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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Emissão de dívida pública em Espanha: primeiros sinais?

1.Em Post ontem editado avancei a interpretação segundo a qual a decisão do BCE, tomada horas antes da Cimeira Europeia, de criar uma nova facilidade de cedência de liquidez, pelo prazo de 3 anos, sem limite de montante e a taxa fixa, CONJUGADA com a decisão da Cimeira de não impor perdas aos credores privados em futuras reestruturações de dívida soberana que possam vir a ocorrer na zona Euro, considerando o tratamento da Grécia um caso isolado...
2....poderia constituir um incentivo importante para que os bancos viessem a investir em dívida pública emitida por países do Euro mais sujeitos à pressão dos mercados (Grécia excluída), em prazos que em princípio não excedam 2 anos, realizando com isso um bom negócio uma vez que os fundos cedidos pelo BCE pagam juros muito baixos (1% ou pouco mais) e a dívida pública de países do Euro sujeitos a pressão dos mercados, mesmo nos prazos curtos vencem taxas muito atractivas (5% ou mais).
3.Pois bem, hoje foi notícia destacada o sucesso obtido pelo Tesouro espanhol num leilão de dívida a 12 e 18 meses: não só a procura foi bastante superior a leilões anteriores, mas também a taxa de juro média a que essa dívida foi colocada foi muito inferior, quase 100 bps, às que tinham sido registadas nos últimos leilões.
4.De tal modo a resposta do mercado foi favorável que o Tesouro espanhol decidiu colocar mais dívida do que tinha anunciado: colocou € 4.941 milhões, quando tinha anunciado o objectivo de € 4.250 milhões...
5.Estaremos perante uma primeira reacção do mercado, conferindo aparentemente muito maior crédito às decisões da Cimeira/BCE do que se poderia concluir da avaliação ultra-pessimista da maioria esmagadora dos comentadores (com excepção do 4R e poucos mais) ?
6. Parece-me muito cedo para tirar conclusões nesse sentido, tanto mais que se trata de uma primeira experiência que pode ter outras explicações e não apenas aquela que avancei como hipótese.
7.Mas uma coisa é certa: esta primeira reacção dos mercados está totalmente desalinhada do choro convulso, de pessimismo exacerbado, da esmagadora maioria dos comentadores...o que não deixa de ser estranho...

28 comentários:

AF disse...

Uma pergunta: porque é que o BCE vai "emprestar" aos bancos a juros de 1%, para depois os bancos emprestarem aos países a 5%? Não era melhor emprestar directamente aos países a 1%? Ou é por causa dos "mercados"?

Tonibler disse...

Aos estados, AF? Porque não a mim, que não ferrei o calote a ninguém?


Caro Tavares Moreira,

Deve levar uns 3 dias até os alemães, eleitores, perceberem que foram embarrilados. Vamos ver no que dá. Mas se isto se mantiver, o que me parece impossível, vem dar razão ao anterior primeiro-ministro...

Carlos Sério disse...

O pior é que, contrariamente ao que poderia pensar-se, esses “mercados” não são forças exóticas vindas de algum horizonte distante para agredir as nossas gentis economias. Não. Em sua maioria, os “atacantes” são os nossos próprios bancos europeus (esses mesmos que, com o nosso dinheiro, os Estados da UE salvaram em 2008). Para dizê-lo de outra maneira, não são só fundos estadounidenses, chineses, japoneses ou árabes os que estão atacando massivamente algunos países da zona euro.
Trata-se, essencialmente, de uma agressão desde dentro, vinda do interior. Dirigida pelos próprios bancos europeus, as companhias europeias de seguros, os fundos especulativos europeus, os fundos europeus de pensões, as instituições financeiras europeias que administram as poupanças dos europeus. Eles são quem possui a parte principal da dívida soberana europeia. E quem, para defender – em teoria – os interesses dos seus clientes, especulam fazendo aumentar os juros que pagam os Estados endividados, até levar a vários destes (Irlanda, Portugal, Grécia) a muito perto da bancarrota. Com o consequente castigo para os cidadãos que devem suportar as medidas de austeridade e os brutais ajustes decididos pelos governos europeus para acalmar os “mercados”, ou seja, os seus próprios bancos...

