogumelos não entravam na mesa portuguesa. Não eram encontrados à venda com facilidade e os que apareciam eram muito caros.
Hoje em dia, os cogumelos já fazem parte dos hábitos alimentares dos portugueses. Encontramos, aliás, à venda uma variedade grande de cogumelos, com apetécíveis formas, texturas, cores e sabores que fazem deles verdadeiras “obras de arte” e que, por isso mesmo, fazem as delícias de apreciadores de uma cozinha mais requintada e, também, mais sofisticada.
Vieram nos últimos dias a público notícias sobre pessoas em estado de saúde muito crítico, a necessitarem de transplantes de fígado para sobreviverem, por terem ingerido cogumelos venenosos. Não sei se são casos pontuais que por coincidência se concentraram num curto período de tempo ou se são casos a juntar a outros que vão acontecendo mas sem tratamento mediático. Mas são muitas vítimas ao mesmo tempo.
As notícias dão-nos conta do estado de saúde de pessoas que ingeriram cogumelos não comestíveis, pelos vistos venenosos. A bem dizer, é um alerta, mas que pode transformar-se num alarme, com reacções de medo, pelo menos enquanto a memória estiver fresca, ao consumo de cogumelos. Ora, não parece ser o caso. Mas, com efeito, pouca ou nenhuma informação é prestada sobre as circunstâncias da ingestão pelas vítimas dos ditos cogumelos. Como é que aconteceu? Os cogumelos foram comprados ou, pelo contrário, foram apanhados pelos próprios? Onde? Foram consumidos em casa ou foram ingeridos num estabelecimento público? Que sintomas tiveram as vítimas?
Para além destas omissões os media deveriam fornecer ao público informações úteis no sentido de chamar a atenção para os cuidados a ter com o uso dos cogumelos e para os sintomas de mal estar provocados pela ingestão de espécies venenosas. Tudo aspectos pedagógicos e educativos que também compete aos media tratar. O seu poder de informação também lhe advém da sua capacidade de difusão. Prestariam um melhor serviço se o fizessem…

7 comentários:

Catarina disse...

Parece que o jornalismo está também a necessitar de uma grande reforma. Tornou-se habitual divulgarem notícias pouco pormenorizadas que originam interpretações erradas ou como as que a cara Margarida menciona que não servem de alerta informado.

Catarina disse...

Deixe-me acrescentar que esses cogumelos estão revestidos de cores muito garridas!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Cara Catarina
São muito coloridos, mas mortais! Costumam ter uma cor esverdeada ou amarelada. Pertencem à espécie "Manita Phalloides", a mesma que vitimou a família de Bragança.

Bartolomeu disse...

Como já referi num comentário ali mais atrás, aproveitei este fim-de-semana NATOizado, para passear pelo centro-litoral do país, mais própriamente da Nazaré até Aveiro.
No regresso, optei em grande parte pelas estradas nacionais, o mais próximo possível da orla marítima, as quais, naquelas zonas são bordejadas por extensos pinhais. E notei em certos trechos do percurso, variadíssimas viaturas estacionadas na berma. Ora, como apesar do bom tempo que fazia, não estamos já em época de pic-nic, comecei a achar a situação estranha e, à primeira oportunidade, parei junto a um dos carros, onde um casal colocava na bagajeira dois baldes de plástico e fui cuscuvilhar.
-Andámos àpanhar míscaros, esclareceram-me.
-Mas olhe lá, isso não é perigoso? Tenho ouvido dizer que é preciso saber distinguir muito bem, quais são os bons e os venenosos...
-Nã senhore, nã ha problema ninhum, agente conhece-os beim, já os apanhamos ha munto ano e nunca nos fezeram mal, (e a "saloia" rematou logo toda espevitada) fájenos male é nã os comêreimos!!!
-Ah prontes... sendassim, intão tá beim! (pinsei eue)
;)))

Catarina disse...

E há alguns cogumelos que só fazem mal uma vez…

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Nem de propósito! É viajando de carro, por montes e vales, que ficamos a conhecer as regiões. No nosso caso o Portugal profundo está disfarçado no litoral. Nada como fazer umas incursões...
"Nã senhore, nã ha problema ninhum, agente conhece-os beim, já os apanhamos ha munto ano e nunca nos fezeram mal...".
Veja este relato, Caro Bartolomeu, que retirei do Público:
"Olga Mariz também mora em Baçal. Desde sempre se habitou a comer cogumelos. “Prefiro-os à carne. Mas agora não volto a comer”, garante. “Uma pessoa ouve estes casos e fica com medo”, explica. Mesmo para quem tem algumas técnicas de sabedoria popular para distinguir os bons dos maus cogumelos. “Raspo-os bem e depois ponho-os a escaldar com um dente de alho. Dizem que se o alho fica branquinho, os cogumelos estão bons. Ou então com uma colher de prata. Se a colher escurecer, são venenosos. Se a colher ficar com a mesma cor, é porque são bons. A mim nunca fizeram mal mas agora fiquei assustada”.
Confirma-se o Portugal profundo...

Bartolomeu disse...

Pois é, cara Drª Margarida, no caso dos cogumelos, basta seguir a sabedoria popular e, juntar o pouco de alho, como recomenda a D. Olga, para ser possível distinguir os "bons" dos "venenosos", agora... quanto a outras distinções... é preciso ter muito "espírito-santo-de-orelha" e mesmo assim...
;)