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sábado, 16 de dezembro de 2006

Calçada à Portuguesa, uma distinção...

Até que enfim! "Já era tempo de fazer justiça aos calceteiros".
Foi ontem inaugurada pela Câmara Municipal de Lisboa na Baixa Pombalina – Rua da Vitória, em frente à igreja de São Nicolau – uma estátua de homenagem ao Calceteiro de Lisboa. Trata-se de uma obra do escultor Sérgio Stichinni composta por duas figuras em bronze: um calceteiro a esculpir a pedra e um ajudante com o maço a bater a pedra.
Lisboa é provavelmente a única cidade de todo o mundo em que vale mesmo a pena olhar para o chão. Peixes, flores, pássaros e caleidoscópios ondulados e muitos outros motivos artísticos adornam as praças e passeios públicos em rendilhados de pedra, que envelhecem com as memórias de quem por cima deles anda.
É genial o embelezamento do chão público com os pequenos cubos de pedra preta e branca, uma solução ecológica e esteticamente colorida e brilhante.
A calçada à portuguesa é uma distinção nacional, genuinamente artesanal, em que com uns martelinhos de 800 gramas, se cortam ali mesmo pequenos cubos de calcário, granito ou basalto, que artisticamente combinados revelam uma faceta da nossa cultura.
É portanto muito merecido o monumento ao Calceteiro de Lisboa.
Seria importante que a Câmara Municipal de Lisboa não se ficasse por esta homenagem e invertesse a redução drástica do número de profissionais calceteiros ao seu serviço e promovesse esta profissão, de modo a que a calçada à portuguesa continue a brilhar como nos tempos antigos.
Não é com os 20 calceteiros actualmente ao serviço da Câmara e com o trabalho dos empreiteiros cuja aptidão técnica é muitos vezes deficitária que iremos manter o ex-libris nacional que é a calçada à portuguesa.
Se por um lado, a calçada à portuguesa nos põe de cabeça baixa, pedindo-nos que olhemos para o chão, por outro lado, é-nos exigido que saibamos estar com a cabeça bem levantada, que tiremos partido deste e de todos os outros valores nacionais.

8 comentários:

Carlos Monteiro disse...

Cara Margarida,

Estamos a falar de calçada à portuguesa com aqueles desenhinhos pretos e brancos, ou estamos a falar do vulgar passeio todo torto?

Só para contextualizar, a ver se concordo consigo ou não...

;)

Tonibler disse...

Eu penso que a Câmara de Lisboa anda numa fase de renovação em que os calceteiros estão a ser substituídos por caceteiros devido aos menores custos de formação destes...;)

Anónimo disse...

Tem muita razão de ser a crítica à existência de apenas 20 calceteiros por conta da CML. Mesmo assim, do responsável do pelouro da Câmara aos fiscais, há a obrigação de velar pela qualidade da execução do trabalho, que me parece em geral ter iniciado uma longa e dolorosa decadência. Não posso concordar mais com os caros cmonteiro e Tonibler.

Mas, como inverter esta situação? Longe vão os tempos daqueles reclusos ditos do Limoeiro que, a troco de uma paga necessariamente modesta, preferiam vir para as ruas de Lisboa velha trabalhar. Todos podíamos observar a qualidade técnica do que faziam. Claro: boa formação profissional, boa fiscalização.

Se calhar, os próprios empreiteiros, coitados, também se queixam: gastam um dinheirão para repor ou restaurar a calçada da área onde interveio a obra e ainda são criticados por transeuntes exigentes.

Mas vamos procurar segmentar. Óbvio é que não teremos nenhuma representação expressiva de jovens portugueses interessados em praticar esta actividade. Logo, disponibilização de fundos para formação profissional aos trabalhadores imigrantes, fundamentada na necessidade de se não deixar degradar este activo turístico.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro cmonteiro,
Vale a pena olharmos para baixo para apreciarmos os lindos desenhinhos preto e branco. Infelizmente também temos que olhar para baixo mas pelas más razões: o risco de torcer um pé é muito grande!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Tonibler,
Não perde uma! O que um "l" a menos pode realmente fazer!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro antunespedroso,
Há que efectivamente não deixar morrer os calceteiros. Na verdade há muito trabalho para fazer e, portanto, é sempre uma mais valia.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Clara,
Óptima ideia, até pode ser que a Maria José Nogueira Pinto, agora que tem mais tempo, se proponha desenvolver a sério a escola de calceteiros.
Pode ser que tenhamos sorte...

Unknown disse...

Venho aqui deixar o meu comentário sobre os calceteiros. Tirei um curso de calceteiros através da CML em 1990, com a duração de 10 meses. Findo esse curso fui trabalhar para uma empresa privada a fazer calçada ao quadrado,a repavimentação dos passeios e por vezes de estradas, que em alguns locais ainda existia estradas com pedra de basalto.Mas o curso dá-nos uma formação para todo o tipo de calçada, supostamente uma formação para a preservação dos nossos passeios que dispertam a atenção dos turistas, e aqueles passeios que o nosso país não dá valor algum, pois se assim fosse teria muito mais empenho em dar continuidade a uma profissão dura, sim senhor, mas concerteza que quem a pratica tem muita paixão por ela.Um conselho ao nosso governo, de quem ama esta profissão
e neste momento está desempregada, apostem na preservação do que é genuínamente portugês.