Tavares Moreira disse...

Caro AF,

O BCE empresta aos bancos porque pode emprestar-lhes, não empresta aos países porque isso lhe está estatutariamente vedado...
E se empresta aos bancos a 1%, isso tem a ver com a suposta necessidade de incentivar os bancos a emprestarem dinheiro à economia a preço mais convidativo...
Quando os bancos decidem utilizar esses fundos para emprestar aos países, a margem elevada que refere tem a ver com o risco percebido nessas aplicações...

Caro Tonibler,

Não me parece que os alemães se vão preocupar muito com isso, se assim fosse já tinham dado sinais bem visíveis...
Quanto a esta situação poder manter-se em "crise" larvar até ao advento da União Orçamental, nada tenho por garantido ou adquirido...veremos, veremos, não encontro melhor resposta!
Essa de dar razão ao ex-PM é que me parece mesmo brincadeira de Tonibler!

Tavares Moreira disse...

Caro Carlos Sério,

As expressões "ataque" ou "agressão" que utiliza, têm uma clara conotação castrense, que parece não ser a mais adequada para a apreciação destes comportamentos...
Falar em especulação já se afigura mais consentâneo com uma actividade que é eminentemente civil e que, em última análise, tem a vêr com a gestão de riscos de investimento...
Fazer disto um tema de conjura ou de maquinação anti-europeia ou aniti-Euro será uma forma romanceada de apreciar estes assuntos, muito do gosto dos analistas é certo mas que ajudará muito pouco a entender o fenómeno da cotação das dívidas e menos ainda a resolver os problemas de quem, como nós, se encontra realmente "encravado"...

AF disse...

Caro Tonibler,

"Aos estados, AF? Porque não a mim, que não ferrei o calote a ninguém?"

Boa pergunta. Mas porquê aos bancos, nesse caso?

O que me leva à segunda questão:

Caro Dr. Tavares Moreira,

"O BCE empresta aos bancos porque pode emprestar-lhes, não empresta aos países porque isso lhe está estatutariamente vedado..."

Mas porquê emprestar aos bancos e não aos estados? Se me disser que o BCE estatutariamente não "empresta" dinheiro a ninguém, pra não promover a inflação etc etc, isso eu consigo "entender". Agora, emprestar aos bancos a 1% para estes depois emprestarem aos estados a 5% ou mais, parece-me, por um lado, desvirtuar o próprio princípio de não emprestar dinheiro, e por outro, parece-me um caminho seguro pra prolongar o estado das coisas, no sentido de que os bancos vão continuar a "emprestar" preferencialemnte aos estados e a secar a economia "real". Sinceramente, isto parece, aos meus olhos de leigo, uma solução "meio termo", em que nem se respeitam integralmente os princípios, nem se desrespeitam totalmente os mesmos.
Acima de tudo porque é perfeitamente óbvio que a intenção é fazer chegar o dinheiro do BCE aos estados, via bancos.Parece-me também um óptimo negócio para os bancos, e um desperdício de dinheiro, na perspectiva de todos, menos dos bancos. :)

Tavares Moreira disse...

Caro AF,

Se o BCE está mesmo impedido de financiar os Estados membros, que é que se pode fazer? Só desimpedindo-o, o que não me parece tarefa fácil ou viável tampouco...
Permito-me recordar que já antes da criação do BCE, os bancos centrais dos países aderentes ao Euro - BdeP incluído - se encontravam estatutariamente impedidos de financiar os Estados...nada de novo, portanto.
Quanto ao preço que os bancos cobram pela compra de dívida pública, permito-me lembrar que se eles, em lugar de comprarem dívida emitida pelos "stressados" resolverem comprar dívida alemã ao prazo de 2 anos, por exemplo, receberão como juro a módica taxa de 0,3%...e se for dívida francesa, ao mesmo prazo, receberão cerca de 1%...
Que lhe parece isto?

