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terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Trabalho Voluntário, uma distinção social e económica...

Não comemorámos o Dia Mundial do Voluntário – hoje, dia 5 de Dezembro. Quero eu dizer que não foi conferido, entre nós, ao trabalho voluntário, neste dia que poderia ter sido um dia especial, a relevância política e social que merece, assim como às actividades sociais e económicas que dele dependem e ao seu contributo para a humanização da sociedade.
Naturalmente que o voluntariado vive-se todos os dias, em todos os concelhos do País, apenas para dar alguns exemplos, em centenas de instituições de solidariedade social, de hospitais e de escolas e de outras unidades ligadas ao sector social, e sente-se no dia a dia na disponibilidade e boa vontade de milhares de voluntários de todas as classes sociais, das mais diversas áreas de competências técnicas e abrangendo um leque etário muito alargado.
Ora sendo o trabalho voluntário uma força económica significativa, que não gera “despesa”, especialmente despesa pública (em particular na Acção Social, a cargo do Estado, isto é, financiada através dos impostos), e um tributo social distinto, pela vertente humanista que em si encerra, bom seria que esta realidade fosse publicamente valorizada pelo excelente exemplo que constitui e pelo seu grande contributo para ajudar a construir um País melhor, enquanto factor de valorização social e económica. Seria igualmente uma oportunidade de promover a sua força.
Quando comparamos os pesos do trabalho voluntário e do sector não lucrativo no PIB, percepcionamos que são “fracos” em Portugal quando comparados com outros países da União Europeia. O seu potencial de crescimento é grande.
O desenvolvimento do trabalho voluntário será cada vez mais uma oportunidade e um desafio da sociedade civil, impulsionados pela necessidade, cada vez mais presente, de, por um lado, os cidadãos se sentirem mais úteis, mais realizados e mais responsáveis, colocando o seu tempo e o seu conhecimento à disposição de causas sociais e outras que melhorem o bem estar colectivo e de, por outro lado, as empresas oferecerem respostas concretas ao exercício de políticas de cidadania e de responsabilidade social, através de um apoio formal e organizado aos seus colaboradores, preparando-os e motivando-os para o exercício do voluntariado.

6 comentários:

Anónimo disse...

Cara Margarida,

Excelente texto. Sóbrio, informativo e incentivador do mérito.

Desculpe-me, porque vou ter menos reservas de severidade para com o Estado.

Temo que o Estado, da maneira como se viciou na administração da coisa pública – em que o que realmente conta, na pindérica paisagem económica que não consegue inverter, são as receitas e as despesas - se sinta desmotivado e temeroso em trabalhar este assunto.

Não lhe importa que as pessoas ponham à disposição do bem público o seu trabalho e saber, já que não pode taxá-lo por não ser remunerado; mas apavora-o iniciar qualquer tipo de convívio com acções beneméritas desta natureza - ainda que seja só tirar-lhes o chapéu de vez em quando - pois sabe que mais cedo ou mais tarde tal representará um compromisso que, "erradamente" capitalizado, se traduzirá em gasto.

O Estado deveria louvar e incentivar estas mesmas acções – para as quais não tem capacidade de planeamento e de gestão corrente, nem recursos financeiros e humanos, e ainda menos probidade. Nos países civilizados e ricos – onde as causas e/ou a dimensão da pobreza não são comparáveis aos preocupantes padrões portugueses – as autoridades, perante o nível da educação da sociedade em geral, têm outra abordagem.

Que custava ao Estado ajudar a mobilizar a sociedade? Nada. Mas o ambiente e a preparação dos políticos em Portugal são perniciosos. Isso poderia descambar para reivindicações de outros agrupamentos partidários ou de forças de pressão: a coisa, sempre explorada a fundo pelas nossas televisões – nem que fosse por um clube de futebol mais "piedoso" - poderia tornar-se incomodativa para quem não quer largar um tostão.

Mas o Estado até podia agraciar meia dúzia destes benfeitores com condecorações nacionais – pensa um, para não gastar dinheiro - distribuídas aos milhares pelos nossos paladinos, apaniguados e amigos. Podia agraciar? Será? – pensa outro. Não só não são meia dúzia como até poderiam encobrir a auréola revolucionária de todos os grandes portugueses com relevantíssimos serviços abnegadamente prestados à sociedade desde há 30 anos.

