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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"Atentados urbanos"

Ultimamente sobressalto-me com relativa frequência quando o estupor do telefone toca. Já mudei várias vezes o toque, mas mesmo assim não consigo evitar um estranho sentimento de angústia. Olho imediatamente para o visor para ver se aparece o autor da chamada, umas vezes sim, outras não, número privado, e algumas vezes surge um número sem correspondência com um nome. De acordo com o visualizado começo a antever o que poderá vir do lado de lá na tentativa de esconjurar qualquer má notícia, o que é relativamente fácil quando identifico a pessoa, mais complicado quando se trata de uma instituição e perfeitamente impossível no anonimato. Estou farto. Só me sinto bem quando não toca. Uma maravilha, uma graça divina, que aprecio cada vez mais.

Acabo de almoçar. Sou atacado mais uma vez e fico irritado, confirmando-se que, afinal, não tem a ver com o tipo de toque, incomodo-me apenas porque o telemóvel é meu; os toques dos outros não me causam grande mossa, exceto se os donos se lembrarem de "copiar" os meus. Nestes casos levo alguns segundos até saber quem é o real proprietário, quanto aos outros, com toques diferentes, até acabam por me divertir com as suas melodias, pois não, a conversa eletromagnética não me diz respeito, passa-me ao largo.

Não conheço o número e, à cautela, deixo que o outro lado se espraia dizendo o que quer. Um silêncio pronto a fabricar a resposta adequada. Ao fim de alguns segundos entendo a pretensão e começo a responder um pouco mais aliviado. A chaminé larga fumos? Se deita não é por estar a queimar resíduos, não senhora, são fumos que se libertam quando põem a caldeira do aquecimento a funcionar. E enquanto não estiver quente sai muitas partículas, muito fumo, mas depois desaparece. Sei, porque tive oportunidade de interpelar os diretores do hospital a esse propósito e as explicações foram essas. Considero-as plausíveis, embora os fumos sejam aborrecidos e momentaneamente perigosos, mas é devido à queima da nafta durante o arranque. Pronto! Consegui acabar com uma eventual e interessante notícia. Mas já que estávamos a conversar, perguntou-me se não tinha algumas novidades ou notícias sobre o ambiente da cidade ou iniciativas a realizar, o que fez com que libertasse a língua. E libertei. O telefonema não era para me chatear, nem para dar más notícias, e aproveitei para dizer o que achava, o que pensava, enfim, deu-me na bolha para dizer algumas coisas. A cidade está cada vez mais barulhenta, o ruído é o principal problema, muitos cidadãos queixam-se por não conseguirem descansar, alguns chegam a sair da cidade para irem dormir a outras localidades, há uma profunda falta de respeito pelo sossego dos demais, a autarquia anda surda às queixas, embora seja a principal responsável porque é quem licencia, as autoridades fazem o seu papel, que, como sabemos, é, na prática, uma espécie de faz de conta, e os cidadãos que se divertem à custa do bem-estar dos outros estão-se marimbando para os direitos destes. Mas as coisas não ficaram por aqui. Lembrei-lhe da sujidade crescente, com garrafas, latas, papéis espalhados em vários sítios, o vandalismo urbano, os carros estacionados nos passeios a dificultarem a vida de quem tem a mobilidade reduzida, pondo em risco a sua segurança, as bermas dos passeios demasiado ecológicas para o meu gosto, com ervas a crescerem a torto e a direito, mais a torto do que a direito, os dejetos de caninos a pulularem por tudo quanto é sítio revelando a sujidade cívica dos seus proprietários, o cheiro a urina, e não só, sobretudo em certas zonas da cidade, nomeadamente na Alta, Alta que pretende ser património mundial da humanidade, só espero que na candidatura não enviem amostras do material orgânico apensos aos dossiers, e que podem ser encontrados com facilidade nos referidos espaços, enfim, concluí, muito prosaicamente, que a cidade de Coimbra está a ficar porca demais para o meu gosto, em perfeita dessincronização com os seus pergaminhos e pretensões, mas em perfeito equilíbrio com alguns dos seus cidadãos desprovidos do mais elementar sentido cívico, contribuindo para a destruição de uma imagem que deveria ser ímpar e de referência a todos os níveis.

O que fazer para inverter estas situações? Sei lá! Quando uma cidade, que se pauta por possuir tantos neurónios cheios de conhecimentos, se comporta desta maneira, é de ficar desconfiado quanto ao futuro, um futuro de m...

5 comentários:

maria disse...

No último Verão estive em Coimbra e pude constatar o que referiu no seu texto. Realmente, a cidade estava suja e tinha um certo ar de abandono.

Bartolomeu disse...