Tonibler disse...

Caro AF,

Porque os bancos podem receber o dinheiro, mas a responsabilidade de o devolver ao BCE continua deles. Porquê os bancos? Porque é isso que eles fazem na vida, pedir emprestado para emprestar. Porque não aos estados? Porque "alguns" estados não pagam de volta....

Caro Tavares Moreira,

Aparentemente, a coisa não está assim tão simples atendendo que a ida à pedincha dos italianos não correu assim tão bem. Alguma coisa não se está a passar exactamente da forma que descreve.

AF disse...

Caro Dr. TM,

Parece-me bom negócio! :) E nada tenho contra bons negócios para os bancos, note bem, desde que não seja "às custas", por meios travessos, do dinheiro do pessoal. Porque, em última instância, quem perde com estas história são os que poupam.

Quanto ao impedimento do BCE financiar os estados, parece-me sinceramente fachada, pura e simples. As declarações dos seus responsáveis não são confirmadas pelos actos. Uma pesquisa rápida no Google:

http://www.businessweek.com/news/2011-11-18/spanish-italian-bonds-rise-as-ecb-said-to-purchase-their-debt.html

http://www.nytimes.com/2011/08/05/business/global/bank-of-england-and-european-central-bank-news.html?_r=1&pagewanted=all

Segundo li, "All fiscal rules have by now been broken. Bail-outs have been implemented and the ECB is funding member states to the tune of €20 billion per week!"

(já agora, o link : http://papermoneycollapse.com/2011/12/last-week-in-europe-%E2%80%93-some-thoughts-on-the-ongoing-crisis/ )

Em que ficamos? :)

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Atenção aquilo que escrevo, ou que escrevi...fará o favor de notar que referi sempre dívida de curto prazo - até 2 anos - que é aquela que "cabe bem" no espaço aberto pela nova facilidade de liquidez...
A dívida de € 3.000 milhões hoje emitida pela Itália, que aliás teve boa procura mas taxa elevada (6,45%) é dívida ao prazo de 5 anos, pelo que está fora do âmbito de aplicação dos meus comentários...

Caro AF,

Oxalá seja mesmo bom negócio...será sinal de que os países financeiramente "stressados" (sempre com muito a digna excepção helénica) serão capazes de ultrapassar as dificuldades por que passam e de reembolsar suas dívidas...

Carlos Sério disse...

Caro Tavares Moreira,
“ultra pessimismo da maioria esmagadora dos comentadores (com excepção do 4R e poucos mais)”.

Quando, nós verificamos o ciclo infernal em que caíram as economias dos PIIGS (e não só) – redução da notação das dívidas públicas pelas agências de rating tendo como consequência o aumento de juros da dívida e daí a necessidade de mais dinheiro para o pagamento dos juros o que acarreta novos planos de austeridade (com cortes e aumento de impostos) que provocam por sua vez mais recessão e logo nova baixa de notação que se traduz novamente por mais elevados juros, numa espiral sem fim à vista – somos pessimistas.
Quando ocasionalmente surge uma cifra favorável aos optimistas, invoca-se tal ocasionalidade como de regra se tratasse. Faz-me lembrar (com as devidas distancias) as intervenções do antigo primeiro-ministro José Sócrates sempre que a contra ciclo aparecia uma cifra que lhe era favorável – “estão a ver como neste trimestre crescemos mais que a UE”, acusando tudo e todos pelo pessimismo que transmitiam.
A crise trouxe ao de cima não apenas as fraquezas mas a própria a inviabilidade do sistema monetário europeu tal foi configurado.

Pinho Cardão disse...