Não. Atribuir condecorações a gente deste tipo não está nas prioridades do Estado. Até porque não é gente que ligue a isso, na sua maioria. E assim até se evita dar importância nacional a uns que, crescendo, retirará gradualmente importância aos outros.

Anónimo disse...

Excelente, Margarida.

Suzana Toscano disse...

Muito bem, Margarida. O trabalho voluntário é uma riqueza pouco valorizada, seria interessante saber o que deixaria de aparecer e ser assegurado se essa legião de generosos do seu tempo e das suas competências deixasse de agir! Mas não é a falta de reconhecimento que os diminui, isso só fica mal a quem os ignora, se calhar porque não seriam capazes de fazer nada parecido.E há tantas formas de ser voluntário, incluindo a de ajudar a organizar as próprias instituições de voluntariado, como o Entreajuda, que a Margarida tão bem conhece e representa! :)

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro AntunesPedroso,
Belíssimo retrato que faz do nosso Estado, que se esquece que o voluntariado é um bem público!

Caro Dr. Pinho Cardão,
Obrigada por ter lembrado o Presidente da República com o seu "ROTEIRO PARA A INCLUSÃO".

Cara Suzana,
Felizmente o voluntariado não precisa de "festas" para prosseguir o seu caminho, porque a força da sua existência reside na própria natureza humana.
O efeito de contágio é uma das suas vantagens. Por isso acredito que o caminho será sempre de crescimento.

RuiVasco disse...

Ontem, 5 de dezembro, por razões de ordem pessoal que nada vêm ao caso, mas justitficam a intervenção, passei o dia num hospital, entre as 8 h da manhã e as 20h! Nem de proposito. Pude assistir ao vivo, do papel, da presença, e da disponibilidade dos voluntários. Confesso, que com alguma surpresa, ou talvez não, assisti a pequenos/grandes pormenores do "olhar de lado" dos profissionais, perante apresença do voluntário - na sla de internamento, no acesso ao boloco operatorio, no elevador do hospital! Coisa estranha! Nós que tanto reclamamos solidariedade, "tememos" qaundo ela surge ao lado do profissional! Temor de fracos? Temor dos confrontos? Temor dos tempos? E eu vi, durante essas 12 horas de tudo isso...que estranho! Embora reconheça que nem sempre o Serviço de Voluntariado seja preparado e cuidado para se prestigiar e ser olhado com respeito! Parece-me que, por vezes, com facilistismo, se aceita qualquer um, com pouco que fazer, com um pouco de rimel nos olhos, uma bata com uma cruz e um "V" e uma postura de misericordia, se convence que aparecendo por ali vai ganhar o Céu mais facilmente!...
Como diz a Suzana, talvez seja necessário voluntários para organizar o serviço de voluntariado!
Mas que nem uma palavra deste comentário se entenda como critica a um serviço inestimavel que o Estado não garante!....
E agora vou ver a Quadratura do Circulo! Boa noite para todos!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro RuiVasco,
Boa noite. Espero sinceramente que tudo tenha corrido bem no hospital. Já tinha sentido a sua falta.
Interessante o seu testemunho facetado sobre a presença do voluntariado.
Conheço relativamente bem a actividade do voluntariado e as dificuldades que lhe estão associadas, designadamente as faltas e as falhas de "profissionalismo" e de gestão e organização da sua prestação.
Estes problemas de qualificação não estão isolados, não são mais do que o reflexo da nossa sociedade.
No sector da prestação de serviços públicos sociais e no sector social não lucrativo para o qual se dirige uma boa parte do trabalho voluntário, há uma enorme carência de recursos financeiros que são necessários para melhorar a sua qualificação.
As políticas públicas de incentivos à inovação e qualificação prosseguidas ao longo dos últimos anos não têm incluído, mal a meu ver, o sector não lucrativo como um eixo prioritário. Facto que em nada contribui, como bem se compreende, para melhorar, de uma forma mais rápida, aprofundada e alargada, os níveis não satisfatórios de qualificação, incluindo o trabalho voluntário.