1. Alguns “media” ofereceram eco significativo a declarações interessantes, algo inovadoras mesmo embora incompletas, proferidas no último fim-de-semana pelo Candidato Manuel Alegre, no Porto.
2. Nessas declarações o referido Candidato escolheu dois alvos principais - o outro Candidato Cavaco Silva e a Chanceller alemã Ângela Merkel (por feliz coincidência também em Portugal, na mesma altura) acusando C. Silva de não acusar A. Merkel e os mercados em geral por, na sua opinião, serem os principais culpados das medidas de austeridade que o Governo, bem contra a sua vontade, coitado, se viu obrigado a adoptar em Portugal.
3. Segundo esta inovadora análise, as medidas de austeridade não seriam necessárias se os mercados financeiros tivessem uma postura quase selvagem e a Snra. Merkel não estivesse a “aplicar um garrote financeiro aos países de periferia, como Portugal”.
4. Realmente não se entende esta postura dos mercados (e o garrote da Snra. Merkel) em relação a um País (e um Governo, em especial) que tem sido um modelo de rigor financeiro, que sempre tem cumprido esrupulosamente as regras da disciplina financeira.
5. Sem prejuízo do carácter inovador das suas declarações, o Candidato Manuel Alegre omitiu dois outros aspectos importantes pelo menos, de que aqui nos cumpre dar a devida nota.
6. O primeiro, seria apontar o dedo aos outros convencionais culpados da nossa infeliz situação, nomeadamente os americanos que continuam a conspirar contra o Euro, com Nouriel Roubini à cabeça (mas sem Obama saber, disso o candidato está certo, acredito) e os especuladores de casino que têm escolhido Portugal como um dos seus alvos preferidos.
7. O segundo, seria aconselhar o Governo português para não ir atrás do jogo destes especuladores, suspendendo indefinidamente a emissão de dívida pública enquanto os especuladores não mudarem de atitude e a Snra. Merkel não for “metida na ordem” pelo Candidato C. Silva...
8. Uma vez que a culpa do que está a acontecer é sobretudo dos mercados e da Snra. Merkel – sem os quais as medidas de austeridade não seriam necessárias para coisa nenhuma - então o melhor antídoto contra a avidez de tais abutres será mesmo o Governo deixar de recorrer à emissão de dívida nos mercados.
9. Com efeito, esta ideia de recorrermos ao mercado, sem termos necessidade para tal - levando em conta a tese do Candidato em questão - assume todas as características de um exercício de auto-flagelação, que nenhum motivo sério justifica e muito menos recomenda...
10. Esperemos que em próxima intervenção o Candidato não volte a incorrer em tal omissão, e se lembre de ensinar ao Governo e ao Candidato C. Silva que em tempo de especulação desenfreada dos mercados da dívida o melhor que temos a fazer é mesmo viver das poupanças que temos vindo a acumular...
14 comentários:
Sim, olhar para o PR que me convenceu a ser monárquico e aquilo que lhe aponta é uma coisa da qual a culpa tem 20 anos... Será que o desprezo pela constituição que jurou defender não lhe parece motivo suficiente para não estar a inventar ataques?
Quando se chega ao dia em que aquele que é benfiquista, aficionado e poeta cantado pela Amália não nos "leva" é mesmo um dia triste.
Perdoai-lhe/s Senhor,
porque não sabe/em o que diz/em.
Poetas.
De outro tempo, outras trovas.
Aleluia.
BM
Como compreendo o seu lamento, caro Tonibler...de facto, com um leque de qualidades tão distintas como as que refere, o Candidato não tinha necessidade de "borrar a escrita" com aleivosias deste calibre...
Mas há dias mais felizes do que outros, pode ser que o Homem ainda assente!
Caro Bravomike,
Curioso o seu comentário, lembrando justamente uma passagem evangélica...
«José Miguel Júdice, da comissão de honra da candidatura de Cavaco, reflecte sobre o legado do fundador do PSD. O Presidente foi um dos "coveiros" do pensamento estratégico de Sá Carneiro
Ao longo dos últimos 30 anos, o pensamento político de Francisco Sá Carneiro desapareceu no PSD, apesar de as sucessivas lideranças invocarem constantemente o legado do fundador do partido. Mas terá sido nos governos de Cavaco Silva (1985/1995) que a mensagem política de Sá Carneiro foi completamente banida. Em 10 anos, assistiu-se à acentuada alteração da "matriz ideológica" do PSD, à "destruição do pensamento estratégico" do antigo primeiro-ministro da AD e à "mudança da natureza sociológica" do partido.
