Na época do Natal, manda a tradição que se apele à paz e à concórdia entre os homens de boa vontade, uma mera retórica que não resolve nada. Quem sabe se não é uma forma de adiar os problemas. Eu sei que não é muito correto focar este assunto, mas a leitura do post do Pinho Cardão, e o desencanto de alguns concidadãos a este propósito, greve na CP, mais um motivo de desencantamento associado a tantos outros que têm vindo a cair-nos em cima do lombo ao longo do tempo, levaram-me a transcrever um pequeno trecho de uma obra que, embora escrita há mais de cento e vinte e cinco anos, mantém plena atualidade.
"As revoluções são tormentas que propendem para a realização das aspirações populares. Nunca são voluntárias, são apenas o resultado de uma lei física, como o furacão que restabelece o equilíbrio entre as densidades do ar causadas pelas diferenças da densidade do ar causadas pelas diferenças de temperatura, ou como a catarata que conduz ao mesmo ponto de elevação a superfície de dois cursos de água. Todas as vezes que a diferença do nível se torna grande, rebenta a revolução, que os poderes constituídos podem conter artificialmente durante certo tempo, mas que não conseguirão evitar. Na tradição histórica, são, pois, as revoluções o único facto que, por sua violência, sua extensão e seus resultados, permite ajuizar com firmeza do grau e dos motivos do descontentamento humano" (Marx Nordau in As Mentiras Convencionais da Nossa Civilização - Francisco Alves & Ca. Rio de Janeiro, 1887).
Perante o que andamos a observar, aos soluços e à pedrada, dou por mim a questionar: - Quanto falta para atingir o tal "grau de descontentamento" que permita desencadear a "revolução"? Motivos? Esses andam por aí, mas, afinal de contas, ainda não devem ser suficientes. E serão algum dia? Talvez, apenas para dar a esperança de que tudo irá mudar, mas não, será apenas mais um ciclo idêntico a muitos outros que culminará em injustiças e desequilíbrios sociais. A humanidade nunca muda, apenas se disfarça. Sabe qual é o verdadeiro valor da mentira, da mentira social, da mentira política, da mentira económica e da mentira religiosa. Custa dizer isto, mas não é mentira nenhuma e já que se fala de mentiras, mentiras por mentiras, prefiro as da poesia. São as únicas em que acredito.
13 comentários:
Muito bem professor Massano.
Todas as revoluções retornam a uma espécie de ponto de equilíbrio que pelo menos dá-nos ânimo para suportar até à próxima desilusão. Não que eu pugne por uma revolução violenta que é pouco inteligente (embora sobrelotasse muitas prisões) mas por uma revolução consciente de quem tudo pode e nada entende.
1.000.000 de pessoas sem subsídios de qualquer espécie e mais uns bons milhões que serão cercados aumentando-lhes a renda, o IMI, a electricidade, ... não dão lugar a uma revolução? Os PassistasRelvistas com o argumento da TROIKA na manga, sedentos de brilharete que dá lugar em altas instâncias demonstram equilíbrio e inteligência?
(Vem isto a propósito depois de pessoa amiga ter recebido carta da segurança asocial a aumentar a sua prestação de falsa trabalhadora independente de 184 € para 248 €. Coisa pouca, alivitrarão alguns no salário milionário de uma enta com 1200 € mensais sem direito a pagamento no período de férias, a que se subtrai supra mais o equivalente de IRS à cabeça.
Excelente forma de responder à competitividade e à revolução da asneira e da paciência! Ide-vos diz ele. Emigrai, a preparar-me o caminho!
Quando se deu a "revolução" de Abril, tinha eu 18 anos. Nessa idade, pouca ou nenhuma atenção dispensava ao que se passava no país a nível político ou económico.
Aos 18 anos, tinha o meu emprego, a família, imensos amigos, e praticava um desporto, a vela, que me fazia sentir o ser mais livre à superfície do globo. Para além desse desporto, praticava ainda um par de «outros» ligados à parapsicologia e ao extra-sensorial, que me conferiam a ilusão de me achar num ponto, uns quantos graus divergente, dos restantes seres.
Como me achava enganado...
Certo dia, assistia desinteressadamente a um dos primeiros debates políticos, quando um dos intervenientes proferiu a paravra «paralaxe», antecedida de, erro, ou seja; erro de paralaxe, referindo-se ao ângulo de que o seu opositor avaliava a mesma questão.
Fui imediatamente consultar o dicionário, para conhecer o significado da palavra, tendo obtido a seguinte definição:Ângulo formado por duas rectas que, partindo do centro de um astro, vão ter, uma ao centro da Terra, e outra ao ponto onde se acha o observador. Ou seja, se eu me encontrar num determinado ponto e outra pessoa, noutro determinado ponto da superfície terrestre e ambos observarmos o mesmo astro, nenhum de nós o estrá a observar na sua real posição. Para isso, teremos de ambos nos apróximarmos do centro, para então nos ser dada a prespectiva mais aproximada. Só assim poderemos trocar opiniões mais reais, acerca daquilo que estamos a observar.
;)
Pois é Bartolomeu. Eu entendo por erro de paralaxe, pelo menos foi o que me ensinaram em física, medir de lado, ou seja não medir de frente. Anda hoje me entretenho na medição do peso. Então quanto é que pesa? Pergunto. Recebo oralmente a informação, enquanto, vejo, de lado, uns quilos a mais. Sabe o que faço? Registo o que o doente me diz e não escrevo o que vejo, porque sei que estou errado. Acabo por confiar no que me dizem.
Mas no tocante à humanidade, por maior que seja a frontalidade das minhas medições, acabo por ver uma monstruosa mentira, mas isso pode ser devido à minha posição demasiado "excêntrica", o que é muito provável, confesso.