Caro Carlos Sério:
O meu amigo tem possibilidades de adquirir dívida grega no mercado, com vencimento em 2013, emitida a uma taxa de juro de 4,625% por 46% do seu valor nominal, o que lhe dá um yield, isto é, uma rentabilidade de 74%. Não há comprador a esse preço, mas apenas a 41% do valor nominal.
Vê-se bem o que o "especulador" que comprou está a ganhar!...
Dirá o meu amigo que o verdadeiro "especulador" é o que compra a 41%. Pois pode ser reembolsado por 100%. Pode. Mas também pode ser obrigado a vender por 31%.
Claro que o meu amigo pode dizer que, não havendo compra nem venda, não há "especulação". Pois não. Nem haveria quem tomasse a dívida emitida.

Tonibler disse...

Tem razão, só falou no curto prazo. Entretanto, euro está em queda e já se sabe que foram os bancos espanhóis a ir ao BCE buscar dinheiro para o estado... Vamos ter cimeira para a semana que vem?

Tavares Moreira disse...

Carlos Sério,

Não pondo em dúvida a sua seriedade, de todo, pode por favor explicar-me quem falou aqui em optimismo?
Eu limitei-me a não embarcar ou ir atrás, em registo de "herd behaviour", da vaga de pessimismo exacerbado...para si não se deixar arrastar por pessimismo exacerbado já é optimismo?
Mas que escala de valoração tão extremada, a que utiliza!

Caro Tonibler,

O Euro está em queda...não me diga que isso o preocupa?
Não precisamos nós, "como pão para a boca", de uma moeda menos forte?
E o Euro cotado a 1,30 USD é assim tão fraco? Recorda-se do Euro a 0,82 USD? Não foi há tanto tempo...

Tonibler disse...

Sim, lembro, foi no tempo em que os alemães passaram a sua fase lusitana e estavam no seu período de austeridade. Agora é só convence-los a passar o período de austeridade dos outros ou, com o euro a baixar, pelos outros. Por isso é que digo que vai levar uns dias, mas eles vão lá chegar...

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Os alemães não passaram nenhuma fase lusitana, se me permite...o que os alemães fizeram foi o que os lusitanos deveriam ter feito se tivessem uma noção mínima das realidades - ou seja uma política adaptada às exigências de uma zona monetária, preparando o futuro...
Aquilo que apelida de fase lusitana é uma coisa bem distinta, sintetizável no velho adágio "casa assaltada, trancas à porta"...
Os alemães colocaram as trancas e os ferrolhos em todas as portas, ainda os ladrões (mercados, especuladores de casino, para usar as suas inspiradas expressões) vinham bem longe...

Tonibler disse...

Passaram, caro Tavares Moreira, durou foi pouco tempo (isto comparado com os 12 anos de economia lusitana pujante). A deles acabou com a onda de falências pós 11/9 e Enron no início do século (que provocou uma quebra grande nas exportações) e que eles souberam responder de forma imediata e bastante dura (se o Gaspar quiser saber o que é austeridade é perguntar-lhes...). Alguns alemães até tiveram que emigrar para economias mais "saudáveis" como a portuguesa e dois desses até são meus colegas actualmente.

Agora, como diz, não estiveram à espera dos especuladores da economia de casino para fazer o que tinham que fazer.

Tavares Moreira disse...

Essa dos 12 anos de economia lusa pujante é de mestre, caro Tonibler!
Uma pujança que ainda hoje está bem presente, bem viva, e que agora nos permite até ameaçar os credores com a suspensão dos pagamentos!
Em matéria de imbecilidade e de ignorância do que realmente nos cabe fazer, continuamos imbatíveis, pelos vistos!

Tonibler disse...

Imbatíveis! Juntando este ao dos 0% de ponderação, o das almofadas e o da equidade fiscal e já estou a pensar em dizer aos meus filhos que podem deixar a escola porque já estão aptos para altos cargos políticos. Isto para evitar ficarem com um currículo bom demais por fazerem o 9º ano.