Um retrato muito pouco simpático de Cavaco Silva e do consulado cavaquista consta do livro O meu Sá Carneiro - Reflexões sobre o seu pensamento político (D. Quixote), do advogado José Miguel Júdice, que, à semelhança do que aconteceu nas últimas presidenciais, voltou a ser convidado para integrar a Comissão de Honra da recandidatura do Presidente da República. A obra chega às livrarias no fim-de-semana e será apresentada no dia 30, às 18h30, no El Corte Inglés, por Manuel Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica.
Cavaco Silva, que "entrou na cena política como o verdadeiro herdeiro" de Sá Carneiro, "procurando assumir o seu estilo frontal e sem cedências", acabou por transformar o PSD num partido "feito à sua imagem e semelhança: um partido tecnocrático, um catch all party, ou seja, um partido sem fronteiras, onde todos poderiam vir plantar a sua tenda, desde que aceitassem a liderança indiscutida do então primeiro-ministro, e assim ajudassem a conquistar votos e a manter suseranias".
O livro, que também reproduz excertos de uma conferência dada por Júdice em 1981, quando se filiou no PSD, serviu para o autor reflectir sobre "o que falhou" nas últimas três décadas. E as falhas, que provocaram a "destruição do edifício" que Sá Carneiro tinha começado a construir, não são notórias apenas nos governos de Cavaco, mas também no Bloco Central, na governação de António Guterres e de Durão Barroso.
Contudo, Júdice dedica grande parte do capítulo A herança desbaratada a Cavaco, notando que, a partir de 85, as mudanças no PSD aproximaram-no do PS e dissiparam o legado de Sá Carneiro. Ao ponto de o PSD, nos dias de hoje, se apresentar como um partido "feudalizado, com militantes criados aos milhares para as trocas políticas". "Cavaco Silva fez um partido de consumidores e abdicou da bipolarização", afirma Júdice ao PÚBLICO, qualificando ainda o Presidente como "um grande político, que não é ideólogo, e que olha para a sociedade civil com uma certa suspeição". Entre 85 e 95, com duas maiorias absolutas, o então primeiro-ministro "aumentou o peso do Estado e apresentou-se como um líder autoritário, não permitindo a libertação da sociedade civil, como Sá Carneiro sempre defendera".
Ou seja, "desperdiçou" 10 anos: "Teve poder e tinha dinheiro a rodos. Se o Estado tivesse emagrecido, se ele tivesse alterado a lei laboral e libertasse a sociedade civil, hoje estaríamos melhor." "Com Cavaco teria podido ser diferente", lê-se no final do livro. Não foi.»
Do Público de 25 de Novembro 2010
Caro Tavares Moreira
Que Alegre zurza em Cavaco, é normal. Que Alfredo Barroso o faça, também é normal. Mas, se não se prevenirem, ainda acabam na Comissão de honra do Sr. Silva!!!
Caro Fartíssimo do S & S,
Excelente apontamento esse...mas parece que nem com estas ajudas o Candidato M. A. lá vai...a vida não está mesmo nada fácil, meu Caro!
Não lhe parece que o dito Candidato deve passar a zurzir directamente Angela Merkel - além dos mercados, dos americanos (exceptuando Obama, claro) e as agências de rating - e não por interposta pessoa?...
Assim poderá ganhar bem maior notoriedade, afirmando uma linha de grande patriotismo que sempre o caracterizou e continuará a marcar!
Caro Tavares Moreira
Como deve ter visto, o "apontamento" não é meu. O que postei foi uma transcrição do jornal Público. Não sei verdadeiramente a que ajudas se refere no seu comentário!
Quanto ao facto de não zurzir directamente a Senhor Merkel: lá zurzir, zurze. Não faria muito sentido que o candidato Manuel Alegre interpelasse directamente a chancelerina alemã posto que não se encontra investido de uma função institucional. Contrariamente ao candidato Cavaco Silva, o qual, sendo candidato a um segundo mandato, é também o Presidente da República. E é ele próprio quem disse que, pelo facto de ser candidato, não deixará de actuar como Presidente da República...