O descontentamento é relativo.
E o problema está aí.
Se a nossa expectativa é exagerada está o caldo entornado.
Não vejo que na Etiópia ficassem descontentes se lhes dissessem que acabam com metade do que nós teremos dentro de 3 anos...
http://notaslivres.blogspot.com/2011/12/quimera-do-crescimento.html
Compreendo o sentido do que escreve, caro Professor.
Sabe? Tenho para mim que a mentira é em muito semelhante ao boomerang, aquela arma curva, fabricada de madeira, que depois de atingir o alvo, ou mesmo sem que o atinja, regressa ao ponto de partida. Mas... trata-se de uma arma "especial" na medida em que; tal como a mentira, quem a arremessa tem de possuir muita destria, pontaria, golpe de vista, para conseguir com ela, derrubar o alvo e ainda, tem de ser ágil e seguro na recepção da mesma, porque se o não fôr, será atingido por ela. Neste nosso tempo, tenho a sensação que tanto aquele que lança, como aquele que apanha com ele, estão a ser simultâneamente, vítimas da mesma arma. O preocupante e sinal de pouca inteligência e nula vontade de mudança de paradígma, é que todos continuam a usar compulsivamente, a mesma arma...
Que é que se pode fazer...?
;)
As revoluções nascem de causas várias quase sempre de insatisfações que não poderão ser satisfeitas e morrem em golpes de estado e ditaduras de várias cores
(Curzio Malaparte 1937?)
O Nordau também publicou o livrinho em Portugal (a primeira vez em 3 volumes)...logo a bibliografia em brasuca era dispensável
As revoluções afogam-se no marasmo que se segue à euforia
Brunetto Latini 1474....
O descontentamento é de facto um problema de paralaxe. Depende do ângulo em que nos encontramos. Hoje estava num desses dias. Em paralaxe, ou seja enjoado por um enfartamento de que não sou responsável. Nem por omissão por sempre ter cumprido as minhas obrigações, nem por acção já que coloco-me normalmente na posição de vários observadores. O problema é que o que vejo normalmente não é visto por outros observadores. talvez o erro seja meu, por ser demasiado alto. Mas também dizem que os altos têm uma bonomia maior por não se preocuparem tanto com o contraste com os outros.
Hoje estou realmente em erro de paralaxe perante a análise do texto: talvez seja por me terem posto em paro, sem rede e sem ver como sustentar a bonomia.
Do not worry my friend P.A.S., sometimes it is more important to unite for change than to understand the difference...
http://www.youtube.com/watch?v=6MSVTg_WMsg&feature=related
;)
Era dispensável se eu tivesse a outra! Mas como não tinha, vai mesmo esta, e não é muito má. Não senhor! A obra foi traduzida por M. C. da Rocha, 5. Edição, corrigida, de 1887 composta e impressa na Typographia José Bastos, Rua da Alegria, 100 Lisboa. Adquiri a obra no Alfarrabista Bizantina.
A melhor forma que conheço de explicar o que é a paralaxe, e o seu erro, é através do exercício simples de colocar o dedo indicador mesmo mesmo em frente da ponta do nariz, a apontar pra cima, e fechar alternadamente cada um dos olhos. Devido à diferença de posição do observador, neste caso, cada um dos olhos, o dedo aparentemente 'salta' de um lado para o outro. Resultado da experiência: um tipo fica a saber empiricamente o significado de paralaxe, e ainda percebe que às vezes estas ilusões, para além de estarem mesmo à frente do nosso nariz, são resultado do erro da utilização dos nossos olhos, que tantas vezes julgamos infalíveis. :D
Um excelente Natal para todos.
“O quinto império”
As revoluções, quem quer que sejam os seus autores, não mudaram nada. Conduzem aos mesmos abismos. A dificuldade é mudar o homem (192)
Dominique de Roux (1977, Paris)
Pilale Muatreci: Padre moçambicano
Boas Festas
[mailto:mpilale@yahoo.com.br]
Caro amigo Morais, tudo bem? Deste lado, optimo, so dificuldades financeiras..., o bispo me mandou para uma antiga missao dos padres combonianos, uma zona para quem vai a provincia de Cabo Delgado, as dificuldades sao enormes desde a falta de agua, um meio para deslocar-se (pelo menos motorizada) para as comunidades cristas espalhadas por toda localidade de Netia, energia e com um pouco de rede para telemovel................
Um abraco grande para ti e muitos beijinhos para a mana Judite.
Pe. Pilale
Mozambique
Apesar de algumas diferenças de pormenor, que são apenas ninharias comparadas com esta frase sábia do Bartolomeu, "sometimes it is more important to unite for change than to understand the difference..."
desejo ao Quarta República e a todos os "seus bem armados citoyens", um Natal muito feliz e que consigamos todos verdadeiramente não deixar nenhum nosso concidadão Português, escondidos muitas vezes que estamos na verdadeira zona de comodismo (a nossa) de olharmos os outros com vidros fumados (de boa qualidade)para que não nos afecte a vista.
Massano Cardoso disse...
Era dispensável se eu tivesse a outra!
tradução de Agostinho Fortes 1908
é a melhorzinha das 12 em português
Edição do Almanach encyclopedico Illustrado do Abel d'Almeida (5 edições)
vendida no Jaime das Escadinhas do duque por 100$ de 1987 a 1996?
vendidas na barateira a 50$ por volume nos saldos ou a 150$ na prateleira agora anda nos 75 cêntimos ou no euro e vinte e cinco
"ou seja uma revolução para recuar ou para avançar, para restaurar o passado ou para apressar o futuro, pois que reaccionarios e liberais detestam o presente com a mesma intensidade
1º volume Nordau página 17
Mané, Thécel,Pharés
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