Pois é, Estimado Professor Salvador; não são somente os Homens que precisam de Deus nas suas vidas. Deus também precisa que os Homens existam e se Lhe dirijam.
Já imaginou, o tamanho da frustração que Deus sentiria se deixasse perecer toda a Humanidade? Ou ainda, se a Humanidade deixasse de se dirigir a Deus?
Já imaginou, quantos de nós se estarão a dirigir a Deus, neste preciso momento? Quantos de nós, aflitos, Lhe estarão neste momento a rogar auxílio? Quantos de nós estarão, neste momento a pedir-lhe Luz, a pedir-lhe que os ajude a decidir sobre a tomada de uma decisão acertada?
Quantos de nós estarão a pedir-lhe que Ele, elimine do seu caminho, certo inimigo; quando Ele através do Filho deixou dito: amai-vos uns aos outros, perdoai aos vossos enimigos, como Eu vos perdoo, as vossas faltas e as vossas ofensas.
É isso, Estimado Amigo... os seres humanos são frágeis na sua individualidade, mesmo empossados do direito ao livre arbítrio e muitas vezes convencidos de que possuem as capacidades da omnipotência e da omnisciência.
E por serem frágeis... tão frágeis que são, Deus semeia entre eles uns Salvadores, a quem eles recorrem sempre que se acham perdidos, porque algo, o instinto, talvez, lhes garante que naquele, daquele, virá a palavra, o gesto, o conselho sensato e certo que irá ajuda-los a sair da aflição, a recuperar o rumo perdido.
C'est la vie, mon cher ami...
Quem sabe, Deus permitiu ao Homem inventar o telemóvel, para mais fácilmente contactar com o médico, com o amigo, com o Salvador, ao fim e ao cabo... com Deus?
«O que fazer para inverter estas situações?»
Muito poderá ser feito, caro Professor, no entanto, tudo o que for feito no sentido de inverter uma situação que diz directamente respeito aos cidadãos, terá de partir da iniciativa desses mesmos cidadãos. Mas... tal como uma orquestra, esses cidadãos necessitam de um maestro, alguém que saiba dispôr os instrumentos nas posições correctas e que depois os dirja, por forma a que a melodia seja bem executada e agradável de ouvir.
E o Senhor, encontra-se numa posição priveligiada para se constituir maestro dessa orquestra.
Como?
Sensibilizando os seus alunos, motivando-os e desafiando-os a formar grupos de intervenção e de sensibilização cívica.
Fazendo uso dos cargos que ocupa na sociedade, tanto na Assembleia Municipal, como no consultório e ainda nas empresas.
Afinal, o Senhor é uma pessoa que goza de grande prestígio em diversos meios, é uma pessoa respeitada, além de que a sua área é precisamente a de Higiene e Saúde. Se não o ouvirem, se não acatarem as suas indicações, se não se guiarem pela sua "batuta", quem mais irão ouvir?
Força, Professor Salvador, e se precisar de um Bartolomeu para ajudar a varrer os cagalhotos dos canídeos, disponha!
;)

Massano Cardoso disse...

Oh Bartolomeu. O senhor deixa- me sem fala. Soube-me particularmente bem ouvi-lo, hoje, que bem preciso. Nem imagina quanto. Sabe, aprecio muito as suas palavras e conselhos. Ainda ontem, à noite, li uma indirecta venenosa, injusta e sem ter tido direito a dar a minha explicação. Fui acusado de deslealde. Curiosamente essa acusação veio na sequência de uma situação que tolerei muito para lá dos limites, recheada de muitas faltas, promessas não cumpridas e de falta de colaboração. Não lhe chamo deslealdade a esse comportamento, embora se encaixasse nesse conceito, sou mais benevolente, não trabalhou como deveria e não cumpriu com o estatuído e prometido. Agora vou ser alvo de depreciação e de outras designações menos próprias e que, como deve compreender, já estão a afectar-me, roubando a força anímica que por forças de muitas circunstâncias se encontra em desaceleração. Valeu-me as suas palavras, valeu-me a companhia da família, sobretudo da netita mais nova que vieram comigo ver a Vila Natal, em Óbidos.

MM disse...

Ja que a educacao civica tem sido, genericamente, posta de lado, com os resultados horriveis que indica, permito-me sugerir a via alternativa, comprovadamente eficaz em Singapura, onde da gosto passear nas ruas. "Grandes males, grandes remédios"...

Bartolomeu disse...

Honram-me imenso as palavras que me dirige, caríssimo Amigo.
Tenho o Senhor como um Homem de causas. Um Homem que se dedica ao bem-estar comum, muitas vezes, imagino que com prejuízo para si e para os seus, contudo abenegado.
Para que um Homem caminhe pela vida de rosto erguido, importa que se dedique a causas e que as mesmas sejam justas. Esse homem , por muito empenho que coloque em tudo o que fizer, em todas as suas acções, nunca poderá evitar a inveja e perfídia daqueles que não ousam fazer, daqueles que não ousam arriscar e construir, preferindo derrubar aquilo que está feito.
Não esmoreça, caro Professor, não lhes dê o gosto de uma vitória, apoiada na maledicência. Se a quiserem ter, que a mereçam, lutando como o Senhor, com honestidade, fazendo melhor... se para tanto lhes assistir a centelha que acende a chama das causas, e pugnarem por ela.
Um Abraço Fraterno, caro Amigo!
;)