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quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

“Soberana irresponsabilidade”…

Vários factores têm sido responsabilizados pelo aumento da incidência das doenças alérgicas verificado nas últimas décadas. A par de uma excessiva higienização, característica de um mundo moderno e “asséptico”, em que se observa ausência de contactos, em idades precoces, com várias substâncias e agentes, associa-se também uma exposição a determinados produtos químicos. A este propósito, as famosas dioxinas conseguem, entre outros efeitos, provocar, em doses muito baixas, alterações da imunidade da mucosa intestinal induzindo uma sensibilização sistémica aos antigénios orais. As crianças são mais sensíveis, estando mais expostas a este grupo de substâncias tóxicas.
Um outro estudo descreve que os homens com níveis de dioxinas elevados no sangue apresentam taxas de testosterona mais baixas e menor prevalência de aumento da próstata. Claro que a redução do alargamento da próstata é benéfico, mas, espero que ninguém se lembre de combater este problema, que atinge uma proporção elevada dos homens a partir de certa idade, expondo-os à poluição! Este achado resulta de estudos efectuados em veteranos norte-americanos que estiveram expostos ao famoso Agente Laranja durante a guerra do Vietname. E, a este propósito, passados trinta anos sobre o seu fim, as consequências médicas da utilização desta substância ainda se fazem sentir. Uma verdadeira “ferida aberta”. São trágicos os efeitos. Muitas famílias viveram e vivem dramas com os seus filhos deformados, muitos dos quais morreram e outros vão morrendo aos poucos.
Calcula-se que foram lançados mais de oitenta milhões de herbicidas, entre 1961 e 1971, pelas forças norte-americanas nas florestas e plantações. Cerca de 5 milhões de pessoas estiveram expostas e pelo menos um milhão de crianças vietnamitas foram e são vítimas. Ainda hoje vastas zonas do território apresentam valores muito elevados de dioxinas, centenas de vezes superiores aos admitidos noutros países.
Os representantes das vítimas exigem a Washington que reconheça as suas responsabilidades, procedendo às correspondentes compensações. O que é estranho é o facto de os norte-americanos insistirem que não há provas científicas suficientes de que as malformações congénitas, e muitas outras doenças, sejam devidas às dioxinas! No entanto, soldados norte-americanos, assim como australianos e neozelandeses, que estiveram expostos ao agente laranja, receberam importantes indemnizações das companhias responsáveis pela produção do químico, mas quando a associação das vítimas vietnamitas exigiu, também, uma indemnização aos fabricantes o tribunal recusou o pedido! Entretanto, o Governo norte-americano fugiu da demanda invocando ”imunidade soberana”. Curioso! Saddam foi condenado e é responsável por vários crimes, nomeadamente a morte de curdos com substâncias químicas, mas quanto ao crime norte-americano praticado, também, com químicos, e que continua a afectar inúmeras crianças vietnamitas, é invocado um conceito jurídico!
As cicatrizes da guerra do Vietname são visíveis, muitos anos após o fim da mesma. Cicatrizes que tendem a abrir-se em corpos de inocentes que entretanto vão nascendo….

3 comentários:

Bartolomeu disse...

Nas suas predições, Miguel de Nostradamo antevê o fim do mundo na forma de uma chuva de fogo. Jà Noé, alguns seculos antes, recebera de Deus a ordem para construir a arca onde recolheu um casal de cada espécie de animais viventes, salvando-os e salvando-se a si e à sua família do dilúvio, dando depois início ao tronco das novas raças humanas. Ficção? Crença excessiva numa fé imaterialista?
Dizia Aristóteles que todo o conhecimento vai sendo adquirido com as experiências da vida. Concordo.Concordo ainda com Socrates, (não o José) quando afirma que o ser humano só conhecerá a perfeição quando tiver um conhecimento perfeito de si mesmo. Ao longo dos séculos as hecatombe e as catástrofes que assolaram o mundo, deveriam ter ensinado o homem a olhar-se com igualdade, respeito e natural fraternidade, pois custaram à raça humana incomensuráveis derrotas e retrocessos na busca e conquista daqueles valores. Acredito que, paralelamente à procura incessante da capacidade para se encontrar consigo próprio, o homem luta também por manter o seu semelhante numa posição de total dependência, diria até de escravidão, ou controle.

Bartolomeu disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Meu caro Professor, é sempre importante lembrar os horrores e apontar sem complexos ou preconceitos as responsabilidades.
Em matéria de direitos humanos a questão é esta mesmo com que termina a sua nota. Dois pesos e duas medidas em função do hemisfério. Longa conversa daria este tema!
Parabéns pela abordagem.