Em tempo de Natal os nossos emigrantes voltam à terra. Um ciclo que se repete, mesmo que agora lhe dêem outros nomes, qualificados, mobilidade, globalização, foram para fora e vêm de visita, estão diferentes e reparam nas nossas diferenças, quando saíram ainda éramos um país consumista, não há luzes de natal nas ruas, o que é que aconteceu, guardaram-nas, é deprimente! Há muito que os nossos jovens começaram a ir embora, não é novidade para ninguém, até há pouco era para a Europa, agora também vão para o Brasil, dois para Macau, já falam no México ou na Colômbia, ou na Austrália. Os que tiveram a sorte de encontrar o seu caminho onde o procuraram chegam cheios de energia, contam coisas novas, falam-nos da sua vida que já corre longe de nós, não conhecemos o seu dia a dia, as roupas que trazem, o novo corte de cabelo. Ouvimos falar de empresas com nomes estranhos, de teatros e espectáculos, de amigos cujo nome nunca ouvimos e temos dificuldade em fixar sem lhes conhecer a cara. O Yannis, o Ronald, a Elina, a Isla, este é daqui, este dali, os colegas de trabalho pedem lembranças deste país curioso, muitos tiveram que ver no mapa onde fica, tiveram bailout, como os gregos? Ah, e como vivem, tão pobres? Levam coisas a que antes não ligavam nenhuma, camisolas tricotadas à mão, marmelada, paio, vinho do Porto, que pena não caber o bacalhau e a sopa, lá nunca fica tão boa, deve ser dos legumes, dá-me aquela receita dos biscoitos, trouxe-te um creme de algas, é fantástico. O tempo é curto para rever toda a gente, nós rimo-nos das aventuras e dos novos gostos, perguntamos tudo, conta, conta, ó mãe, não consigo contar tudo, passa-se tanta coisa, onde guardaste aqueles sapatos de que eu gostava tanto, espero que não os tenhas deitado fora, empresta-me o teu casaco, o meu não coube na mala, era muito volume, lá é um gelo, ao menos aqui há sol, que dias maravilhosos, mas as pessoas são tão tristes, estão viciadas na crise, que livros tens que eu possa levar, tenho saudades de ler um romance em português.
Depois partem, dias tão curtos para matar saudades e tão compridos de agitação, uma breve revolução que nos deixa mais pequenos, tão encolhidos na nossa tristeza, a vê-los partir com a sua juventude, tantos sonhos, felizmente, tanta esperança, felizmente, tanta coragem, felizmente. E nós cá, a desejar tanto que sejam felizes, mesmo longe de nós, se tem que ser. Foi bom, o Natal. Felizmente.
Depois partem, dias tão curtos para matar saudades e tão compridos de agitação, uma breve revolução que nos deixa mais pequenos, tão encolhidos na nossa tristeza, a vê-los partir com a sua juventude, tantos sonhos, felizmente, tanta esperança, felizmente, tanta coragem, felizmente. E nós cá, a desejar tanto que sejam felizes, mesmo longe de nós, se tem que ser. Foi bom, o Natal. Felizmente.
3 comentários:
Ha poucos dias, ao jantar, o meu filho mais novo, após uma pausa, disse-nos: é a segunda vez que os alemães me convidam para ir trabalhar com eles, estou a pensar aceitar. Após nova pausa, perguntou-nos (a mim e à mãe) o que é que vocês acham?
A mãe, já com a lágrima a aflorar o canto do olho, perguntou: mas a empresa, cá, não te vai renevar o contrato?
-Acho que sim... ainda não disseram ao certo... mas a proposta para a Alemanha é bem melhor...
Num segundo, os olhares convergiram para mim, na expectativa de uma "sábia" opinião.
Decidi-me pela novela.
-Quando era jóvem, também quis ir para outros países, ainda não existia esta crise... existia outra... só que de contornos diferentes. Havia motivação e a esperança que no dia seguinte as "coisas" iríam melhorar. Foi nessa prespectiva que casei, que constitui família, adquiri casa e carro e vos ajudei a crescer, a ti e ao teu irmão. Hoje, reconheço que as "coisas" estão diferentes. Adquirimos a necessidade do imediato, ninguem constroi a partir do "0", ninguém projecta futuros. Eu penso, que o emigrar não pode ser entendido como uma varinha mágica, como a solução para todos os "problemas" que teimam toldar-nos os horizontes. Tal como nos poemas de Camões ou de Pessoa, seja saindo para um país estranjeiro, ou ficando no nosso, aquilo que temos de fazer, é enfrentar o Adamastor, ou o Mostrengo e... dobrar o Cabo da Boa Esperança, ou seja, cumprir-nos.
Tal "palestra" deu lugar a um silêncio religioso, que me permitiu terminar a sopinha em perfeita paz.
«...mas as pessoas são tão tristes...»
É verdade...!
Somos cada vez mais tristes, porque cada vez mais, nos achamos sózinhos neste imenso mar de igualdade.
;)
Suzana
Felizmente que muitos dos nossos jovens têm estado a encontrar desafios noutras paragens, estão satisfeitos e encontraram um rumo para as suas vidas. Estão felizes, é o que importa. Afinal, temos que lhes querer o melhor. Pena é que a maioria deles partam por falta de esperança em Portugal.
Caro Bartolomeu, desde que vão para fora com algum suporte que não os deixe passar miséria ou correr demasiados riscos, por um lado é mais fácil dobrar o Cabo Bojador num ambiente em que todos estão mais ou menos nas mesmas condições. Quer se queira quer não, aqui é mais atrofiado, espera-se logo o sucesso, comparam-se os êxitos, a própria família tem ânsia de contar as maravilhas que os seus conseguem e os outros não. Mas que não esperem facilidades...
Margarida, vamo-nos conformando, não é só por cá, em Espanha ainda é pior, se possível, enfim, outros colhem os frutos do que semeámos, é triste mas é assim.
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