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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A outra falta de crédito

Há dias foi o Professor Freitas do Amaral que, esquecido da sua condição de ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo do então PM José Sócrates, zurzia sem dó nem piedade nas escolhas de que ele próprio se não pode desresponsabilizar. Assim, cruamente, condenando aquele que foi o primeiro-ministro de um governo que livremente integrou. Assim, sem uma centelha de um arrependimento assumido ou mesmo implícito, mas capaz de nos levar a pensar que não há quem seja imune ao erro, escape a ser enganado por um bom manipulador ou evite ser seduzido por um hábil sedutor.
Hoje é o seu sucessor no cargo que vem dizer que os portugueses devem ser chamados a pronunciar-se em referendo sobre a Europa. Mesmo que se passe por cima da questão de saber que referendo seria este na atual conjuntura, que objetivo com ele se pretenderia atingir, que quadro político esperaria o País após a consulta, o que mais choca é que Luís Amado vem propor agora o que o governo de que fez parte rejeitou in limine, lançando mão do argumento, para mim desde sempre inaceitável (como aqui repetidamente o escrevi), de que há matérias que pela sua complexidade não podem ser objeto de pronuncia popular. Foi esse o principal argumento contra o referendo em relação ao Tratado de Lisboa, celebrado entre o marcante "Porreiro, pá!" e o virar de costas do PM português ao MNE também português que, pretendendo partilhar da alegria aristocrática daquele momento, lhe estendia a mão para o cumprimento que ficou por dar. Certamente que os problemas europeus não se simplificaram, bem pelo contrário. Por isso creio que estas opiniões acabam por ser uma machadada mais na arruinada credibilidade dos políticos. Não só dos que tiveram responsabilidades no passado, como Freitas do Amaral e Luis Amado, mas sobre toda a classe política, não escapando aquela que está no poder, cuja cotação cai inexoravelmente no mercado da credibilidade de cada vez que um deles nega quem foi, o que fez e o que omitiu.

2 comentários:

Pinho Cardão disse...

A memória dos homens é curta, caro Ferreira de Almeida. Não dura mais que 30 dias.
Ainda ontem vi na televisão o Prof. Doutor Teixeira dos Santos a falar sobre o Orçamento, a sua grande especialidade. E a dizer que era inevitável!...
É preciso sempre cavalgar a onda, que a memória das coisas apaga-se após 30 dias...

Suzana Toscano disse...

Pergunto-me qual o fenómeno que permite tudo a alguns, por mais incoerentes e contraditórios que sejam,o normal seria serem desprezados em vez de continuarem a ir pedir-lhes respeitosamente opinião...