A notícia correu mundo, a Ministra do Trabalho italiana chorou em público, embargou-se-lhe a voz quando ia anunciar sacrifícios aos pensionistas. E a sua angústia foi tão grande que não conseguiu acabar a frase, ficou a tentar conter as lágrimas, aquela bola na garganta a sufocá-la, as lágrimas a saltarem, teimosas, e o braço amigo e respeitoso do Primeiro Ministro a seu lado, compreendendo o esforço impossível.
É uma cena única e profundamente emocionante. Não estamos habituados a manifestações genuínas de comoção perante a gravidade do que se anuncia às pessoas lá em casa, coladas ao écran. Estamos habituados a vozes iradas, a prós e contras, a contas, a milhares de contas, a milhões, biliões e trocos, sim, já não acreditamos que a política possa envolver pessoas de carne e osso, que pensem, amarguradas, no impacto que o que decidiram vai ter na vida das pessoas de carne e osso.
Porque chora a Ministra? Porque é mulher, dirão alguns, ironicamente, porque não está preparada para a política, dirão outros, hesitantes. Porque tem toda a razão em chorar, dirão, felizmente, muitos outros, e é maravilhoso que se encontre alguém que teve a coragem de integrar um Governo que sabia que tinha que fazer isto, é um raro sinal de esperança, porque significa que ela tem plena consciência da gravidade do que tem que decidir. Porque, sabendo e sofrendo com isso, terá certamente a maior cautela, a maior prudência e a maior ponderação nas suas escolhas. Uma pessoa assim talvez não faça cálculos politiqueiros, somas manhosas e golpes de bastidores. Uma pessoa assim, tenhamos esperança, não rejubilará com vitórias pessoais, com ganhos de poder, com notícias de favor. Uma pessoa que chora, sentidamente, quando pensa no que vai fazer sofrer, tem consciência política aguda, esse bem tão raro e tão precioso quando associado à coragem de tomar decisões. Emocionante, verdadeiramente, afinal não há só lágrimas de crocodilo. Já é uma novidade da crise.
É uma cena única e profundamente emocionante. Não estamos habituados a manifestações genuínas de comoção perante a gravidade do que se anuncia às pessoas lá em casa, coladas ao écran. Estamos habituados a vozes iradas, a prós e contras, a contas, a milhares de contas, a milhões, biliões e trocos, sim, já não acreditamos que a política possa envolver pessoas de carne e osso, que pensem, amarguradas, no impacto que o que decidiram vai ter na vida das pessoas de carne e osso.
Porque chora a Ministra? Porque é mulher, dirão alguns, ironicamente, porque não está preparada para a política, dirão outros, hesitantes. Porque tem toda a razão em chorar, dirão, felizmente, muitos outros, e é maravilhoso que se encontre alguém que teve a coragem de integrar um Governo que sabia que tinha que fazer isto, é um raro sinal de esperança, porque significa que ela tem plena consciência da gravidade do que tem que decidir. Porque, sabendo e sofrendo com isso, terá certamente a maior cautela, a maior prudência e a maior ponderação nas suas escolhas. Uma pessoa assim talvez não faça cálculos politiqueiros, somas manhosas e golpes de bastidores. Uma pessoa assim, tenhamos esperança, não rejubilará com vitórias pessoais, com ganhos de poder, com notícias de favor. Uma pessoa que chora, sentidamente, quando pensa no que vai fazer sofrer, tem consciência política aguda, esse bem tão raro e tão precioso quando associado à coragem de tomar decisões. Emocionante, verdadeiramente, afinal não há só lágrimas de crocodilo. Já é uma novidade da crise.
11 comentários:
Interpretei as lágrimas da ministra como sabendo que os sacrifícios futuros serão muito maiores do que os que estava naquele momento a anunciar e que a Europa está em declínio e não poderá manter o estado social a não ser em versão mínima. A ministra talvez saiba ou pelo menos desconfie, como algumas mentes mais esclarecidas, que o Ocidente acabou e as crises se irão suceder nas próximas gerações até os países que consideramos desenvolvidos atingirem um patamar compatível com a sua contribuição para a produção global.
Sim, são tudo boas razões para chorar, sem dúvida.Não só pelo que há-de talvez vir ainda, mas também por tudo o que lutámos tanto por ter e que se desmorona assim,como um castelo de cartas.
Cara Suzana Toscano
A Ministra chorou porque é um Ser Humano transparente, com convicções e determinada. Integra o melhor governo dos últimos cinquenta anos de Itália e demonstra a enorme capacidade humana e política de Mário Monti.
Como sucede, quase, sempre, assistimos, sem nos apercebermos a um facto histórico
Cumprimentos
joão
Vi a reportagem e chocou-me a sensibilidade desta senhora. Ela não embarcou em demagogia e sofre por ver e saber tantas injustiças.
A troica não nos governa - GOVERNAM-SE a eles.
É uma vergonha. É só sacar...
Paralelamente às imágens que mostram ao mundo, o momento em que a ministra italiana Elsa Fornero, de voz embargada, anuncia ao povo italiano os necessários cortes nas pensões, correm também imágens do nosso primeiro ministro Passos Coelho e do seu ministro Vitor Gaspar, rindo a bandeiras desfraldadas, na bancada do nosso parlamento.
