Em 1925, em Dayton, Estado do Tennessee, John Thomas Scope, professor de biologia, foi julgado por ensinar a teoria de evolução de Darwin. O julgamento teve uma enorme repercussão mediática, tendo, inclusive, sido o primeiro a ser radiodifundido para todo o território norte-americano. Os opositores basearam os seus argumentos em motivos religiosos que, ainda hoje, prevalecem, agora sob novas roupagens. No final do julgamento, que ficou conhecido pelo “julgamento do macaco”, o professor foi condenado ao pagamento de uma multa de 100 dólares.
A revolução darwinista é uma revolução tanto científica quanto filosófica e constitui uma ideia científica maravilhosa. Mas, constitui uma “ideia perigosa”, sobretudo, para algumas correntes do pensamento. A imposição obrigatória de ensinar, a par do pensamento darwiniano, o criacionismo bíblico, tem ocorrido em vários estado norte-americanos e ameaça atingir a Europa.
Não é justo colocar em pé de igualdade matéria científica e assuntos religiosos. Luta desigual! Os criacionistas exigem mais provas que permitam afirmar que a teoria da evolução está correcta, mas, em contrapartida não apresentam uma única, sequer, a favor da sua posição! O incómodo é evidente, mais para os defensores do “criacionismo inteligente” do que para os darwinistas.
Não deixa de ser interessante a posição assumida pelo papa João Paulo II que, em 22 de Outubro de 1996, no seu discurso à Pontifícia Academia das Ciências, reconheceu na teoria da evolução mais do que uma hipótese. Cinquenta anos antes, o papa Pio XII, na encíclica Humani generis, considerava a doutrina do “evolucionismo” como uma hipótese séria.
Recentemente, um editorial do New York Times, da autoria do Cardeal Schonborn, Arcebispo de Viena, veio chamar a atenção para a necessidade de um debate na Europa sobre o darwinismo, ou melhor, sobre o neo-darwinismo. O Cardeal “não acredita em dogmas científicos, mas sim em dogmas da fé”. Não podemos esquecer as relações com o actual papa, sendo muito provável que estejamos perante uma mudança de posição face às declarações de João Paulo II.
É bom recordar que, a pretexto da liberdade de ensinar e de aprender, possamos vir a ser confrontados, no futuro, com a oposição de alguns pais, os quais, invocando concepções filosóficas de cariz religioso, considerem as ideias darwinianas como “perigosas” no desenvolvimento espiritual dos seus rebentos.
O “julgamento do macaco” ainda não terminou…
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terça-feira, 26 de julho de 2005
O julgamento do macaco…
de Alexandre Gabriel DECAMPS
(Musée du Louvre, Paris)
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