Sabe bem, caro Tavares Moreira, (sem que eu retire uma vírgula ao que sempre tenho dito- o verdadeiro regabofe de gastos públicos dos nossos governantes),a posição da Senhora Merkel, na actual crise, está longe de ser isenta de críticas. Como bom leitor da imprensa internacional que é, terá já constatado que a posição de Alegre a respeito da Senhora Merkel não é uma originalidade do candidato. Ontem foi a Grécia, hoje é a Irlanda, amanhã será Portugal, a seguir a Espanha e depois a Itália. Temos sido mal governados? Com certeza que sim. Reconheço-o de bom grado. Mas a crise não é só nossa. É uma crise profunda da União. E se as coisas não se alterarem a partir da Alemanha, os países do sul estão condenados a deixar a zona Euro. Não vale a pena insistir nisto.
Acho pouco elegante a referência a Obama. Como pouco elegante será a referência que faz ao grande "patriotismo que sempre caracterizou Manuel Alegre".
No debate político deve haver sempre elevação. Tenho criticado aqui Cavaco Silva mas jamais o apouquei acerca do seu patriotismo, que tenho por indiscutível e adquirido!
O que lamento é que, entre Setembro e Novembro, Cavaco tenha subido nas sondagens da forma impressionante que se sabe. Não por méritos próprios do candidato Cavaco Silva, mas pelo MEDO que a situação económica e financeira do País acarretou ao povo português, que, assustado, é bem capaz de correr a votar Cavaco como se este fosse a última tábua de salvação. Bem gostaria eu que a subida nas sondagens se devesse à acção profícua do Presidente. Não é! Cavaco sobe quanto pior for a situação económica do País! Mal para o País e era suposto ser pouco reconfortante para Cavaco Silva.
Caro Fartíssimo dos SS,
Duas beves notas de esclarecimento pois percebo que levou alguns dos meus comentários para um plano de "acinte" que, para além de dever estar excluído desta troca de ideias tranquila e cordial, não tem, no caso em apreço, qq justificação plausível:
- A referência a Obama não é elegante nem deselegante, não tem que ser apreciada nesse âmbito...apenas me refiro habitualmentenestes termos aqueles que, cá no burgo, têm apontado o dedo aos americanos por estarem supostamente envolvidos numa conjura contra o Euro e, ao mesmo tempo, endeusam o Presidente Obama...
Só posso concluir, logicamente, que para esses analistas da tal conjura o Presidente Obama tem de ser considerado fora de tal trama, nem a conhece com certeza...
Ora diga-me lá meu Caro que deselegância há nisto?
- Quanto ao patriotismo do Candidato M. Alegre, não me diga que tem algum complexo nessa matéria...eu referi-me a esse patritismo com a maior simplicidade, sem complexos nem segundas intenções, não percebo francamente a sua preocupação...
Caro Tavares Moreira
Para lhe falar com franqueza, a emenda parece-me pior que o soneto.
Cumprimentos
Fartíssimo do Silva
Caro Fartíssimo,
Essa é manifestamente uma forma simples e despretensiosa de não ter que justificar, fundamentar ou rectificar as suas posições...felicito-o por isso!
Caro Tavares Moreira
Justifico todos os meus actos ou palavras. O que acho é que não devemos brincar com as palavras ou fazer dos outros tontos.
Claro que a referência a Obama foi menos elegante. E a referência à "linha de grande patriotismo de Alegre que sempre o caracterizou e continuará a marcar", seguida de um ponto de exclamação, diz tudo, caro Tavares Moreira. E ao perguntar-me " se eu tenho algum complexo nesta matéria..." mais claramente explicita o sentido "acintoso" do seu post.
Caro Fartíssimo dos SS,
"Claro que a referência a Obama foi menos elegante" e "a referência ao patriotismo de M. Alegre, com um ponto de exclamação, diz tudo", ou seja, foi acintosa...
Notável argumentação essa, que de forma axiomática, sem carecer de qualquer demonstração, dá por arrumado o assunto!
Começo a compreender melhor a sua fartança...espero entendo-lo bem melhor a partir de agora, meu Caro!
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