É obvio que nunca saberemos os verdadeiros motivos que originaram os tão hilariantes momentos dos nossos governantes... até pode ser que tivessem contado uma anedota um ao outro do tipo: - Òh Passos; já sabes aquela do velhinho que foi encontrado sem vida dentro de casa, deitado na cama?
- Não Vitor, conta.
- Óh pá, era um velhinho que vivia da pensão mínima, que depois de pagar ao senhorio a renda de casa, ficou sem dinheiro para comer, assim, decidiu deitar-se e esperar pela morte por inanição.
ah! ah! ah!
- Por inanição, percebeste?
- Por inanição, então não percebi... tá munta boa, óh Vitor... tu és tramado pá, lembras-te de cada anedota, meu.
Como a ministra está distante da política!
“Estamos habituados a vozes iradas, a prós e contras, a contas, a milhares de contas, a milhões, biliões e trocos, sim, já não acreditamos que a política possa envolver pessoas de carne e osso, que pensem, amarguradas, no impacto que o que decidiram vai ter na vida das pessoas de carne e osso.”
É isto mesmo: uma obsessão total com o PIB e o Défice que faz parecer que tudo se resolve trabalhando os números, os objectivos se esgotam optimizando os rácios, esquecendo-se que, por detrás dessa magia, há pessoas a quem as forças vão faltando a cada dia que passa…
Não havendo folga financeira para tanto do que nos é exigido, como iremos viver no próximo ano!? Será que ainda temos folgo!?
Também por cá não censurava se um(a) ministro(a) chorasse…
Suzana
Uma ministra com sensibilidade, acima de tudo, humana, que sabe bem como os sacrifícios impostos vão provocar sofrimento a muitas pessoas e famílias. Habituados que estamos a discursos políticos de pura aritmética, eis que esta Ministra vem mostrar que à frente dos números impiedosos da austeridade estão pessoas, está a dignidade da vida humana.
A Elsa Fornero foi catedrática de economia e coordenadora de uma unidade de investigação sobre as pensões e o envelhecimento. Um unidade de investigação que participou activamente no debate sobre a reforma do sistema de pensões em Itália. Está por isso particularmente equipada para antecipara a catástrofe que se avizinha.
Tive a sorte de apreciar a companhia de colegas italianos durante a última década. Têm um nível de vida incomparavelmente inferior ao dos seus colegas empertigados tugas. Há uns anos, numa longa viagem de carro, uma colega de excelente qualidade desabafou comigo que estava cheia de passar uma vida a trabalhar e nada ou pouco ter que lhe permita uma velhice confortável. A Itália é um país onde as pessoas estão sob um stress muito maior que em Portugal. Vai ser complicado. Mas a Itália ainda tem industria e tem muita qualidade. É um país de contrastes e viável (pelo menos a Norte de Cassino).
Não costumo comentar os comentários e muito menos pretendo iniciar qualquer polémica, mas não posso deixar sem uma palavra certas afirmações.
1) Diz Luís Coelho «Ela não embarcou em demagogia e sofre por ver e saber tantas injustiças.
A troica não nos governa - GOVERNAM-SE a eles.
É uma vergonha. É só sacar...»
Só que a troika não foi sequer a Itália. As medidas que tanto custou a Elsa Fornero anunciar são as indispensáveis para o equilíbrio orçamental e ninguém, a não ser a situação das finanças, obrigou a ministra a tomá-las.
2)B Bartolomeu: A foto do PM e do Ministro das Finanças a rir quando exigem sacrifícios ao País pode ser chocante, mas só associamos as duas situações porque um jornal as publicou simultaneamente. Não sabemos do que riam e é abusivo tentar fazer crer que se riam da situação aflitiva do velhinho que Bartolomeu imaginou.
Caro Freire, a troca de opiniões e de pontos de vista, mesmo que díspares, não terão de constituir necessáriamente, motivo de polémica. Concorda?!
O caro Amigo, terminou o comentário que me dirigiu, utilizando a palavra exacta "imaginou".´
Foi precisamente o que sucedeu; imaginei. Mas, convirá o caro Freire que sobejam, infelizmente, motivos reais, capazes de estimular a minha "imaginação".
Motivos esses, que pelo rumo que as decisões tomadas por este governo está a obrigar a seguir os nossos idosos pensionistas, irão tornar-se demasiadamente e desumanamente frequentes.
Ou tem dúvidas?
A questão, caro Freire, não se põe em saber de que riem aqueles senhores. A questão tem a ver com o despropósito do riso. Deveriam chorar, isso sim mas, no caso de não se acharem capacitados para tanto, fingirem-se preocupados sería o mínimo esperável.
Talvez o caro Freire não tenha reparado num pequeno pormenor da foto a que ambos nos referimos; é que os dois governantes encontravam-se na tribuna da Assembleia da República. Um local que exige dignidade e respeito. ´
Se por acaso se encontrassem à mesa de uma tasca num bairro típico da cidade... ainda c'um raio... agente desculpava, dizíamos encolhendo os ombros «pfhhh... já emborcaram uns canecos...»
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