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sábado, 30 de dezembro de 2006

Estúpida lentidão!

A lentidão é uma das nossas principais características. Somos lentos a trabalhar, a produzir, a pagar impostos, a chegar a horas ao emprego. A nossa justiça é tão lenta que acaba por "esquecer" os crimes. O serviço nacional de saúde é tão lento que chega a chamar os mortos. As leis levam tanto tempo a serem regulamentadas - quando o são - que até nos esquecemos que existem! Os poderosos da economia são tão lentos que, como no caso dos combustíveis, levam mais de um mês a baixarem os preços (a baixarem!). O nosso jornalismo é tão "lento", parafraseando Baptista-Bastos, que chegam a publicar notícias de primeira página, quatro dias depois do acontecimento. Os governantes são tão lentos que ainda não entregaram o dossier para a obtenção dos novos fundos comunitários. Gasta-se uma fortuna na reestruturação da linha do Norte, mas os comboios teimam em chegar atrasados. Enfim, não faltam exemplos da luso lentidão. Não quer dizer que não sejamos, igualmente, capazes de ser rápidos. Rápidos nas estradas, rápidos nos copos, rápidos na maledicência, rápidos na condenação social, rápidos a chegar aos cemitérios, rápidos a vigarizar, rápidos a prometer fundos e mundos, rápidos a gastar dinheiro (mesmo não o tendo), rápidos a protestar…
Esta dualidade lentidão-rapidez é preocupante, porque além de traduzir, na sua génese, problemas muito graves são igualmente fonte de outros, alimentando um curto-circuito de inoperância estrutural que nos faz afastar cada vez mais dos povos desenvolvidos.
A lentidão é uma constante, e não há banda larga que consiga contrariá-la, nem choque civilizacional que promova uma maior e eficaz eficiência das nossas estruturas organizacionais.
Os últimos acontecimentos são paradigmáticos. Mais uma criança vítima de maus-tratos e um naufrágio onde pereceram pescadores. No primeiro caso, questiona-se pela milésima vez, por que é que continua a haver casos desta natureza? Falta de estruturas, falta de capacidade de diagnóstico e de prevenção? Não nos parece, porque depois de acontecer o que não devia acontecer, avolumam-se evidências de que se deveria ter actuado mais cedo. Mas não se actuou e a sociedade foi mais uma vez cúmplice. No outro caso, a morte desesperada de pescadores, e a poucos metros da praia, sob o olhar impotente de concidadãos, fruto de manifesto atraso no socorro. De acordo com os elementos disponíveis se os meios aéreos de salvamento tivessem actuado mais cedo, teriam sido salvos. Agora, num caso e noutro, vão ser apuradas responsabilidades. Rapidez na constituição das comissões, lentidão nas conclusões e esquecimento das tragédias, e tudo voltará à normal lentidão, tão característica de uma sociedade que estupidamente despreza e ignora a vida…

2 comentários:

Suzana Toscano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Toscano disse...

É assim, como diz, Massano Cardoso, é tudo tão lento quando se está desesperado, quando a diferença entre a vida e a morte pode ser um gesto de decisão, a atenção de outra pessoa ou a diligência de muitas. Mas, sem querer estar aqui a desculpar ou justificar este "clima" que descreve, a verdade é que não queria ser eu a ter nas mãos a responsabilidade de distinguir, a cada momento, a urgência que divide essa linha terrível. Diz-me uma pessoa que trabalhou na Segurança Social que são pilhas de casos de crianças em risco que chegam todos os dias às secretárias de quem as analisa, só por sorte é que muitas vezes conseguem evitar que a loucura dos selvagens que as maltratam não se torne irremediável. Há pessoas, e os médicos estão na linha da frente, que são muito corajosas nos trabalhos que escolhem!