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sexta-feira, 15 de julho de 2005

"Oh! minha América, minha doce terra achada"


William Bouguereau
Étude d'une femme pour Offrande à l'Amour



A publicação recente de um livro sobre o orgasmo feminino (The case of the female orgasm de Elisabeth A. Loyd) e a sua interpretação em termos evolutivos, aliado à compra, em Madrid, de mais uma obra do notável escritor argentino Federico Andahazi, obrigou-me a reflectir sobre um órgão que ainda encerra alguns segredos: o clítoris.
A lembrança de que é alvo de mutilação em certas culturas causa arrepios, não só pelo facto de constituir uma ofensa física, mas também por ser uma violação da dignidade feminina. Deste modo, recordei-me de alguns aspectos, uns de natureza histórica e outros de natureza literária. Aliás, é até possível fazer uma ponte entre os dois. Basta para o efeito ler a primeira grande obra do já citado escritor argentino, O Anatomista.
O "descobridor" deste órgão, inexistente em cerca de 140 milhões de mulheres, sobretudo africanas (pela extirpação mais ou menos completa), foi Mateus Reinaldo Colombo, professor de anatomia em Pádua. Na sua obra, De re anatomica, publicada em 1559, está descrita a pequena e preciosa protuberância. Como prova do entusiasmo da sua descoberta, destaca-se a célebre frase "Oh! minha América, minha doce terra achada", comparando-se deste modo ao outro Colombo que tinha descoberto o Novo Mundo. E por que não?
O Anatomista descreve a vida romanceada deste médico e a forma como descobriu a função de algo, a quem atribuiu a origem do amor feminino, ao rotulá-lo de Amor Veneris.
Se Inês de Torremolinos, a mulher que permitiu ao mestre a descoberta, acabou por prescindir do amor, ao excisar-se voluntariamente do seu Amor Veneris, vel Dulcedo Appeleteur, para ser senhora do seu próprio coração, nada justifica esta prática ancestral, praticada em tantos países. Nem os próprios motivos religiosos justificam, já que não ocorre, praticamente, na Arábia Saudita, coração do islamismo.
Mateus Colombo quis colocar neste órgão a sede do amor, e sabia quais os riscos de tanto atrevimento. No século XVI, a possibilidade de ser "churrascado" é do conhecimento geral. E o nosso "descobridor" tinha particular repulsa pelo cheiro de carne humana queimada. Mesmo assim, conseguiu transmitir aos vindouros a sua descoberta, contribuindo para a emancipação da mulher. Não podemos esquecer que este século foi designado pelo "século das mulheres".
Afinal, onde está localizada a sede do amor? Numa extensão que vai desde o Amor Veneris ao coração, ou do coração ao Amor Veneris

1 comentário:

Massano Cardoso disse...

Não me esqueci do coração...