Em pequeno, as alegrias e as tristezas coletivas eram assinaladas pelo dobrar dos sinos das igrejas. O dia festivo, a chamada para o culto ou a partida de alguém mereciam aquele sinal que desde cedo aprendíamos a reconhecer nas suas variantes sonoras. Muitas vezes, como no tempo das novenas, sabíamos que a Primavera ía alta e que o Verão não tardaria. Outras, associavamos a réplica a odores fortes, como na Páscoa. Hoje, porém, nas cidades já raramente se ouvem. E na maioria dos sítios não se resistiu às vantagens da eletrónica que permite dar a aparência de que alguém se continua a preocupar com as horas dos outros, com as convocatórias, com as celebrações. Os automatismos e a tecnologia não disfarçam, contudo, o artificialismo do som por mais metálico que possa parecer. Nem a sensação de que o tempo se esvai e a paisagem, que também é feita de sons, se modificou profundamente. Noutras paragens já se negoceiam os períodos em que se podem ouvir, obrigações impostas pela necessidade de não poluir. Estranha sensação esta, a de ter de encarar um sino como uma fonte de poluição. Chegará o dia em que se regulamentará por decreto por quem os sinos podem dobrar?
3 comentários:
Veja lá, caro JMFA, que países existem em que o governo do estado laico vai negociar feriados com a igreja católica! Ele há com cada coisa...
Só ha muito pouco tempo notei, a ausência de pombos no espaço, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos.
Achei que essa asência poderia estar relacionada com as dificuldades orçamentais da Câmara, que a alimentação dos animais tivesse sido cortada e os mesmos se "tivessem feito à vida".
Mas não. Notei depois que foi instalado um sistem eléctrico em toda a frontaria principal do Mosteiro, que emite um som de faísca eléctrica com uma determinada frequÊncia e, que tem por finalidade, afastar as aves.
Desde criança que me habituei a ver em parques, em largos, em frente a igrejas, etc. bandos de pombos. Faziam parte, digamos, do cenário e, interagiam com os passeantes. Lembro-me de em criança pedir sempre aos meus pais, quando nas tardes domingueiras calhava a ser a baixa de Lisboa, o cenário dos passeios familiares, para levar pão, que depois me deliciava a partir em pequenos pedaços e a entregar aos pombos que não faziam a mínima cerimónia de poisarem em cima de mim. A primeira vez que visitei o país do lado, verifiquei que os pombos eram também os inquilinos das igrejas, praças, etc.
Mas recordo-me também, com total clareza, de quando passava férias de verão na aldeia, na casa da minha avó. Aí, o sino dava as badaladas em sintonia com as horas e as meias-hora e no final da tarde, tocava uma melodia designada por avés-Maria.
A mim, tanto os pombos, como o soar do sino, transmitiam-me uma sensação imensa de bem-estar e de conforto.
Curiosamente, pensava colocar no meu bloco de notas um apontamento acerca das igrejas de Adliswil onde me encontro por razões familiares.
Há duas igrejas em Adliswil, praticamente frente a frente uma da outra, com cerca de um quilómetro de distância a separá-las, cada uma a meio das encostas do vale. Uma Evangélica Reformada, outra Católica. Ambas tocam os sinos prolongadamente, mas não em simultâneo. Não penso que tenha havido acordo, nem isso é importante.
O que me parece importante é o delicioso badalar dos sinos no vale em que Adliswil nasceu e cresceu.
Em Nova Petrópolis não deve existir o sossego que habita aqui, nem respeito mútuo. Coitados deles.
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