Caiu o pano sobre as eleições presidenciais com o resultado esperado face aos candidatos dados à escolha dos portugueses. Tudo como previsto, nenhuma novidade quanto à expressão da vitória, à quantidade dos que se abstiveram, dos que se revelaram tristes e fracos opositores a quem saiu vencedor. Falta de novidade também em relação às candidaturas que servem de acantonamento aos mais desencantados, mas que tanto comentário suscitaram e alguma tinta ainda farão correr face à atracção dos nossos media pelo circo.
Também não constituiu coisa inesperada a avaliação desapaixonada de Sócrates, disfarçando bem o alívio sentido com a imediata reeleição do Professor Cavaco Silva, poupado a um apoio na segunda volta a um candidato indesejado, ou - pior! - à ameaça, ainda que remota, de Alegre na Presidência, alçado por frentismo que uma vez levou Soares a derrotar o candidato vitorioso na primeira volta.
Surpreendente foi, essa sim, a intervenção de Passos Coelho. Estou certo que desiludiu profundamente quem esperava que ali, perante a vitória do candidato que apoiou, não resistisse à tentação do aproveitamento. Era o que muitos, no lugar dele, não hesitariam em fazer. Se as palavras que Passos Coelho proferiu foram sentidas, para além de sabedoria e inteligência, revelam então a confirmação da primeira qualidade de um estadista: a consciência que acima do grupo está o País.
7 comentários:
Atenção ao número de votos brancos e nulos, totalizam mais de 276 mil votos!
Só para acrescentar os dados:
- Votos brancos: 4,26% (190 939 votos);
- Votos nulos: 1,93% (86 465 votos).
Isto já para não falar nos 4,5% de José Coelho.
Tive imensa pena de ver confirmado o que já previa, os comentadores e os jornalistas do regime não disseram nada sobre este assunto.
Podemos não dar importância a este fenómeno, mas ele está aí e acho que está na altura de assumirmos que este regime está ultrapassado e que é necessário repensar isto.
Meu caro Fartinho da SIlva, o que assinala nos seus comentários deve preocupar - e muito! -, mas não surpreende. É o efeito esperado de anos de auto-descredibilização dos políticos. De anos e anos de campanhas feitas por eles contra eles próprios. As eleições, ao contrário do que muitos pensam, são momentos de julgamento do sistema, da credibilidade de quem o integra, onde vem à memória colectiva, por vezes adormecida, o comportamento dos principais agentes políticos. A abstenção, os votos brancos e nulos são o resultado esperado do descrédito que a ninguém espanta, que se sente na rua, no escritório, em casa, em especial junto da juventude. Consciência disso revelou-a o PR numa das intervenções na noite de ontem quando apelou ao envolvimento dos mais novos. Mas creio que a maior participação cívica depende não tantos das atitudes anti-sistema (tentação irreprimivel para alguns, mas cuja eficácia foi também posta à prova nestas eleições), mas da postura daqueles que no sistema passem a conduzir-se pelo interesse do País e não cedam ao canto de sereia do poder conquistado para pasto do grupo.
Por isso valorizo a intervenção na noite de ontem de Passos Coelho, que, a ter continuidade, poderá dar sérios contributos para a necessária re-credibilização - que supõe re-criação do discurso, mas sobretudo da atitude política - desta democracia.
Caro Drº Ferreira de Almeida:
Importantíssimo o discurso de Passos Coelho a mostrar um político maduro, não sendo "velho".
Ainda hoje, por mais de uma vez, comentei com colegas a sua clarividência, não se deixando embandeirar pela conjuntura que só aparentemente (para já) lhe é favorável.
Sinceramente não esperava um discurso de tão alto nível, por isso confesso que me surpreendeu pela positiva!
Caro Zé ário, subscrevo inteiramente o seu comentário, a persistência maníaca na descredibilização dos políticos pelos próprios políticos, convencidos de que a lama que atiram aos outros não lhes cai também em cima,só pode dar este resutado: o afastamento dos que não têm paciência ou que simplesmente têm vergonha de decidir neste contexto, já para não dizer de se atreverem a entrar na política.De tanto mal que dizemos, de tanto meter bons e maus no mesmo saco para que nenhum possa elevar-se, ficamos cada vez mais desanimados.Quanto ao discurso de Passos Coelho, também me pareceu sensato e mostra a decisão de se afirmar por si, de vir a escolher o seu momento, em vez de apanhar boleias de que sairia sempre mal. Aguardemos os desenvolvimentos.
José Mário
Pedro Passos Coelho fez um discurso responsável e inteligente, recusando o aproveitamento político de resultados que não lhe pertencem. Um sinal de que há outras formas de fazer política e que em política não vale tudo. Um sinal de mudança e esperança. Foi uma pedra no charco para muita gente!
«Se as palavras que Passos Coelho proferiu foram sentidas». o ÚNICO SE NÃO É SÓ ESTE MAS PERCEBER SE a gradação da inteligência do convir que ser governo neste triste momento da história de Portugal é estar condenado a breve trecho à fogueira!
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