AF disse...

Meus caros,

Alguém, o Dr. Tavares Moreira, ou outro comentador, me esclarece, por favor, a minha dúvida?

É ou não verdade que o BCE financia "às vezes" directamente as dívidas soberanas?

Tavares Moreira disse...

Caro AF,

Que seja do meu conhecimento - e sem o meu conhecimento estou convencido que o BCE nunca faria uma coisa dessas - o BCE não financiou Estados membros do Euro...
O que o BCE tem feito, do conhecimento público,é comprar dívida pública em mercado secundário, o que é diferente de financiar Estados...
Se o caro AF adquirir em mercado secundário dívida portuguesa, por exemplo, quando muito estará a financiar quem lhe vende essa dívida - banco ou outro intermediário financeiro -não o Estado, pois este foi financiado no momento em que emitiu a dívida...
Fui claro (brincadeira inicial à parte)?

Carlos Sério disse...

Caro AF,
O BCE ao

não apenas rompeu com o espírito do famoso artículo 123, comprando dívida pública aos Estados, tais como Espanha e Itália, como colocou como condição que os salários e a protecção social diminuam, acentuando a necessidade de privatizar o Estado do Bem-estar, tanto as suas transferências públicas como as pensões, assim como os serviços públicos como a saúde. Estas condições estão escritas numa carta, não conhecida do público, que o governador do BCE e o governador do Banco de Espanha, redigiram ao Presidente Zapatero condicionando a compra de “bonos” públicos do Estado espanhol à tomada de tais medidas por parte do Estado Espanhol.
Uma coisa semelhante ocorreu com a Itália.

AF disse...

Caro Dr. Tavares Moreira,

Ser um "nabo" nestas andanças da economia e da finança tem destas coisas. :) Mas eu vou tentando.

Efectivamente, relendo, o "financiamento" não será directamente aos estados.

Mas, do artigo que mencionei acima, "...Every week, the ECB buys bonds of weaker eurozone states in an attempt to lift their prices above normal market-clearing levels. Such indirect funding of state spending via the printing press is against ECB-rules, as Mr. Draghi confirmed again in his press conference. However, it is being done continuously by the ECB...", fico com a "sensação" que o BCE transgride, senão à letra, ao espírito da tal regra que o Dr. TM mencionou. E isto às vezes. Selectivamente?

AF disse...

Caro Carlos Sério,

Como disse acima, sou um nabo nestas coisas. Eu já pra perceber as coisas "oficiais" me vejo grego (salvoseja!), quanto mais as cartas "secretas"! :)

Tavares Moreira disse...

Caro AF,

É evidente que a intervenção do BCE, tanto adquirindo dívida pública no mmercado secundário como concedendo financiamento aos bancos a 6 meses, 1 ano ou 3 anos, com colateral de divida pública é uma forma de ajudar os Estados mais endividados...não é obviamente neutral do ponto de vista das condições de colocação primária dessa dívida...
Mas isso é sempre diferente da aquisição directa de dívida aos Estados, sobretudo em quantidades quase ilimitadas como pretenderiam os mais genuínos europeístas (quando descobriram que os Eurobonds não tinham mesmo saída).
Para que isso aconteça é necessário que os intermediários financeiros adquiram essa dívida para que ela seja transaccionável em mercado...
Mas tb lhe digo que se assim não fosse nesta altura haveria países Eurísticos que já não conseguiriam emitir qq dívida, estaríamos a assistir ao colapso financeiro desses países (com fenómenos generalizados de bancarrota) e quiçá ao desmantelamento da Zona do dito...

Tonibler disse...

Caro AF,

No mercado primário os estados (ou qualquer outro emitente) estabelecem uma taxa de juro para um dado valor de empréstimo. Pode imaginar várias resmas de folhas a4 a dizer "Vale 1 Euro e paga 3%" mas hoje em dia é tudo em formato electrónico. Antigamente, agarrado à folha, existiam vários pedaços de papel destacáveis. Chamavam-lhe os "cupões" e correspondiam ao juro a receber em cada um dos períodos previstos. O detentor pegava no cupão e ia receber o dinheiro ao emitente. Ainda hoje a cada pagamento de juro se chama de "cupão".

Agora imagine que eu tinha ido à "emissão", o acto em que o emitente "vende" essas folhas a4 às pessoas que lá vão e, quando trago a folha para casa é com o compromisso de receber cada um dos cupões e, no fim (na "maturidade" do título) receber o valor que está escrito na folha (o "principal").
A compra de dívida dos estados pelo BCE é uma forma de "fazer preço", subindo o preço dos títulos de dívida.

Ora, esta folha tem um valor que pode ser transaccionado. Em rigor, uma nota de 10 euros é um título de dívida do estado europeu que pode ser trocado por....10 euros ;).

Esta folha vale pelo principal e pelos cupões a que dá direito de receber, portanto o seu preço reflecte de forma directa a taxa de juro que está escrita na folha, ou seja, a quantidade de dinheiro que vai receber pelos cupões e, naturalmente, o principal que vai receber o fim (para simplificar, vamos reduzir tudo ao caso em que o principal só vem no fim).


Mas também, do ponto de vista negativo, existe a possibilidade do emitente ir à falência e não lhe pagar nada. E, portanto o valor da folha é reduzido deste risco. Assim a taxa de juro escrita sobe o valor da folha, o risco de não pagar desce.

Por razões que são mais que mero jargão, as pessoas dizem que a taxa de juro sobe no mercado quando as folhas baixam de preço que significa que o risco de não se receber está a subir sem que a taxa de juro escrita suba. Ou seja, se voltássemos à emissão, a taxa de juro escrita teria que ser muito maior para que as folhas tivessem igual valor.


Quando o BCE compra no secundário, já depois da emissão, compra para fazer subir o preço. Isto é, para dar a sensação de que a taxa de juro que está escrita é suficiente ou, equivalentemente, que o emitente vai pagar de certeza. Como isto é mesmo só dar a sensação, não tem aderência à realidade (em princípio) o BCE está a comprar algo que vale pouco por muito dinheiro, isto é, está a deitar dinheiro à rua. Por isso, em princípio, o BCE não pode fazer nada disto. Agora, isto é em princípio. Se os estados europeus garantem e têm a certeza de que nenhum dos emitentes vai incumprir, então o BCE não está a deitar dinheiro à rua.

Consegui explicar bem?

Carlos Sério disse...

Caro AF,

A modéstia a mais transforma-se em imodéstia e de nabo, o caro AF, não tem nada.
E de "coisas oficiais ou não oficiais" recomendo-lhe uma visita a
http://www.vnavarro.org/?p=6629

AF disse...

Ora bem, resposta breve, e por ordem inversa:

Caro carlos Sério,

Vou ver o link, já "passei os olhos" e parece interessante. Quanto à nabice, modéstias e imodéstias, se estivessemos a falar de programação gráfica tipo OpenGL ou C#, por exemplo, aí, já não sou tão nabo. :) Em finança e economia, sou o que se pode chamar um "tenrinho". Mas isso não me impede de continuar a tentar aprender. ;)

Caro Tonibler,

Li o seu extenso comentário, mas vou relê-lo mais tarde com cuidado, porque gosto de tentar perceber bem as coisas. De qualquer forma, já percebo donde vem essa história dos "coupons" :D

Caro Dr. TM,

Vou também reler com mais cuidado o seu comentário, asap. Da primeira leitura demasiado rápida, fiquei com a impressão que a actuação do BCE nem é carne nem é peixe (antes pelo contrário! :D ) E logo mais perguntas me surgiram, de tal modo que o impulso era logo perguntá-las. Mas como disse vou reler com cuidado.

Os melhores cumprimentos para todos!